domingo, 16 de fevereiro de 2014

HISTÓRIA DA PSICOLOGIA DE FIGUEIREDO E SANTI




PSICOLOGIA – O livro Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia, de Luis Claudio Figueiredo e Pedro Santi, trata de assuntos como a psicologia como ciência independente por meio de uma visão panorâmica e crítica, precondições socioculturais, a experncia da subjetividade privatizada, a constituição e desdobramentos da noção de subjetividade na Modernidade e sua crise, expressões filosóficas, sistema mercantil e individualização, ideologia liberal iluminista, romantismo e regime disciplinar, a crise da subjetividade privatizada ou a decepção necessária, a prática científica, a privacidade e diferença, o projeto de Wundt, de Titchener, a psicologia funcional, o comportamentalismo, projetos de psicologia e condições de produção, a Gestalt, o comportamentalismo diferenciado, o behavíorísmo radical de Skinner, a psicologia cognitivista de Píaget, a psicanálise freudiana, a profissão e cultura, as funções do psicólogo, entre outros importantes temas.


RESENHA* - A leitura da obra Psicologia uma (nova) introdução, de Luis Claudio M. Figueiredo e Pedro Luiz Ribeiro de Santi, possibilita a visualização do nascimento da psicologia na condição científica, ocorrido no séc. XIX, até a sua compleição como ciência independente, passando por aspectos atinentes às questões culturais e profissionais, ao realizar uma abordagem histórica articulada com os eventos e conduções adotadas pelo pensamento que permeou a Modernidade sob a ótica da experiência adquirida com a subjetividade privatizada. 
A primeira parte do trabalho os autores abordam criticamente por meio de uma visão panorâmica da eclosão da psicologia enquanto ciência independente, observando a necessidade de instituição de um objeto e método nos estudos na procura pela compreensão e entendimento comportamento humano.  
Na segunda parte os autores trouxeram as precondições socioculturais para o aparecimento da psicologia como ciência no séc. XIX, assentada na subjetividade privatizada com a percepção de que o ser humano havia adquirido a liberdade e a independência para pensar e se expressar com a consciência das diferenças entre si e o outro na sociedade, a capacidade de experimentação dos sentidos e a responsabilidade das escolhas assumindo a responsabilidade por seus próprios atos. Com isso, as tradições culturais, religiosas e sociais se perdem nas promessas não cumprindo, trazendo a obrigação humana de se dedicar à construção de referências, condições favoráveis para o surgimento da subjetividade privatizada que surge com o Renascimento e transcorre toda Era Moderna. 
Com o Renascimento, o homem sai do jugo do feudo, da Igreja e da barbárie, passando a buscar o controle da natureza com o nascimento da Ciência propriamente dita, a vigência do paradigma mecanicista, o Romantismo, a racionalização e o Empirismo que efetuaram uma forte mudança no comportamento humano, instaurando a dúvida e uma atitude crítica perante sua própria existência. São responsáveis por essas mudanças, os pensamentos indutivistas de Francis Bacon, a racionalização cartesiana de René Descartes, o Iluminismo de David Hume e o criticismo de Immanuel Kant. Fatos históricos permeiam esse momento, a exemplo das descobertas marítimas, instauração das primeiras democracias e Repúblicas, a Revolução Francesa com a adoção dos direitos humanos e a Revolução Industrial com a modernização das relações de comércio e trabalho. Tais conduções levaram a valorização do individualismo e da intimidade. Nesse contexto, surge o filósofo Nietzsche que por meio dos seus pensamentos efetua um resgate à cultura grega para explicar a Modernidade com o niilismo dos que perderam a fé e passaram a procurar a forma de como ser dono do seu próprio destino. É exatamente na subjetividade privatizada que a psicologia encontra a precondição para construir o projeto de identidade para se tornar uma área específica do conhecimento e uma ciência independente. Assim, na identificação da precondição cultural psicológica, a identificação da subjetividade privatizada traz a interpretação de que as crises sociais ocorridas no período provocando a quebra das tradições culturais fizeram com que o ser humano descobrisse sua liberdade, sua responsabilidade e suas próprias e originais sensações que, em razão desses acontecimentos, passaram a ser vistas como incomunicáveis. Com isso, o surgimento da Psicologia enquanto ciência no meio das crises da modernidade traz a compreensão acerca do ser humano com o controle científico e os projetos de previsão, buscando o entendimento humano diante dos acontecimentos. 
Na terceira parte os autores tratam acerca da prática científica elaborada pela psicologia, procedendo à emergência da busca pelo reconhecimento e controle tanto da subjetividade, como das diferenças individuais que se manifestavam a partir de então, tornando tais identificações seus propósitos e objeto de estudo. 
Esses projetos são focos da quarta parte da obra, onde os autores assinalam a fundação por Wundt na validação de suas experiências psicológicas, definindo o objeto utilizado por meio do método experimental, comparativo e introspectivo para análise dos fenômenos humanos e culturais. Relatam a condução adotada pelo estruturalismo de Titchener de redefinição do objeto psicológico, transformado pela experiência dependente do sujeito concebido como organismo que possui sistema nervoso, desconsiderando a experiência imediata ao defender a posição do paralelismo psicofísico com o reconhecimento de que os atos mentais são sincrônicos aos processos psicofisiológicos. Foi a iniciativa de Tictchener que definiu o Estruturalismo como primeira teoria psicológica. 
Em seguida surge o Funcionalismo, a partir de William James e Herbert Spencer, interessados no funcionamento mental para identificação das adaptações humanas ao ambiente, buscando o atingimento do aspecto consciente da orientação direcionada e objetiva. Dessa forma, o Funcionalismo adotou por objeto as operações e processos mentais por meio de uma diversidade de métodos, contrapondo-se à teoria estruturalista. 
Dá-se após o surgimento do Comportamentalismo que desconsidera os processos mentais, enfatizando a explicação do comportamento por meio de experiências observáveis, importando a forma de agir comportamental. Iniciado com John Watson, o comportamentalismo adotou um posicionamento mais radical com as experiências de Skinner que se preocupava com a descrição do comportamento. 
A seguir tem-se o surgimento da Gestalt preocupando-se com o todo e dispensando as partes, com a interpretação diferenciada do somatório dessas partes, ao descobrir os fenômenos e as estruturas da memória, da percepção, da afetividade e da solução de problemas. 
Outras visões surgem no campo psicológico, a exemplo das ideias de Piaget que efetuou a construção da psicologia cognitiva voltada para o desenvolvimento mental humano, abrangendo e adotando como objetos a memória, o pensamento e a percepção em seus estudos. Também surge a psicanálise freudiana defendeu o ser humano não pode apenas está limitado como um ser apenas racional, uma vez que demonstrou a existência de impulsos irracionais que exercem influência, introduzindo a noção de inconsciente na área psicológica. 
Na parte voltada para a profissionalização e a visão cultural da psicologia, definem os autores que quando a psicologia se fez como profissão, ligou-se às relações humanas nas áreas do trabalho e da educação, passando disso para ocupar tanto as escolas, como as clínicas e organizações empresariais. Já enquanto cultura, a psicologia tem conseguido alcançar popularidade adequando-se à coloquialidade. 
Enfim, os autores deixam claro nessa obra que a experiência da subjetividade privatizada, trouxe a percepção de que o ser humano é livre, diferente, capaz de experimentar sentimentos individuais na sociedade. Com essa percepção a outra face da moeda também se descortina com constatação de que o ser humano não é tão livre quanto se imagina e que as diferenças não passam de uma ilusão, com a certidão desse entendimento com a possibilidade de experienciar momentos críticos nas relações humanas, ou seja, a construção de referências internas ocorre com as perdas das referências coletivas. 
Por conclusão, observou-se que a obra tratou da busca psicológica pela autonomia e identidade como área de ciência independente, tornando-se um campo científico que permeia ainda uma diversidade de teorias que, apesar de serem vistas como antagônicas, percebe-se complementares pela complexidade de sua expansão, contudo possível de consolidação. 
Trata-se de obra importante para o conhecimento acerca da trajetória da ciência psicológica, o seu território de atuação e as suas relações com outras áreas do conhecimento. 

* Resenha apresentada à disciplina Teorias e Sistemas Psicológicos, ministradas pelo Professor Ms Everton Calado. 

REFERÊNCIAS
FIGUEIREDO, Luis Claudio; SANTI, Pedro. Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia. São Paulo: EDUC, 2008.

Veja mais Psicologia.



sábado, 15 de fevereiro de 2014

MOMENTOS DE REFLEXÃO – BRUNO, GALILEI, ORTEGA E GASSET, STUART MILL, LUKÁCS.


“[...] existe um campo infinito e um espaço continente que compreende e penetra tudo. Nele se encontram infinitos corpos semelhantes, não estando nenhum deles mais no centro do universo que os outros, porque o universo é infinito e, portanto, sem centro e sem margens”
(Giordano Bruno, Sobre o infinito, o universo e os mundos).

“Homens sábios e judiciosos, quando veem as várias formas e cores dos objetos não se satisfazem, como a multidão ignara, no mero prazer que a visão proporciona, mas apenas investigando por detrás a mútua propriedade e proporção destes atributos incidentais e, da mesma forma, suas propriedades e natureza”
(Vincenzo Galileu, Diálogo da música antiga e moderna)

 “Afirmam os sábios que é um grande mal ficar enganado, eu, pelo contrário, afirmo que não ficar é o pior de todos os males. É uma extravagância sem limites desejar que a felicidade do homem resida na realidade das coisas, quando esta ventura depende tão-somente da opinião que se tem dela [...] Os homens, finalmente, desejam ser iludidos e estão sempre dispostos a abandonar o verdadeiro pelo falso”.
(Erasmo de Roterdam, Elogio da loucura)

“A natureza humana não é máquina que se possa construir conforme um modelo qualquer, regulando-se para executar exatamente a tarefa que se lhe prescrever, mas uma árvore, que precisa crescer e desenvolver-se de todos os lados, de acordo com a tendência de forças interiores que o fazem um ser vivo”.
(Stuart Mill, Da liberdade).

“Felizes os tempos que podem ler no céu estrelado o mapa das vias que lhe são abertas e que eles devem percorrer. Felizes os tempos cujas vias estão iluminadas pela luz das estrelas. Para eles tudo é novo e, no entanto, familiar; tudo significa aventura e entretanto tudo lhes pertence. O mundo é vasto e nele, contudo, encontram-se à vontade, pois o fogo que arde nas almas é da mesma natureza do das estrelas. O mundo e o eu, a luz e o fogo distinguem-se nitidamente e, apesar disso, nunca se tornam definitivamente estranhos um ao outro, pois o fogo é a alma de toda luz e todo o fogo se reveste de luz. Assim, não há nenhum ato que não adquira plena significação e que não se complete nesta dualidade: perfeito em seu sentido e perfeito para os sentidos” 
(George Lukács, Teoria do Romance).