quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A PSICOTERAPIA DE ALAN WATTS


Sou um daqueles que acreditam que não seja uma virtude necessária do filosofo o passar a vida defendendo uma mesma posição. É certamente uma espécie de orgulho espiritual evitar pensar alto e não desejar que uma tese seja impressa até que se esteja em condições de defendê-la até a morte. A filosofia, como a ciência, é uma função social, pois um homem não pode pensar corretamente sozinho e o filósofo deve publicar seu pensamento, ainda que seja somente para aprender, através da crítica, a contribuir com uma parcela para a sabedoria. Se, portanto, algumas vezes faço afirmações autoritárias e dogmáticas, é com o propósito de contribuir para a clareza e não com o desejo de parecer um oráculo. (Alan Watts, Suprema Identidade).

A VIDA CONTEMPLATIVA – O livro A vida contemplativa: um estudo sobre a necessidade da religião mística, pelo guia espiritual da juventude moderna, do filósofo e escritor britânico Alan Wilson Watts (1915-1973), aborda temas como a época do espírito, a dádiva da união, a realização da união, a existência e o coração de Deus, a vida de ação, a vida contemplativa.

[...] O homem, queira ele ou não – ou melhor, a sua inteligência consciente -, deve, portanto, governar o mundo. Tal coisa constitui uma conclusão surpreendente para um ser que pouco sabe sobre si mesmo e até mesmo admite que ciências da inteligência, como a psicologia e a neurologia, não são mais que um estágio preliminar, superficial. Se nem mesmo sabemos como proceder para sermos conscientes e inteligentes, mais temerário seria admitir que sabemos qual a finalidade da inteligência consciente e muito mais ainda que a mesma tem condições de dirigir o mundo. [...] A natureza e o homem natural são ambos um objeto que é sempre estudado de acordo com uma técnica que os torna exteriores e, portanto, diferentes para um observador subjetivo. [...] Ao mesmo tempo, mesmo sob o ponto de vista intelectual mais frio, torna-se cada vez mais claro que não vivemos em um mundo dividido. As rígidas divisões entre espírito e natureza, mente e corpo, sujeito e objeto e controlador e controlado são vistas, mais e mais, como inadequadas convenções de linguagem. São termos grosseiros e ilusórios de descrição de um mundo em que todos os eventos parecem ser mutuamente interdependentes – um complexo imenso de relações sutilmente equilibradas que, como um nó sem fim, não tem uma ponta que permita desfazê-lo a fim de colocá-lo em suposta ordem. [...] Premissas defeituosas somente podem ser abandonadas por aqueles que vão às raízes de seu próprio pensamento e conseguem descobrir o que realmente são. (Alan Watts, O homem, a mulher e a natureza).

O HOMEM, A MULHER E A NATUREZA – O livro O homem, a mulher e a natureza, de Alan Watts, trata de temas como o homem e a natureza, Urbanismo e Paganismo, a ciência e a natureza, a arte do sentimento, o mundo como êxtase, o mundo sem sentido, o homem e a mulher, espiritualidade e sexualidade, amor sagrado e profano, consumação, entre outros temas.

[...] os Estados totalitários sabem o perigo do artista. Corretamente – se bem que por motivos errados – eles sabem que toda a arte é propaganda, e que arte que não apoia o sistema deve ser contra ele. Eles sabem intuitivamente que o artista não é um excêntrico inofensivo, mas uma pessoa que sob o disfarce de irrelevância cria e revela uma nova realidade. [...] Da mesma forma não se ouve um som. O som é o ouvir; fora disso, fica sendo simplesmente uma vibração no ar. Os estados do sistema nervoso não precisam, como supomos, ser vigiados por alguma coisa mais, por um homenzinho situado dentro da cabeça e que os registra. Não precisaria esse homenzinho de ter outro sistema nervoso, e outro homenzinho na cabeça [...] A sociedade está convencendo o indivíduo a fazer o que ela quer mediante o recurso de fazê-lo crer que as ordens dela são ordens do ser interior do indivíduo. [...] A ciência e a psicoterapia já fizeram muito também para nos libertar da prisão que nos isolava da natureza, prisão na qual tínhamos de renunciar a Eros, desprezar o organismo físico e depositar todas as nossas esperanças em um mundo sobrenatural – que viria depois. [...] Sempre que o terapeuta se coloca ao lado da sociedade, ele interpreta o seu trabalho como sendo ajustar o indivíduo e encaminhar os seus “impulsos inconscientes” para a respeitabilidade social. Mas essa “psicoterapia oficial” carece de integridade e se transforma em instrumento obediente de exércitos, burocracias, igrejas, empresas e de toda instituição que exija lavagem cerebral dos indivíduos. Por outro lado, o terapeuta interessado em ajudar o indivíduo é forçado à crítica social. Isso não quer dizer que ele tenha de se empenhar diretamente em revolução política; significa que ele tem de ajudar o indivíduo a se libertar de várias formas de condicionamento social, libertá-lo inclusive do ódio contra esse condicionamento – pois odiar é uma forma de se escravizar ao objeto odiado. [...] (Alan Watts, Psicoterapia oriental e ocidental).

O BUDISMO ZEN –O livro O budismo zen, de Alan Wats, aborda temas como a filosofia do Tao, as origens de Budismo, Budismo Mahayana, origem e desenvolvimento do Zen, princípios e práticas, vazio e maravilhoso, sentado tranquilamente nada fazendo, Za-Zen e Koan, o Zen das artes, entre outros assuntos.

Tal como o verdadeiro humor é rir de si mesmo, a verdadeira humanidade é o conhecimento de si mesmo. As outras criaturas talvez também amem e riam, falem e pensem, mas a peculiaridade especial dos seres humanos parece ser seu raciocínio: pensam sobre o pensamento e sabem que sabem. [...] A consciência de si mesmo conduz à admiração e a admiração à curiosidade e à investigação, de maneira que nada interessa mais às pessoas do que as pessoas, mesmo que seja apenas a própria pessoa de cada um. Todos os indivíduos inteligentes desejam saber o que é que os faz funcionar e, apesar disso, sentem-se fascinados e frustrados pelo fato de que seu próprio ser é o que existe de mais difícil para conhecer. [...] Aqueles a quem somos tentados a chamar de estúpidos ou chatos são, justamente, os que nada encontram de fascinante em serem humanos; sua humanidade é incompleta, já que nunca os surpreendeu. Também há algo de incompleto naqueles que nada encontram de fascinante em ser. O leitor poderá dizer que isto é um preconceito profissional de filósofo – que as pessoas são defeituosas por não terem o sentido do metafísico. Mas qualquer pessoa que pense tem de ser um filósofo – bom ou ruim – pois é impossível pensar sem premissas, sem suposições básicas (e, neste sentido, metafísicas) sobre o que é sensato, o que é a vida adequada, o que é a beleza e o que é o prazer. Ter tais suposições, consciente ou inconscientemente, é filosofar. (Alan Watts, Tabu – o que não deixa saber quem você é?)

REFERÊNCIA
WATTS, Allan. O homem, a mulher e a natureza. Rio de Janeiro: Record, 1958.
______. A vida contemplativa: um estudo sobre a necessidade da relição mística, pelo guia espiritual da juventude moderna. Rio de Janeiro: Record, 1971.
______. O budismo zen. Lisboa: Presença, 1979.
______. Tabu – O que não o deixa saber quem você é? São Paulo: Três, 1973.
______. Psicoterapia Oriental & Ocidental. Rio de Janeiro: Record, 1961.

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