[...] Os fatos que nos fizeram acreditar na dominância do
princípio de prazer na vida mental encontram também expressão na hipótese de
que o aparelho mental se esforça por manter a quantidade de excitação nele
presente tão baixa quanto possível, ou, pelo menos, por mantê-la constante.
Essa última hipótese constitui apenas outra maneira de enunciar o princípio de
prazer, porque, se o trabalho do aparelho mental se dirige no sentido de manter
baixa a quantidade de excitação, então qualquer coisa que seja calculada para
aumentar essa quantidade está destinada a ser sentida como adversa ao
funcionamento do aparelho, ou seja, como desagradável. O princípio de prazer
decorre do princípio de constância; na realidade, esse último princípio foi
inferido dos fatos que nos forçaram a adotar o princípio de prazer.
[...] Nossa
consciência nos comunica sentimentos provindos de dentro que não são apenas de
prazer e desprazer, mas também de uma tensão peculiar que, por sua vez, tanto
pode ser agradável quanto desagradável. Permitir-nos-á a diferença entre esses
sentimentos distinguir entre processos de energia vinculados e livres? Ou deve
o sentimento de tensão ser relacionado à magnitude absoluta, ou talvez ao nível
da catexia, ao passo que a série prazer e desprazer indica uma mudança na
magnitude da catexia dentro de determinada unidade de tempo? Outro fato notável
é que os instintos de vida têm muito mais contato com nossa percepção interna,
surgindo como rompedores da paz e constantemente produzindo tensões cujo alívio
é sentido como prazer, ao passo que os instintos de morte parecem efetuar seu
trabalho discretamente. O princípio de prazer parece, na realidade, servir aos
instintos de morte. É verdade que mantém guarda sobre os estímulos provindos de
fora, que são encarados como perigos por ambos os tipos de instintos, mas se
acha mais especialmente em guarda contra os aumentos de estimulação provindos
de dentro, que tornariam mais difícil a tarefa de viver. Isso, por sua vez,
levanta uma infinidade de outras questões, para as quais, no presente, não
podemos encontrar resposta. Temos de ser pacientes e aguardar novos métodos e
ocasiões de pesquisa. Devemos estar prontos, também, para abandonar um caminho
que estivemos seguindo por certo tempo, se parecer que ele não leva a qualquer
bom fim. Somente os crentes, que exigem que a ciência seja um substituto para o
catecismo que abandonaram, culparão um investigador por desenvolver ou mesmo
transformar suas concepções. Podemos confortar-nos também, pelos lentos avanços
de nosso conhecimento científico, com as palavras do poeta:Was man nicht erfliegen kann, muss man
erhinken. Die Schrift sagt, es ist keine Sünde zu hinken.
ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER – A obra Além do princípio do prazer, de Sigmund
Freud, compreende além desse estudo outros trabalhos do autor. No trabalho
propriamente dito são abordadas questões como o princípio do prazer, o
princípio da realidade, Fechner, inibições e a família, o estudo dos sonhos, as
diferentes teorias sobre a brincadeira das crianças, a interpretação do jogo, a
resistência do ego consciente e inconsciente, a vida sexual infantil,
transferência dos neuróticos, a consciência, o desprazer, a neurose traumática,
os sonhos são realizações do desejo, as neuroses da guerra, instintos, instinto
do ego e instintos sexuais, a teoria da libido, entre outros assuntos. Na parte
que compreende a Psicologia de Grupo e Análise do ego, aborda temas como a
descrição de Len Bom da mente grupal, outras descrições da vida mental
coletiva, sugestão e libido, dois grupos artificiais: a igreja e o exército,
outros problemas e linha de trabalho, identificação, estar amando e hipnose, o
instinto gregário, o grupo e a honra primeva, uma gradação diferenciadora do
ego e pós-escrito. Em seguida trata de temas como a psicogênese de um caso de
homossexualismo numa mulher, psicanálise e telepatia, sonhos e telepatia, alguns
mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo, a psicanálise
e a teoria da libido, breves escritos, uma nota sobre a pré-história da técnica
da análise, associações de uma criança de quatro anos de idade, a cabeça de
Medusa, entre outros temas.
REFERÊNCIA
FREUD, Sigmund. Além do princípio do
prazer. Rio de Janeiro: Imago, 1976.