PSICOLOGIA
AMBIENTAL – A preocupação com a relação ser humano e ambiente é uma das pautas
que tem levado aos mais diversos debates em todo planeta. Isso devido ao aumento populacional e a intervenção humana no meio
ambiente por meio do uso dos recursos naturais, represamento dos rios, o uso da
água, o consumo de fertilizantes, a população urbana, o consumo de papel e a
quantidade de veículos a motor que atuam modificando a natureza que se encontra
diante de transformações como aquecimento global, desastres naturais, extinção
de espécies, destruição da camada de ozônio e das florestas tropicais, entre
outros graves acidentes.
Detecta-se,
portanto, uma crise ambiental que, segundo Santos (2005), Pinheiro (2005),
Wiesfeld (2005), Tassara e Rabinovich (2003), tem envolvido e levando à
mobilizações da sociedade na busca por uma conscientização ambiental que se
efetive de forma mais incidente sobre a preservação do meio ambiente.
Observam Moser (2005), Pinheiro (2003), Morval (2007) e Maior,
Zutira e Bezerra (2007), que o homem tem mantido a todo instante e desde as
mais remotas eras, uma interação com o ambiente que se delineia tanto
predatória quanto esgotadora dos recursos naturais, necessitando, em vista
disso, de uma ação que se revele educadora, conscientizadora e ativa pautada
tanto na preservação como na perspectiva sustentável.
No
Brasil, segundo Pinheiro (2003), o desenvolvimento da Psicologia Ambiental tem
se aprofundado desde 2001 com a criação da Rede de Psicologia Ambiental
Latino-Americana (REPALA), dando prosseguimento aos estudos iniciados pelo
Laboratório de Psicologia Ambiental (LPA), da Universidade de Brasília, desde
1993, articulando-se com outras iniciativas como a do Laboratório de Psicologia Sócio-Ambiental e Intervenção da USP (LAPSI) e
com a International Association People-Environment Studies (Associação
Internacional para Estudos Pessoa-Ambiente - IAPS).
Neste
sentido, a psicologia ambiental, Verdugo (2005), tem se
definido como uma área ou subdisciplina da ciência
psicológica mais geral, com seu objeto definido no estudo do comportamento e de seus correlatos, por meio de modos
pelos quais os aspectos social e físico do ambiente influenciam o comportamento
das pessoas e como as ações das pessoas, por sua vez, afetam os seus entornos.
Este envolvimento torna necessária a promoção de esforços interdisciplinares a
fim de abranger uma variedade diversa de dimensões (social, material)
influenciadas por ou afetando o comportamento. Dessa forma, a psicologia ambiental
emergiu como uma área aplicada da psicologia objetivando resolver problemas com
respeito às interações ambiente comportamento. por consequência, anota Santos (2015) que se trata de uma disciplina que tem como objetivo compreender a relação pessoa-ambiente.
Entendem
Alves, Sacramento e Higuchi (2004) que os
conhecimentos
da psicologia devem contribuir para que um processo de educação ambiental se efetive.
Tal processo deve se deter a novas práticas de uso do meio que propiciem novas
vivências e aprendizado, por meio de novas regras e valores tais como a
solidariedade, o respeito ao saber comum que se efetivem na trajetória humana
como singularidades expressas por sentimentos opostos que não se excluem, mas
se complementam.
Neste sentido,
observam Moser (1998b), Gunther e Rozestraten (2004), Freire
e Vieira (2006) e Pinheiro, Gunther e Guzzo (2004) que a psicologia é
identificada como uma ciência que possui o objeto de estudar o comportamento e,
por consequência, investigar por meio da psicologia ambiental o comportamento
humano e o ambiente.
Para tanto,
assinalam Pinheiro (1997), Moser (1998a), Elali (2003),
Di Castro (2005) e Carneiro e Bindé (1997), que essa modalidade de Psicologia
está voltada para o estudo do homem em seu contexto e suas interrelações com o
meio ambiente social e físico. O seu objetivo, conforme anotado por Higuchi
(2002), Rabinovich (2005) e Alves e Bassani
(2008), é o estudar e analisar as condições, formas e modos que se encontram
inseridos nas relações entre as ações humanas e o meio ambiente, observando a
mobilização dos comportamentos sociais causadores de impacto à saúde mental,
analisando as percepções e interpretações entre a saúde humana e o meio
ambiente. Esta ação, segundo Tassara e Rabinovich (2003), pode ser efetuada por
meio de intervenções interdisciplinares, tais como com a antropologia urbana, a
sociologia, a medicina, a biologia, o urbanismo, a engenharia florestal, o
paisagismo, a geografia, p desenho industrial, entre outras, e utilizando-se de
métodos plurais que envolvam desde a observação, a pesquisa participante ou pesquisa-ação,
pesquisa experimental, entre outros.
Wiesenfeld
(2005) e Morval (2007), chama a atenção que o campo de estudos da psicologia
ambiental está voltado para a possibilidade de se compreender as reações
individuais às condições ambientais, avaliando e percebendo os espaços físicos
e suas influencias na atuação e na interação entre as pessoas e a localidade, a
melhoria da conservação e edificação dos espaços e sua incidência individual,
familiar e social, envolvendo conceitos como dimensões temporais, espaço
pessoal, referencia ao passado e futuro da espécie, a história, ao direito ao
ambiente equilibrado, à informação e à educação ambiental, atuação essa
muldisciplinar com colaboração interdisciplinar devido a complexidade dos
problemas ambiental.
O
trabalho do psicólogo ambiental, segundo Pinheiro (1997), se dá por meio da percepção ambiental, do estudo do ambiente físico com sua dimensão
social e aspectos funcionais, enfoque da interrelação e interdependência
pessoa-ambiente numa visão bidirecional, entre outras ações que, segundo Santos
(2015), compreendam a interação do homem com seu ambiente para desenvolver
estratégias e ferramentas de aplicação e intervenção que contribuam para a
mudança dessa relação de forma mais consciente. A sua ação pode se dar em
conjunto com as áreas da educação, especificamente educação ambiental, com o
direito ambiental, psicologia do trânsito, entre outras, utilizando-se de
instrumental oriundo das atividades artísticas, a partir das visões de Vigotsky
(1999), no sentido de por meio do teatro, da música e da literatura, transmitir
princípios e normatizações constitucionais e da legislação ambiental, diretrizes
educacionais para construção de comportamentos ambientalmente responsáveis e sustentáveis.
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