terça-feira, 20 de maio de 2014

ONIOMANIA & SHOPAHOLIC – A COMPULSÃO DO CONSUMO



ONIOMANIA & SHOPAHOLIC – A compulsão pelo consumo tronou-se um assunto para debates que envolvem as mais diversas perspectivas, sejam elas médicas, psicológicas, psiquiátricas, sejam nas visões do marketing, da economia, da sociologia, entre outras.
Parte da visão do consumo na sociedade atual, oriundo do processo de industrialização e sua exposição maciça por meio de apelos propagandísticos nos veículos de comunicação de massa.
O desenfreado consumo tem sido objeto de estudos das mais diversas áreas do conhecimento, notadamente pela necessidade de escoamento da produção de produtos e utilização de serviços, como das causas de ansiedade e estresse incidentes no comportamento do consumidor pela aquisição dos produtos mais sofisticados, dos serviços mais especializados e do atendimento aqui e agora.
Em vista disso, o estresse e a ansiedade constante têm promovido que se instaurem no ser humano compulsões as mais diversas que, por sua vez, acarretam à identificação de transtornos.
Essas compulsões passaram, então, a serem observadas tanto como desordem de comportamento, como estudos do comportamento humano diante do consumo desenfreado da realidade contemporânea.
Essa desordem originou a oniomania que foi descrita, em 1915, pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926), como o impulso irresistível para obtenção dos mais diversos itens, inclusive aqueles desnecessários. Com isso, considera-se um transtorno do controle do impulso.
Inicialmente entendeu-se que a oniomania poderia ser uma forma de autocura com alívio da tensão e satisfação da aquisição do que se necessita.
Contudo, detectou-se que a tensão diminuída após a compra é substituída pelo sentimento de culpa, contribuindo para problemas de caráter crônico, destrutivo e patológico que levam a dívidas, inadimplemento e consequências financeiras e jurídicas, afora propiciar o aparecimento de sintomas patológicos associados.

A COMPULSÃO PELO CONSUMO – As patologias que possuem relação com os distúrbios compulsivos, conforme Fonseca (2011) e Guerra e Penalosa (2014), começaram a ser observadas no começo do séc. XIX. Contudo, apenas no final do século XX é que ocorreram as primeiras identificações da compra compulsiva como um comportamento crônico e repetitivo em resposta aos sentimentos negativos ou eventos primários, passando a ser considerada como uma síndrome psiquiátrica.
É preciso entender que, segundo Davidoff (2001, p. 757), a compulsão é entendida como “Comportamento ritualístico recorrente, apesar das tentativas de resistir ao impulso”.
Nesse sentido, a autora considera que as obsessões e compulsões variam amplamente, muito embora se enquadrem nas categorias das dúvidas obsessivas, pensamentos obsessivos, impulsos obsessivos, medos obsessivos, imagens obsessivas, cessão e controle às compulsões.
No dizer de Davidoff (2001), as causas da compulsão estão na diátese múltipla e nos estresses. Para a autora, segundo a visão behaviorista, as obsessões e compulsões são adquiridas por meio dos princípios de reforçamento e que fatores fisiológicos podem contribuir para formação desse comportamento.
Para Morris e Maisto (2004, p. 412) as compulsões e obsessões são formas diferentes da ansiedade, considerando as obsessões como “[...] pensamentos ou ideias involuntárias recorrentes, apenas das tentativas da pessoas eliminá-los”, enquanto que a compulsão é o “[...] comportamento repetitivo e ritualístico que a vítima sente compelida a realizar”.
No dizer de Leite (2011) há o entendimento de que as compras compulsivas são consideradas como um vício e um fenômeno social, quando consumidores sucumbem às compras para preenchimento do vazio interior.
Essas compulsões passaram a ser denominadas de oniomania pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926), como sendo o impulso patológico para o ato desenfreado de comprar.
O transtorno do comprar compulsivo (TCC), também conhecido como oniomania, conforme Filomensky (2011), é o ato da compra excessiva resultante de um impulso patológico que ocorre inicialmente no final da adolescência ou depois dos vinte anos, associado à desinibição que inclui álcool, cigarros, sexo precoce e uso de drogas, às compras descontroladas.
Os portadores desse transtorno são identificados como shopaholic, considerados como incapazes de controle do desejo de compras ou quando os frequentes e excessivos gastos passam a interferir nos aspectos da vida do paciente. Os sintomas é de excitação e ansiedade para comprar, de gratificação e prazer em consumar a compra, ou acometido de angústia, irritabilidade ou frustração pela inibição do ato de comprar.
Trata-se, conforme Tavares et al (2008) de um comportamento de consumo descrito em todos os continentes do planeta, não possuindo ainda até o presente uma incerta classificação nem incluído nos sistemas nosológicos contemporâneos, ou seja, ainda não foi descrito pelo Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, nem na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS).
É também reconhecido, no dizer de Martins (2014), como o comportamento do consumidor de forma crônica e repetitiva, difícil de ser interrompido e consequências graves e prejudiciais. Geralmente ocorre em resposta aos eventos e aos sentimentos negativos, configurando incapacidade de resistência à urgência de compras e os seus prejuízos.
No dizer de Tavares et al (2008) o TCC é comórbido com frequência com os transtornos da ansiedade, do humor, alimentares e uso de substâncias. Por essa ideia, a classificação desses compradores foram acometidos de significativas depressões recorrentes ou do transtorno bipolar, bulimia, transtorno de personalidade, compulsão alimentar, escoriação psicogênica, abuso de bemzodiazepínicos, tentativas de suicídio, TOC, transtornos do controle do impulso (TCI) e cleptomania, entre outros comportamentos impulsivos.
Significa dizer que esse transtorno, conforme Lopes e Souza (2014), caracteriza-se pela impulsividade, impossibilitando-se os pacientes, independente de formação acadêmica, de evitar as compras ou a incapacidade de domínio sobre o impulso das compras. Em vista disso, é considerado como um transtorno de dependência agrupado com os transtornos da droga e do uso do álcool.
A oniomania, Nery, Menêses e Torres (2014), associada aos impulsos reativo incluem a piromania e a clieptomania, como parte dos transtornos obsessivo-compulsivo, ou de humor, categorizado com a combinação de dependências que incluem o comportamento sexual compulsivo, a dependência da Internet e o jogo patológico.
O tratamento da oniomania, conforme Hodgins e Peden (2008), ainda não possui um padrão psicoterápico, sendo efetuado ainda por meio de um modelo cognitivo-comportamental, tratados com base em antidepressivos e outras iniciativas da pfiscofarmacologia. Dessa forma, as recomendações clínicas e terapêuticas são da prescrição de intervenções psicossociais no modelo cognitivo-comportamental.

REFERÊNCIAS
DAVIDOFF, Linda. Introdução à psicologia. São Paulo: Pearson |Makron Books, 2001.
FILOMENSKY, Tatiana. O comprar compulsivo e suas relações com transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno afetivo bipolar. São Paulo: Edusp, 2011.
FONSECA, Patrícia. Significados e julgamentos percebidos na frequência do consumo. Brasília: UnB, 2011.
GUERRA, Diego; PENALOSA, Veronica. Compra compulsiva: uma abordagem multidisciplinar com estudantes universitários. XII SemEAD Empreendedorismo e Inovação. Disponível em http://www.ead.fea.usp.br/semead/12semead/resultado/an_resumo.asp?cod_trabalho=823. Acesso 03 maio 2014.
HODGINS, David; PEDEN, Nicole. Tratamento cognitivo-comportamental para transtornos do controle do impulso. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, 30(Supl I):S31-40, 2008.
LEITE, Priscilla. Adaptação transcultural e validação das escolas the richmond compulsive buyning scale e compulsive buying scale. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011.
LOPES, Francirene; SOUZA, Regiane. Compulsão por consumo: interface no período da contemporaneidade. Anais V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia. Disponível em http://www.eventos.uem.br/index.php/cipsi/2012/paper/view/797. Acesso em 03 maio 2014.
MARTINS, Gisele. O consumo compulsivo. Janela Econômica. Disponível em http://www.santacruz.br/v4/download/janela-economica/2010/9_O_consumo_compulsivo.pdf. Acesso em 03 maio 2014.
MORRIS, Charles; MAISTO, Albert. Introdução á psicologia. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
NERY, Matheus; MENÊSES, Carla; TORRES, Thalita. Um breve ensaio da psicologia acerca do comportamento consumista na sociedade atual. Interfaces Científicas. Disponível em https://periodicos.set.edu.br/index.php/humanas/article/view/164. Acesso em 03 maio 2014.
TAVARES, Hermano; LOBO, Daniela; FUENTES, Daniel; BLACK, Donald. Compras compulsivas: uma revisão e um relato de caso. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, vol. 30, supl. 1, jan/mai, 2008.

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