[...] o homem só existe no espaço do
saber a partir do momento em que o mundo "clássico" da representação
desaba, por sua vez, sob o golpe de instâncias não representáveis e não
representativas. É o surgimento do obscuro, ou de uma dimensão de profundidade.
É preciso, primeiro, que a biologia nasça,
assim como a economia política
e a filologia: as condições de possibilidade do vivente são buscadas
na própria vida (Cuvier), as condições da troca e do lucro são buscadas na
profundidade do trabalho (Ricardo), a possibilidade do discurso e da gramática
é buscada na profundidade histórica das línguas, no sistema de flexões, série
de desinências e modificações do radical (Grimm, Bopp). "Quando,
abandonando o espaço da representação, os seres vivos se alojaram na profundidade
específica da vida, as riquezas, no impulso progressivo das formas de produção,
as palavras, no devir da linguagem", então a história natural dá lugar à
biologia, a teoria da moeda à economia política, a gramática geral à filologia.
Ao mesmo tempo, o homem se descobre de duas maneiras. Por um lado, como dominado pelo trabalho, pela vida, pela
linguagem; por conseguinte, como objeto de ciências positivas novas que deverão
colher modelo junto à biologia, à economia política ou à filologia. Por outro lado, como quem funda essa nova
positividade sobre a categoria de sua própria finitude: a metafísica do
infinito é substituída por uma analítica do finito que encontra na vida, no
trabalho e na linguagem suas estruturas "transcendentais". O homem
tem, portanto, um ser duplo. O que desabou foi a soberania do idêntico na
representação. O homem é atravessado por uma disparidade essencial, como por
uma alienação de direito,
separado dele mesmo pelas palavras, pelos trabalho, pelos desejos. E nesta
revolução que explode a representação, é o mesmo que deve se dizer do Diferente
e não mais a diferença se subordinar ao mesmo: a revolução de Nietzsche.
[...] Uma nova imagem do pensamento, uma nova concepção do que significa
pensar é hoje a tarefa da filosofia. É aí que ela pode mostrar sua capacidade
de mutações e de novos "espaços", capacidade não menor que a das
ciências ou das artes. À questão: o que acontece de novo em filosofia? os
livros de Foucault trazem por si mesmos uma resposta profunda, a mais viva e
também a mais convincente. Cremos que As
palavras e as coisas são um grande livro, um grande livro sobre novos
pensamentos.
A ILHA DESERTA – O livro A ilha deserta e outros
textos, do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), trata de temas como
as causas e razões das ilhas desertas, a lógica e existência de Jean Hyppolite,
instintos e instituições, a concepção da diferença em Bergson, Jean-Jacques Rousseau
precursor de Kafka, Céline e Ponge; a ideia de gênese, na estética de Kant, Raymond
Roussel ou o horror do vazio, ao criar a patafísica Jarry abriu caminho para a
fenomenologia, ele foi meu mestre, filosofia da série noire, Gilbet Simondon e
o individuo e sua gênese físico-biológica, a existência duvidosa do homem, o
método de dramatização, conclusões sobre a vontade de potência e o eterno
retorno, a gargalhada de Nietzsche, mística e masoquismo, filosofia, Espinosa e
o método gral de Martial Gueroult, falha e fogos locais, aquilo que os
prisioneiros esperam de nós, apreciação do livro de Lyotard, Hélène Cixous e a
escrita estroboscopica, quanto a você e o que são suas máquinas desejantes,
sobre as cartas de H. M., o frio e o quente, cinco proposições sobre a
psicanálise, faces e superfícies, prefácio ao livro L´après-mai dês faunes e uma arte de plantador.
REFERÊNCIA
DELEUZE,
Gilles. A ilha deserta e outros textos. São Paulo: Iluminuras, 2004.