[...] Num desses debates confusos durante os quais um
grupo, o nosso, mostrou-se verdadeiramente em sua função de grupo, arrastado,
daqui, dali, por turbilhões cegos, um de meus alunos - peço-lhe desculpas por
ter depreciado seu esforço, que seguramente teria sido capaz de carregar um eco
e reconduzir a discussão a um nível analítico – achou por bem dever dizer que o
sentido do meu ensino seria que a verdade, sua verdadeira apreensão, é que não
a agarraremos jamais. lnacreditável contrassenso! No melhor dos casos, que
impaciência infantil! É preciso que eu tenha pessoas
consideradas cultas não sei por que entre aqueles que estão mais imediatamente
ao alcance de me seguir! Onde já se viu uma ciência, ainda que matemática, em
que cada capítulo não remeta ao capítulo seguinte? Seria isso justificar uma
função metonímica da verdade? Não vêem que, à medida que eu avançava,
continuava a me aproximar de certo ponto de densidade aonde vocês não poderiam
chegar sem os passos precedentes? Ouvindo uma réplica dessas, não dá vontade de
invocar os atributos da vaidade e da tolice, espécie de espírito em forma de
casca, que recolhemos em operação nos comitês de redação? Dessa práxis que é a
análise, tentei enunciar como a busco, como a agarro. Sua verdade é movediça, decepcionante,
escorregadia. Vocês não conseguem compreender que é porque a práxis da análise
deve avançar em direção a uma conquista da verdade pela via do engano? Pois a
transferência não é outra coisa, a transferência como o que não tem Nome no
lugar do Outro. Há muito tempo, o nome de Freud torna-se cada vez mais
inoperante. Então, se minha marcha é progressiva, se é até mesmo prudente, não
será porque devo lhes alertar contra o declive onde a análise arrisca-se sempre
a escorregar, quer dizer, a via da impostura? Não estou aqui num libelo a meu
favor. No entanto, devo dizer que, ao ter confiado a outros há dois anos o
manejo, no seio do grupo, de uma política - para preservar o espaço e a pureza
do que tenho a lhes dizer -, nunca, em momento algum, dei-lhes pretexto para
acreditar que para mim não havia diferença entre o sim e o não.
NOMES-DO-PAI – A obra Nomes-do-pai,
de Jacques Lacan, trata na primeira da parte a respeito do símbolo, o
imaginário e o real, O Homem dos Lobos e o Homem dos Ratos, a experiência
analítica, o simbolismo, a função da linguagem, o neurótico, Freud e o horror
do gozo ignorado, a fala e o imaginário, a angústia, a imaginação e a imagem.
Na segunda parte, Introdução aos nomes-do-pai, trata sobre Hegel, Marx,
Kierkegaard, Agostinho, o Aleph da angústia, Freud e o mito do pai e o
sacrifício de Isaac de Caravaggio.
REFERÊNCIA
LACAN, Jacques. Nomes-do-pai. Rio de Janeiro:
Zahar, 2005.
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