PEDAGOGIA DA AUTONOMIA DE PAULO FREIRE –
A obra em estudo é a última de autoria do professor Honoris Causa de 27 universidades no mundo e filosofo educacional pernambucano
Paulo Freire (1921-1997), autor da Pedagogia do Oprimido e docente da
Universidade de Harvard, em 1969, tendo sido Consultor Especial do
Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra, na Suíça,
dando consultoria educacional para vários governos do Terceiro Mundo,
principalmente na África, chegando a lecionar na Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP, e na Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, até
tornar-se em 1989, Secretário de Educação no Município de São Paulo.
O livro “Pedagogia da
Autonomia” apresenta uma abordagem analítica sob o manto dialético, acerca da
prática e do cotidiano do professor dentro da sala de aula e sua participação
dentro e fora das paredes do recinto, envolvendo desde a educação fundamental
até a pós-graduação. Traz a visão de toda concepção freireana acerca dos
saberes que são indispensáveis à pratica educativa no contexto da antropologia
da educação, delineada em três partes que são ao mesmo tempo distintas e
complementares, onde, na primeiro capitulo, o autor traz a temática de que “Não
há docência sem discência”.
Neste primeiro capítulo, assinala o
autor que ensinar exige rigorisidade metódia, pesquisa, respeito aos saberes
dos educandos, criticidade, estética e ética, corporeificação das palavras pelo
exemplo, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação,
reflexão critica sobre a pratica e o reconhecimento e a assunção da identidade
cultural.
É nesta exposição que o autor expõe a
idéia do aprender ensinando e ensinar aprendendo, ao contrário da educação
bancária de depósito de conteúdos no recipiente passivo que é a competência dos
educandos, observando ser a pratica ensinar/aprendendo e aprender/ensinando uma
pratica constante e verdade no processo educacional, em razão de que o ato de
ensinar exige o aprender e a apreensão dos novos caminhos do saber.
Por esta razão, é evidente que o
professor na prática do ensinar deva antecipadamente ter o conhecimento
necessário para administração da transferência de conteúdos numa modelagem
ativa, dialógica e participativa, sem utilização daquele formato antiquado da
aula expositiva, dogmática e unidericional.
Na pratica pedagógica proposta por
Paulo Freire o debate é fundamental e que o professor traga os conhecimentos introdutórios
do que deve ser apresentado para abrir e dar direção e organicidade ao processo
de ensino, uma vez que este deve respeitar os saberes já contidos na
personalidade do educando que foram construídos no cotidiano de suas
experiências.
Por esta razão, o ato de ensinar traz
uma serie de exigências éticas de criticidade, competência profissional,
liberdade para a compreensão da educação uma forma de intervir no mundo com
diálogo, esperança, generosidade, coerência, sensatez, tolerância, comprometimento,
entre outras atitudes necessárias para a solidária participação na formação de
todos.
No segundo capítulo ele traz que
“Ensinar não é transferir conhecimento”, tratando acerca das indagações que
devem ser propostas pelo professor para aguçar a curiosidade e o senso critico
dos seus alunos, possibilitando a eles a descobertas de novos conhecimentos de
forma criativa e inovadora, que sejam capazes de transformar a realidade ao
redor. Tudo isso tendo por base que o professor nunca deve se expressar como o
dono absoluto da verdade, mas que seu ponto de vista sirva de ponto de partida
para novas indagações, críticas, reflexões e debates compartilhados entre todos
os presentes na sala de aula.
Por esta razão, Paulo Freire chama
atenção para o fato de ensinar exige, entre outras coisas, um respeito
verdadeiro à autonomia do ser educando, levando em consideração seus
conhecimentos já adquiridos e não devem ser submetidos ao preconceito ou
qualquer discriminação. Exatamente por isso o autor defende que ensinar exige
bom senso, no sentido de se avaliar todos os contextos, condições sociais e
culturais onde o aluno se encontra imerso, destacando nesta ótica os
acontecimentos locais e toda a realidade do educando, visando proporcionar uma
avaliação criteriosa do que é na verdade para ser ensinado e aprendido.
Daí todas as exigências apresentadas
por Paulo Freire para que o ato de ensinar seja dialogicamente uma descoberta,
porque ensinar não é transferir conhecimentos, é participar da formação e
contribuir para a evolução do debate, dos estudos e do desenvolvimento humano.
No terceiro e último capítulo ele
aborda a questão de que “Ensinar é uma especificidade humana”, trazendo um novo
elenco de exigências para o ato de ensinar, entre elas a de segurança e domínio
sobre o que faz para agir democraticamente, respeitando as diferenças e os
diferentes pontos de vista dos alunos, além da já mencionada competência
profissional com a generosidade de quem partilha seus conhecimentos e
compartilha dos debates e discussões com o intuito de evoluir de forma
libertária para defender as transformações necessárias, os direitos subjugados
e a autonomia necessária para o exercício da cidadania.
Com isso, observa-se que o elenco de
exigências arroladas por Paulo Freire no livro estudado, faz referência ao que
deve ser feito para que o professor, na sua pratica diária, desenvolva visando
uma educação plena e uma pedagogia conseqüente. Este elenco que passa pela
competência profissional, pela reflexão constante acerca da prática pedagógica
desenvolvida, pelo respeito ao outro e seus saberes no reconhecimento a
identidade cultural, pela constância dialógica dos conteúdos com propostas a
debates e discussões visando o desenvolvimento da formação dos seres,
manifestando sempre a alegria e a esperança na liberdade e na consciência do
inacabado, proporcionando a curiosidade e a busca constante por novos
conhecimentos, atuando democraticamente e rejeitando toda e qualquer forma de
preconceito e discriminação, entre tantas outras atitudinais posturas
emancipatórias e colaborativas que são pautadas na solidariedade humana.
A perspectiva geral do autor, está
quando ele (FREIRE, 1996, p.94-96) entende que a Pedagogia da Autonomia “[...] deve estar centrada em experiências
estimuladoras da decisão, da responsabilidade, ou seja, em experiências
respeitosas da liberdade”. Isto porque o educador é um ser político sujeito às
emoções e, por isso, deve apontar inúmeros caminhos para que o debate entre ele
e os alunos possam buscar consensos na construção da autonomia.
Em toda obra visualiza-se que o autor questiona
freqüente e veementemente sobre a eficácia do processo educacional, sobre o que
é ser um educador progressista e ainda sobre o sentido epistemológico do que se
pode chamar de formação de classes populares enquanto pensamento
crítico-autônomo.
Com estes questionamentos efetuados
sobe a metodologia dialética, traz, então, o processo libertário da pratica
educacional pautadas em saberes progressistas que instiguem à curiosidade dos
educandos, levando-os à pesquisa, ao debate e à busca constante por novos
conhecimentos, na obtenção básica do experimento democrático e do exercício da
cidadania, no respeito, na participação, na solidariedade.
Finalmente, observa-se tratar de uma
obra que se caracteriza como inovadora pelo rigor metodológico com que se
apresenta, trazendo uma ética pedagógica pautada na criticidade, no bom senso,
pesquisa, esperança, humildade, risco, tolerância e de outras importantes
sensações e comportamentos que devem incentivar e embasar a pratica pedagógica
doravante.
REFERÊNCIA:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia,
saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e terra, 1996.
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