[...] Os propósitos dos chistes podem facilmente ser
passados em revista. Onde um chiste não tem objetivo em si mesmo - isto é, onde
não é um chiste inocente - pode servir a apenas dois propósitos, que podem ser
subsumidos sob um único rótulo. Ou será um chiste hostil (servindo ao propósito de agressividade, sátira ou
defesa) ou um chiste obsceno
(servindo ao propósito de desnudamento). Deve-se reiterar desde já que as
espécies técnicas do chiste - verbal ou conceptual - não se relacionam com
esses dois propósitos.
[...] os chistes
executam a serviço de seu propósito. Tornam possível a satisfação de um
instinto (seja libidinoso ou hostil) face a um obstáculo. Evitam esse obstáculo
e assim extraem prazer de uma fonte que o obstáculo tornara inacessível. O
obstáculo interferente nada mais é em realidade que a incapacidade da mulher em
tolerar a sexualidade sem disfarces, incapacidade correspondentemente aumentada
com a elevação do nível educacional e social.
[...] Chegamos agora
ao fim de nossa tarefa, tendo reproduzido o mecanismo do humor a uma fórmula
análoga àquelas referentes ao prazer cômico e aos chistes. O prazer nos chistes
pareceu-nos proceder de uma economia na despesa com a inibição, o prazer no
cômico de uma economia na despesa com a ideação (catexia) e o prazer no humor
de uma economia na despesa com o sentimento. Em todos os três modos de trabalho
do nosso aparato mental o prazer derivava de uma economia. Todos os três
concordavam em representarem métodos de restabelecimento, a partir da atividade
mental, de um prazer que se perdera no desenvolvimento daquela atividade. Pois
a euforia que nos esforçamos por atingir através desses meios nada mais é que
um estado de ânimo comum em uma época de nossa vida quando costumávamos operar
nosso trabalho psíquico em geral com pequena despesa de energia - o estado de
ânimo de nossa infância, quando ignorávamos o cômico, éramos incapazes de
chistes e não necessitávamos do humor para sentir-nos felizes em nossas vidas.
OS
CHISTES E SUA RELAÇÃO COM O INCONSCIENTE – O livro Os chistes e sua relação com o inconsciente, de Sigmund Freud,
trata na parte analítica sobre os chistes e o cômico na literatura, a caricatura
e o juízo lúdico, as similaridades dessemelhantes, contrastes de ideias,
nonsense, desconcerto, esclarecimento, Kant, Heine, a brevidade e os eventos
mentais. Na parte das técnicas dos chistes trata sobre a forma verbal dos
chistes, Flaubert e Salmbô, a interpretação dos sonhos, duplo sentido e jogo de
palavras, trocadilhos, deslocamento, o absurdo, o raciocínio falho, omissão e
alusão, representação, exagero, analogias chistosas, entre outras. Na parte dos
propósitos dos chistes, trata sobre os chistes verbais e conceptuais,
substancia do pensamento e envoltório chistoso, Smut, a libido, os chistes
cínicos. Na parte sintética trata sobre o mecanismo do prazer e a psicogênese dos
chistes, as fontes do prazer, os chistes inocentes, a redescoberta do que é
familiar e gratificante, o jogo do gracejo, a produção do prazer, Fechner, os
motivos dos chistes, os chistes como processo social. Na parte teórica trata da
relação dos chistes com os sonhos e o inconsciente, os chistes e as espécies do
cômico, o cômico da sexualidade e da obscenidade, o deslocamento humorístico e
um apêndice sobre os enigmas de Franz Brentano.
REFERÊNCIA
FREUD, Sigmund.
Os chistes e sua relação com o inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
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