sábado, 3 de janeiro de 2015

ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER, DE SIGMUND FREUD


[...] Os fatos que nos fizeram acreditar na dominância do princípio de prazer na vida mental encontram também expressão na hipótese de que o aparelho mental se esforça por manter a quantidade de excitação nele presente tão baixa quanto possível, ou, pelo menos, por mantê-la constante. Essa última hipótese constitui apenas outra maneira de enunciar o princípio de prazer, porque, se o trabalho do aparelho mental se dirige no sentido de manter baixa a quantidade de excitação, então qualquer coisa que seja calculada para aumentar essa quantidade está destinada a ser sentida como adversa ao funcionamento do aparelho, ou seja, como desagradável. O princípio de prazer decorre do princípio de constância; na realidade, esse último princípio foi inferido dos fatos que nos forçaram a adotar o princípio de prazer.
[...] Nossa consciência nos comunica sentimentos provindos de dentro que não são apenas de prazer e desprazer, mas também de uma tensão peculiar que, por sua vez, tanto pode ser agradável quanto desagradável. Permitir-nos-á a diferença entre esses sentimentos distinguir entre processos de energia vinculados e livres? Ou deve o sentimento de tensão ser relacionado à magnitude absoluta, ou talvez ao nível da catexia, ao passo que a série prazer e desprazer indica uma mudança na magnitude da catexia dentro de determinada unidade de tempo? Outro fato notável é que os instintos de vida têm muito mais contato com nossa percepção interna, surgindo como rompedores da paz e constantemente produzindo tensões cujo alívio é sentido como prazer, ao passo que os instintos de morte parecem efetuar seu trabalho discretamente. O princípio de prazer parece, na realidade, servir aos instintos de morte. É verdade que mantém guarda sobre os estímulos provindos de fora, que são encarados como perigos por ambos os tipos de instintos, mas se acha mais especialmente em guarda contra os aumentos de estimulação provindos de dentro, que tornariam mais difícil a tarefa de viver. Isso, por sua vez, levanta uma infinidade de outras questões, para as quais, no presente, não podemos encontrar resposta. Temos de ser pacientes e aguardar novos métodos e ocasiões de pesquisa. Devemos estar prontos, também, para abandonar um caminho que estivemos seguindo por certo tempo, se parecer que ele não leva a qualquer bom fim. Somente os crentes, que exigem que a ciência seja um substituto para o catecismo que abandonaram, culparão um investigador por desenvolver ou mesmo transformar suas concepções. Podemos confortar-nos também, pelos lentos avanços de nosso conhecimento científico, com as palavras do poeta:Was man nicht erfliegen kann, muss man erhinken. Die Schrift sagt, es ist keine Sünde zu hinken.

ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER – A obra Além do princípio do prazer, de Sigmund Freud, compreende além desse estudo outros trabalhos do autor. No trabalho propriamente dito são abordadas questões como o princípio do prazer, o princípio da realidade, Fechner, inibições e a família, o estudo dos sonhos, as diferentes teorias sobre a brincadeira das crianças, a interpretação do jogo, a resistência do ego consciente e inconsciente, a vida sexual infantil, transferência dos neuróticos, a consciência, o desprazer, a neurose traumática, os sonhos são realizações do desejo, as neuroses da guerra, instintos, instinto do ego e instintos sexuais, a teoria da libido, entre outros assuntos. Na parte que compreende a Psicologia de Grupo e Análise do ego, aborda temas como a descrição de Len Bom da mente grupal, outras descrições da vida mental coletiva, sugestão e libido, dois grupos artificiais: a igreja e o exército, outros problemas e linha de trabalho, identificação, estar amando e hipnose, o instinto gregário, o grupo e a honra primeva, uma gradação diferenciadora do ego e pós-escrito. Em seguida trata de temas como a psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher, psicanálise e telepatia, sonhos e telepatia, alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo, a psicanálise e a teoria da libido, breves escritos, uma nota sobre a pré-história da técnica da análise, associações de uma criança de quatro anos de idade, a cabeça de Medusa, entre outros temas.

REFERÊNCIA
FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

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