domingo, 4 de janeiro de 2015

OS CHISTES E SUA RELAÇÃO COM O INCONSCIENTE, DE SIGMUND FREUD


[...] Os propósitos dos chistes podem facilmente ser passados em revista. Onde um chiste não tem objetivo em si mesmo - isto é, onde não é um chiste inocente - pode servir a apenas dois propósitos, que podem ser subsumidos sob um único rótulo. Ou será um chiste hostil (servindo ao propósito de agressividade, sátira ou defesa) ou um chiste obsceno (servindo ao propósito de desnudamento). Deve-se reiterar desde já que as espécies técnicas do chiste - verbal ou conceptual - não se relacionam com esses dois propósitos.
[...] os chistes executam a serviço de seu propósito. Tornam possível a satisfação de um instinto (seja libidinoso ou hostil) face a um obstáculo. Evitam esse obstáculo e assim extraem prazer de uma fonte que o obstáculo tornara inacessível. O obstáculo interferente nada mais é em realidade que a incapacidade da mulher em tolerar a sexualidade sem disfarces, incapacidade correspondentemente aumentada com a elevação do nível educacional e social.
[...] Chegamos agora ao fim de nossa tarefa, tendo reproduzido o mecanismo do humor a uma fórmula análoga àquelas referentes ao prazer cômico e aos chistes. O prazer nos chistes pareceu-nos proceder de uma economia na despesa com a inibição, o prazer no cômico de uma economia na despesa com a ideação (catexia) e o prazer no humor de uma economia na despesa com o sentimento. Em todos os três modos de trabalho do nosso aparato mental o prazer derivava de uma economia. Todos os três concordavam em representarem métodos de restabelecimento, a partir da atividade mental, de um prazer que se perdera no desenvolvimento daquela atividade. Pois a euforia que nos esforçamos por atingir através desses meios nada mais é que um estado de ânimo comum em uma época de nossa vida quando costumávamos operar nosso trabalho psíquico em geral com pequena despesa de energia - o estado de ânimo de nossa infância, quando ignorávamos o cômico, éramos incapazes de chistes e não necessitávamos do humor para sentir-nos felizes em nossas vidas.

OS CHISTES E SUA RELAÇÃO COM O INCONSCIENTE – O livro Os chistes e sua relação com o inconsciente, de Sigmund Freud, trata na parte analítica sobre os chistes e o cômico na literatura, a caricatura e o juízo lúdico, as similaridades dessemelhantes, contrastes de ideias, nonsense, desconcerto, esclarecimento, Kant, Heine, a brevidade e os eventos mentais. Na parte das técnicas dos chistes trata sobre a forma verbal dos chistes, Flaubert e Salmbô, a interpretação dos sonhos, duplo sentido e jogo de palavras, trocadilhos, deslocamento, o absurdo, o raciocínio falho, omissão e alusão, representação, exagero, analogias chistosas, entre outras. Na parte dos propósitos dos chistes, trata sobre os chistes verbais e conceptuais, substancia do pensamento e envoltório chistoso, Smut, a libido, os chistes cínicos. Na parte sintética trata sobre o mecanismo do prazer e a psicogênese dos chistes, as fontes do prazer, os chistes inocentes, a redescoberta do que é familiar e gratificante, o jogo do gracejo, a produção do prazer, Fechner, os motivos dos chistes, os chistes como processo social. Na parte teórica trata da relação dos chistes com os sonhos e o inconsciente, os chistes e as espécies do cômico, o cômico da sexualidade e da obscenidade, o deslocamento humorístico e um apêndice sobre os enigmas de Franz Brentano.

REFERÊNCIA
FREUD, Sigmund. Os chistes e sua relação com o inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

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