[...] Com
a emergência da modernidade, a emoção torna-se de muitas maneiras uma questão
de política de vida. No reino da sexualidade, a emoção como um meio de
comunicação, e também de compromisso e de cooperação com os outros, é
especialmente importante. O modelo do amor confluente sugere uma estrutura
ética para a promoção de emoção não-destrutiva na conduta do indivíduo e da
vida comunitária. Proporciona a possibilidade de uma revitalização do erótico -
não como uma habilidade especial das mulheres impuras, mas como uma qualidade
genérica da sexualidade nas relações sociais formadas pela mutualidade, ao
invés do poder desigual. O erotismo é o cultivo do sentimento, expresso pela
sensação corporal, em um contexto comunicativo; uma arte de dar e receber
prazer. Despojado do poder diferencial, ele pode reviver aquelas qualidades
estéticas a que Marcuse se refere. Definido desse modo, o erótico permanece
oposto a todas as formas de instrumentalidade emocional nas relações sexuais. O
erotismo é a sexualidade reintegrada em uma ampla variedade de propósitos
emocionais, entre os quais o mais importante é a comunicação. Do ponto de vista
do realismo utópico, o erotismo é resgatado daquele triunfo da vontade que, de
Sade a Bataille, parece marcar a sua distinção. Interpretado, como já foi
observado, não como um diagnóstico, mas como uma crítica, o universo sadeano é
uma antiutopia que revela a possibilidade do seu oposto. No passado, a
sexualidade e a reprodução estruturavam uma à outra. Até se tornar
completamente socializada, a reprodução era externa à atividade social como um
fenômeno biológico; organizava o parentesco e também era organizada por ele,
além de conectar a vida do indivíduo à sucessão das gerações. Quando
diretamente ligada à reprodução, a sexualidade era um meio de transcendência. A
atividade sexual criava um vínculo com a finitude do indivíduo, e ao mesmo
tempo era a portadora da promessa de sua irrelevância; considerada em relação a
um ciclo de gerações, a vida individual era parte de uma ordem simbólica mais
abrangente. Para nós, a sexualidade ainda conduz um eco do transcendente. Mas
se é este o caso, com certeza ela está cercada de uma aura de nostalgia e
desilusão. Uma civilização sexualmente viciada é aquela em que a morte ficou
despojada de significado; a esta altura, a política de vida implica uma
renovação da espiritualidade. Deste ponto de vista, a sexualidade não é a antítese
de uma civilização dedicada ao crescimento econômico e ao controle técnico, mas
a incorporação do seu fracasso.
A TRANSFORMAÇÃO DA INTIMIDADE – O livro A transformação da
intimidade: sexualidade de amor & erotismo nas sociedades modernas, do
sociólogo inglês Anthony Giddens, trata a respeitro das experiências do
cotidiano, relacionamentos, sexualidade, Foucault e a sexualidade, o amor
romântico e outras ligações, o amor com compromisso e relacionamento puro, amor
e sexo e outras inclinações, o significado sociológico da codependencia,
distúrbios pessoais, problemas sexuais, contradições do relacionamento puro,
repressão, civilização e a intimidade como democracia.
REFERÊNCIA
GIDDENS,
Anthony. A transformação da identidade: sexualidade de amor & erotismo nas
sociedades modernas. São Paulo EDUEP, 1993.