domingo, 18 de janeiro de 2015

A TRANSFORMAÇÃO DA INTIMIDADE, DE ANTHONY GIDDENS



[...] Com a emergência da modernidade, a emoção torna-se de muitas maneiras uma questão de política de vida. No reino da sexualidade, a emoção como um meio de comunicação, e também de compromisso e de cooperação com os outros, é especialmente importante. O modelo do amor confluente sugere uma estrutura ética para a promoção de emoção não-destrutiva na conduta do indivíduo e da vida comunitária. Proporciona a possibilidade de uma revitalização do erótico - não como uma habilidade especial das mulheres impuras, mas como uma qualidade genérica da sexualidade nas relações sociais formadas pela mutualidade, ao invés do poder desigual. O erotismo é o cultivo do sentimento, expresso pela sensação corporal, em um contexto comunicativo; uma arte de dar e receber prazer. Despojado do poder diferencial, ele pode reviver aquelas qualidades estéticas a que Marcuse se refere. Definido desse modo, o erótico permanece oposto a todas as formas de instrumentalidade emocional nas relações sexuais. O erotismo é a sexualidade reintegrada em uma ampla variedade de propósitos emocionais, entre os quais o mais importante é a comunicação. Do ponto de vista do realismo utópico, o erotismo é resgatado daquele triunfo da vontade que, de Sade a Bataille, parece marcar a sua distinção. Interpretado, como já foi observado, não como um diagnóstico, mas como uma crítica, o universo sadeano é uma antiutopia que revela a possibilidade do seu oposto. No passado, a sexualidade e a reprodução estruturavam uma à outra. Até se tornar completamente socializada, a reprodução era externa à atividade social como um fenômeno biológico; organizava o parentesco e também era organizada por ele, além de conectar a vida do indivíduo à sucessão das gerações. Quando diretamente ligada à reprodução, a sexualidade era um meio de transcendência. A atividade sexual criava um vínculo com a finitude do indivíduo, e ao mesmo tempo era a portadora da promessa de sua irrelevância; considerada em relação a um ciclo de gerações, a vida individual era parte de uma ordem simbólica mais abrangente. Para nós, a sexualidade ainda conduz um eco do transcendente. Mas se é este o caso, com certeza ela está cercada de uma aura de nostalgia e desilusão. Uma civilização sexualmente viciada é aquela em que a morte ficou despojada de significado; a esta altura, a política de vida implica uma renovação da espiritualidade. Deste ponto de vista, a sexualidade não é a antítese de uma civilização dedicada ao crescimento econômico e ao controle técnico, mas a incorporação do seu fracasso.

A TRANSFORMAÇÃO DA INTIMIDADE – O livro A transformação da intimidade: sexualidade de amor & erotismo nas sociedades modernas, do sociólogo inglês Anthony Giddens, trata a respeitro das experiências do cotidiano, relacionamentos, sexualidade, Foucault e a sexualidade, o amor romântico e outras ligações, o amor com compromisso e relacionamento puro, amor e sexo e outras inclinações, o significado sociológico da codependencia, distúrbios pessoais, problemas sexuais, contradições do relacionamento puro, repressão, civilização e a intimidade como democracia.

REFERÊNCIA
GIDDENS, Anthony. A transformação da identidade: sexualidade de amor & erotismo nas sociedades modernas. São Paulo EDUEP, 1993.

Veja mais aqui e aqui.