quinta-feira, 27 de agosto de 2015

TEMPOS MODERNOS E A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO


TEMPOS MODERNOS E A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO – A obra Tempos Modernos do cineasta, músico, ator, diretor e produtor britânico Charles Chaplin (1889-1977), foi criada com título inicial de As massas, em 1932, e lançada no Rivoli Theatre, de Nova Iorque, em 1936, retratando a sociedade norte-america no período pós-1929 quando se deu a Grande Depressão. No filme, o autor se apresenta como um operário que tem por função apertar parafusos numa linha de montagem. Pela intensa repetição, o personagem é acometido de um ataque de nervos que atrapalha todo o trabalho de produção na fábrica. O filme se inicia com a representação de um grande relógio em referência à máxima capitalista de que tempo é dinheiro. E a partir daí se desenrola toda a trama que se desenrola a partir da grande depressão de 1929.
Contextualizando a temática do filme a partir da crise de Wal Street, em 1929, que afetou a produção industrial norte-americana resultando na falência de mais de 130 mil estabelecimentos comerciais e mais de 10 mil instituições bancárias, levando um contingente considerável da população norte-americana à fome e ao desemprego. Com essa ocorrência, o governo destinou auxilio para industriais e banqueiros, sem se preocupar com a miséria da população. Com isso, houve uma radicalização na luta de classes, mobilizando trabalhadores que realizaram greves reivindicando os direitos e contra o desemprego. A crise se deu durante a vigência dos ideais Fordistas-Tayloristas. As ideias do empreendedor estadunidense Henry Ford (1863-1947), possibilitou a aplicação da montagem em série de forma a produzir em massa e em menos tempo por um custo menor. Esse modelo revolucionou a indústria, porém, proporcionou seqüelas desastrosas na psique humana, pelo cotidiano da repetição e o esforço do trabalho como um relógio que exige sistematicamente a repetição mecânica, cronometrada, continua, promovendo problemas neurológicos e psicológicos na classe trabalhadora. Por outro lado, também estava vigente as idéias do engenheiro mecânico estadunidense Frederick Taylor (1856-1915), considerado o pai da Administração Científica, propondo métodos científicos cartesianos para gestão das organizações empresariais, assentado na eficiência e eficácia, evitando desperdícios para elevar os níveis de produtividade na operacionalização da administração industrial. As suas idéias deixaram por herança a implantação dos estudos sobre "Tempos e Movimentos’, e conhecido como "Organização Racional do Trabalho", no sentido de que o operário deve seguir o ritmo da produção. Esse autor comparava o bom operário a um boi de carga. E seu método empregava a rotina massacrante da produção Assim sendo, esses ideais Fordistas-Tayloristas serviram de base para a manutenção da sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. A derrocada desse sistema se deu exatamente em 1929 com a grande depressão norte-americana. Para sair da crise provocada pelas frustrações econômicas do mercado e do desemprego generalizado, foi adotada a teoria do Keynesianismo criada pelo economista Jonh Maynard Keynes (1883 – 1946) que, por meio do fim do laissez faire, provando que a mão invisível do mercado liberal não obtivera êxito, propôs uma nova política social operacionalizada pelo Estado e que garantisse o pleno emprego, fazendo com que a produtividade aumentasse e, consequentemente, o consumo. Por essa razão, surge o Welfare State, ou seja, o Estado de Bem-Estar, onde defendia o incentivo estatal à produção promovendo a produção e o consumo para gerar um reaquecimento do crescimento econômico, estendendo os direitos sociais da cidadania por meio do pleno emprego. É nesse cenário que ocorre a trama de Tempos Modernos, como uma critica ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização adotado pelas idéias Fordistas-Tayloristas. O filme aborda o homem com relação ao Estado e o movimento das máquinas por meio de uma bem humorada critica à revolução industrial e como foco a mecanização do ser humano, uma visão geral do que era a vida dos menos afortunados na América do Norte dos anos da industrialização. A bestialidade humana é denunciada pela exposição de rebanhos e pessoas que são encaminhados para o abatedouro de uma fábrica, bem como o ritmo alucinante da sociedade industrial que é criticada pela falta de qualidade de vida, uma vez que a velocidade da máquina dita a vida humana. Satiriza a industrialização por meio de cenas do sofrimento vivido pela sociedade norte-americana no pós-crise de 1929, focalizando a vida urbana dos anos 1930. Trata da desumanização criticando a desorganização criada com o surgimento de novas tecnologias. Essas tecnologias se incorporavam cada vez mais ao processo produtivo, aumentando a dificuldade do trabalhador: ou ele especializava sua mão-de-obra ou se torna um verdadeiro parasita diante das evoluções tecnológicas.  É com isso que Chaplin traz à cena a fábrica com a aceleração da produção que causa crise psicomotora nos operários, protagonizado por ele. É a critica ao Fordismo-Taylorismo na cena em que o operário de tanto apertar parafusos com seus gestos mecanizados, o psicológico e o neurológico do operário é atingido, ele estafado é internado como louco, pois perde a noção e acaba molestando uma senhora achando que os botões de sua blusa são parafusos e tenta apertá-los. Ao sair do hospital, este encontra a empresa fechada. Sem ter o que fazer vai pra rua onde se envolve numa turba, resultando preso sob acusação de liderança comunista. Encarcerado, o melancólico personagem evita uma fuga de traficantes. Por isso, é solto pela polícia como forma de agradecimento. O filme prossegue trazendo alternações de emprego, prisão e romance vivido com uma moça, órfã de mãe e com o pai morto numa manifestação trabalhista, quando os dois se identificam e juntos sonham as delícias do capitalismo. Dá-se então a presença da polícia, o jovem casal foge e tudo recomeça satirizando a sociedade capitalista que explora o proletariado sob a ótica industrial-capitalista que criou um sistema para a produção repetitivo e mecânico que se encontra dentro de uma fábrica totalmente preocupada com a produção em massa, e na substituição dos operários por maquinas, para produzir mais e obter maiores lucros. Esse cenário mecânico sai das fábricas para ganhar a cidade provocando a correria diária, a poluição sonora, os congestionamentos, as multidões nas ruas, o desemprego, a fome, a miséria, entre outras enfermidades sociais. A máquina desumaniza o homem explorando a mão-de-obra, economizando tempo e dinheiro, desconsiderando a condição humana. Os que não servem mais para o trabalho vítimas do sistema estressante e alienante são levados para Instituições-Depósito, as áreas de descartes. E o processo se agiganta na sociedade capitalista que se apóia nos aparelhos ideológicos, para exploração da força de trabalho, para sustentação dos meios de produção, utilizando-se do Estado para manter seu poderio, a exemplo da repressão policial contra as greves. Trata-se de uma obra que marcou uma nova fase nas obras do cineasta e a que melhor expressa o sentimento humano de impotência, oprimido pelo sistema capitalista-industrial.

BIBLIOGRAFIA
CLARET, Martin (Coord.). O pensamento vivo de Chaplin. São Paulo: Martin Claret, 1986.
HUNT, E. K.; SHERMAN, J. S. História do pensamento econômico. Petrópolis: Vozes, 1978.

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