segunda-feira, 17 de março de 2014

A REPÚBLICA DE PLATÃO


A REPÚBLICA DE PLATÃO - A República é uma obra que tem a autoria atribuída ao filosofo e matemático grego Platão (428/427 Atenas – 349/347 a.C.), que viveu durante o período clássico da antiga Grécia. O filósofo era discípulo do também filósofo grego Sócrates e mestre de Aristóteles, sendo autor de várias outras obras em diálogos abordando questões acerca da política, da ética, da teoria do conhecimento e da metafísica, sendo ele o fundador da Academia de Atenas.
Como autor de obras sofisticadas e baseadas nos diálogos socráticos, ele construiu seu pensamento em cerca de trinta e cinco diálogos e treze cartas que foram publicadas em diversas épocas, entre elas A República. Esta obra expõe ideais políticos, jurídicos e morais, sendo, por isso, uma das mais importantes obras filosóficas de Platão, sendo composta de dez livros enfatizando o discurso dialético sobre a expressão do filosofo grego Sócrates. Esses dez livros são recheados de conceitos e definições elaborados a partir de argumentos que pudessem convencer e mudar opiniões de cada cidadão, demonstrando exemplos práticos e imaginários e que são preocupadas em traduzir o conhecimento das verdades essenciais e com o objetivo de se chegar à realidade do mundo social. Cada um dos livros expõe o teor ideológico contido em seus escritos, comentando e analisando as diversas situações apresentadas na obra.
No primeiro livro de A República, dá-se o inicio da discussão dialética realizada entre Sócrates e Cefálo. É nesta parte que se começa a abordagem acerca da velhice, quando Céfalo já se achando sem condições de ir ao encontro de Sócrates, ressalta que já está velho, quando o filósofo passa a expor que a velhice é uma fonte de sabedoria e não como uma forma de se abster do prazer da juventude, isto porque, para Sócrates a velhice leva à sensatez e a experiência que o tempo trás, melhorando assim a vida.
No segundo livro é abordada a questão da injustiça com discussões que giram em torno de leis e normas, analisadas pela legislação editada pelo Estado, observando-se se estas evitam o beneficio e malefícios das injustiças para uns e para outros, sob a observação inquiridora de que somente com aplicação das normas e das leis se é capaz de afetar os benefícios e vantagens auferidas por alguns quando há injustiças, em razão dos prejuízos causados a outros. No entendimento de Sócrates, o lema da injustiça é parecer ser justo, sem na verdade o ser, demonstrando algo que na verdade, não ocorre fazendo com que se imagine que a realidade, não tenha uma lógica natural, podendo ocorrer coisas na vida que não são programas, não são coerentes, uma vez que as pessoas que praticam a bondade e a justiça podem ser vítimas de injustiças, claro que isso ocorre naturalmente.
No terceiro livro, Sócrates explica os motivos que podem determinar a evolução da consciência da cada pessoa, fazendo uma ligação da consciência com a justiça, em razão dela não estar presente na natureza do ser humano, mas porque alguns não a desenvolvem, razão pela qual ele defende que a consciência humana livre e justa nasce com cada individuo, porém dado a alguns fatores pode não vir a surgir o que dá origem aos homens injustos. Para que isso não ocorra é necessário que a educação do ser humano seja baseada em princípios éticos e morais, e que visem o aprimoramento dessa virtude humana. Caso isso não ocorra, o ser tende a ficar aprisionado pelo vício da injustiça, que acompanhará desde a juventude até sua velhice, e consequentemente morte.
No quarto livro, Sócrates mantém a abordagem acerca do currículo educacional, quando os seus interlocutores acreditam estarem aptos a definir a justiça, sob a ítuca das virtudes cardinais que são a sabedoria – a virtude dos governantes que dirigem o Estado através da razão; a coragem como a virtude dos soldados e a temperança, a virtude de governantes e governados, que permite a harmonia. É a partir destas definições encontradas que se revela o fundamento da cidade criada, sob a ótica socrática de que para que ela fosse perfeita e feliz, cada um dos seus cidadãos deve fazer o que lhe é de dever, ou seja, cumprir com suas obrigações relacionadas com a função social que deve exercer e percebem que aí está a justiça no Estado. Com esta aplicação dada pelo individuo, Platão faz a demonstração de que na cidade justa, cada classe - governante, soldados e trabalhadores- faz seu papel e não interfere na dos outros e que naquele deveria ocorrer da mesma forma os componentes da mente que representam os mesmos princípios que regem a organização das classes sociais. Neste sentido, para Platão a justiça será o adequado funcionamento destes componentes, só que dependendo da classe social.
No quinto livro, o filosofo platônico faz um delineamento da comunidade, observando a propriedade privada que nele este tipo de propriedade só é apenas permitida se regulamentada pelo Estado para a classe produtora, com o objetivo principal de afastar seus cidadãos dos vícios, evitando a corrosão do espírito já educado e manter a unidade do Estado, inibindo a guerra civil e sedições. Este regime refletido por Platão é baseado na razão e, segundo ele, feito em razão dos homens se afastarem do apetite, priorizando o bem-estar geral e não a auto-satisfação. Este, portanto, engloba as mulheres como participantes da educação e de algumas ocupações masculinas. No pensamento platônico a família é considerada um entrave ao desenvolvimento da razão, já que desperta instintos egoístas e por isso se estende às mulheres e aos filhos, tornando-os comuns a todos os homens. O casamento, no regime platônico, é considerado temporário e com o objetivo maior de conceber filhos perfeitos. Estes são retirados da mãe e entregues ao Estado, que lhe proveria educação.
No sexto livro, o filosofo platônico aborda o governo do rei-filósofo, que é a monarquia ou aristocracia, um governo absoluto, que se aproxima da tirania que é, para ele, uma doutrina perigosa e paradoxal. Neste sentido, entende Platão a expressão da idéia de que apenas os filósofos são os únicos capazes de administrar a cidade, dando atenção as virtudes, naturezas e características destes e reafirmando sua exposição no capítulo anterior, destacando a distinção entre philosopho - o que se interessa pela ciência - e philodoxos - os que se interessam pela opinião.
No sétimo livro, Platão traz a ideia básica da importância da educação, mencionando que a educação ou a falta dela, produz ignorância ou a conquista da sabedoria. É nesta parte que ele traz o mito da caverna, onde mostra a diferença entre o mundo sensível e o mundo das ideias. Nesta parte do livro, o filósofo afirma que a alma humana, que havia vindo do mundo das ideias, trazia com ela as ideias perfeitas desse mundo, mas, quando esta vinha para o Mundo dos Sentidos, ela se esquecia de todo o conhecimento que havia conseguido naquele outro mundo. Mas, para ele, na forma de um processo extraordinário, conforme as pessoas iam entrando em contato com as coisas da natureza, sua alma ia se relembrando das idéias perfeitas das respectivas coisas que um dia conheceu, o que lhe despertava um "desejo amoroso" de retornar a sua morada, de retornar ao Mundo das coisas perfeitas. É neste tocante que Platão enfatiza que é exatamente isso que acontece com a alma dos filósofos que, após se relembrar de algumas ideias perfeitas, se apaixona pelo saber, fazendo com que o filósofo dê asas à sua alma, para assim voar em busca do conhecimento, no anseio da alma de voltar a sua morada. Este pensamento ilustra a ideia de que a educação é o resultado da inclinação do olho interno em direção da luz, o que deve ser orientado pelo mestre ou professor, isso dentro de um programa de estudos.
No oitavo livro, Platão utiliza a dialética para tentar demonstrar as formas de governo, dentre as quais já se deparou durante a sua existência na Grécia Antiga, a saber: Timocracia, Oligarquia, Democracia e Tirania que são formas de governo narrados comumente cada uma delas e destacando como é sua aplicabilidade dentre as cidades, e quais os seus principais problemas. Aqui o discurso apesar de dialético, vem trazer não tão explicitamente a ideia sobre a Justiça, mas na verdade sobre o que seria a política e as formas como ela pode ser feita.
No nono livro, a obra faz referência às formas de governo estabelecidas pelas cidades e possivelmente já analisadas no item anterior, ou seja, como será regido cada povo e as respectivas almas características a cada um e compara a vida do homem justo e a do homem injusto, baseado justamente no que tange essa forma de governo. Segundo Platão, um homem se torna tirano, quando por sua natureza ou hábito, ou por ambos, acaba se entregando as paixões e vícios que norteia não apenas a vida, mas o pensamento que o cerca. O que ressalta uma ideia já observa nos livros anteriores desta obra de que o tirano, na verdade, não possuem virtudes apenas interesses, sendo que desta forma jamais poderia ser chamado de filosofo. Sendo assim, toda a argumentação desenvolvida nesta parte da obra não visa senão demonstrar que não há nada mais infeliz do que a tirania e nada mais feliz do que a realeza.
No livro décimo, Platão desenvolve a justificativa de a poesia ser banida da cidade e que o relato mítico deve ser razoavelmente esperançoso, do que acontece com a alma após a morte do indivíduo. Nesta parte ele discute a poesia como forma de educar as crianças, maneira muito comum entre os gregos de transmitir conhecimento, de educar e formar os futuros cidadãos. È nesta parte do livro que ele ressalta a arte como imitação da verdade, não se devendo aceitar a arte sem o devido questionamento ou indagação a respeito do que ocorre então, recaindo na necessidade de indagações a respeito da poesia imitativa ou mimética. Neste tocante entende o filosofo grego que preocupa-se em mostrar por que a poesia não dever mais ser executada, nem ouvida, ao que parece, por ninguém dessa cidade justa, objetivando, com isso, esclarecer qual a natureza da mimese que é a base da poesia imitativa, o demonstrar que os poetas não têm conhecimentos verdadeiros sobre os assuntos de que parecem falar tão bem e iludindo a inteligência dos espectadores através do encanto da poesia, e, por fim, o de associar a poesia a pior parte da alma em detrimento da parte mais sábia e racional que deveria governar as demais.
Conclui-se mediante o exposto tratar-se “A República” de uma obra prima milenar de suma importância entre os mais diferentes contextos históricos e onde são abordados temas que passam pela velhice, injustiça, família, casamento, dialética, bem como abordar questionamentos políticos, jurídicos, elucidando algumas ideias e conceitos específicos tratados no livro com muito esmero em forma de um diálogo, sugerindo, assim, um modelo de cidade ideal, formada por três classes sociais relacionadas às partes da alma, discutindo o conhecimento humano, do mundo ilusório das sombras à realidade das ideias, além de apresentar a teoria platônica das ideias segundo a qual a todo o objeto natural correspondente a uma entidade abstrata no plano ideal.

REFERÊNCIA
PLATÃO. A República. São Paulo: Edições de Ouro, 1980.

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