[...] necessitamos de paz. A paz e a liberdade são
uma necessidade absoluta, porque nada pode florescer, funcionar plena e
completamente, a não ser na paz, e a paz não é possível sem a liberdade. Há
milhões Há milhões de anos que vivemos em conflito, não só interiormente, mas
também exteriormente. Nos últimos cinco mil e quinhentos anos travaram-se
catorze mil e tantas guerras – quase três guerras em cada ano, durante a
histórica escrita do homem – e aceitamos tal maneira de viver, aceitamos a
guerra como norma da vida. Mas, nada pode funcionar ou florescer no ódio, na
confusão, no conflito. Como entes humanos, temos de encontrar uma diferente
maneira de viver – de viver neste mundo sem conflito interior. Então, esse
sentimento interior de paz poderá expressar-se, em ação, na sociedade. Cumpre,
portanto, a cada um averiguar por si próprio se, vivendo em relação com o
mundo, como ente humano, é capaz de encontrar aquela paz – não uma paz
imaginária, mítica ou mística, fantástica; se é capaz de viver sem nenhuma
espécie de conflito interior e de ser totalmente livre, não imaginaríamos
livre, num certo mundo místico, porém realmente livre, interiormente – pois
então esse estado se expressará exteriormente em todas as suas relações. Eis
as duas questões principais. Cumpre-nos descobrir se o homem – vós e eu – tem
possibilidade de viver e atuar neste mundo de maneira diferente, sem conflito
de espécie alguma, tornando-se, assim, capaz de criar uma estrutura social não
baseada na violência. Neste país pregou-se a não violência durante trinta,
quarenta anos, ou mais, e todos vós aceitastes esse ideal da não violência, e
incessantemente repetíveis essa frase. Durante milhares de anos vos disseram
que não deveis matar. De repente, da noite para o dia, tudo isso desapareceu.
Isto é um fato, e não uma opinião minha. E é bem estranhável que não hajam
aparecido indivíduos capazes de dizer: - Não quero matar – e dispostos a
enfrentar as consequências. Tudo isso – isto é, viver verbalmente, aceitar
facilmente ideais e com igual facilidade abandoná-los – denota uma mente sem
nenhuma seriedade, nenhuma gravidade, uma mente leviana e não uma mente
interessada a sério nos problemas mundiais.
VIAGEM POR UM MAR DESCONHECIDO – O livro Viagem por um mar desconhecido, do filósofo, escritor e
educador indiano, Jiddu Krishnamurti (1895-1986), aborda temas como psicologia,
conhecimento, meditação, liberdade, relações humanas, natureza da mente, a
mutação da mente, viver em nova dimensão, existência repetitiva, o tempo, a
energia e a inércia, silêncio criador, a relação entre imagens, viver em paz, o
campo da consciência, o medo, o conflito da dualidade, que é ação, inclinações,
temperamento, circunstâncias, peregrinação do homem, da insignificância do
viver, da energia, entre outros assuntos.
REFERÊNCIA
KRISHNAMURTI,
Jiddu. Por um mar desconhecido. São Paulo: Três, 1973.