A INFÂNCIA DE KAREN HORNEY- A infância da
médica e psicanalista alemã Karen Horney (1885-1952) foi marcada por difícil
relacionamento com seu pai, um marinheiro religioso e rigoroso que manifestava
sua preferência pelo irmão mais velho, Berndt – o seu filho preferido -,
desejando sempre ter um pai que se possa amar e estimar. Seu pai era muito mais
velho que sua mãe e era com ela com Horney se identificava, confidenciado à
filha o desejo de ver o marido morto. Tornou-se, então, uma filha devotada para
angariar o afeto da mãe. Além de uma relação difícil com o pai, ele a
desestimulava aos estudos, desejando-a voltada ao lar. Foi exatamente essas
experiências da infância, ocasião em que desenvolveu uma hostilidade pela falta
de amor dos familiares, estimulando a sua ansiedade, que ela dedicou-se aos
estudos, formou-se em Medicina e tornou-se seguidora dos ensinamentos de
Sigmund Freud. Com uma vida entre envolvimentos amorosos, dúvida entre o
casamento e a carreira, estudos e determinação, ela começou a formular uma
teoria que se tornou bastante diferente do seu mestre, do qual divergiu por
contestar o seu retrato psicológico das mulheres e opôs-se ao conceito
freudiano de que as mulheres possuem inveja do pênis, defendendo que os homens
é que possuem inveja das mulheres por causa do útero. Influenciada pelo fato de
ser mulher e pelas suas experiências pessoais, passou a admitir que as forças
sociais e culturais influenciam a vida das pessoas. Constatou a diferença de
personalidade entre as pessoas, vez que esta não depende totalmente das forças
biológicas, passando a dar mais ênfase às relações sociais como fatores
significativos para formação da personalidade. Passou então a questionar os
conceitos de complexo de Édipo, da libido e da estrutura de três partes da
personalidade, defendendo que as pessoas não eram motivadas por forças sexuais
ou agressivas, mas pela necessidade de segurança e amor. Quando adulta percebeu
quanta hostilidade desenvolvera na infância pela falta de amor que estimulou
sua ansiedade e resultou na busca pelo amor e segurança, alimentando paixões
que foram registradas no seu Diário. Formou-se em Medicina, casou-se e teve três
filhas, contudo, mantinha-se infeliz e oprimida, queixando-se de crises de
choro, dores de estomago, fadiga crônica, comportamentos compulsivos, frigidez
e vontade de dormir e de morrer. Casamento desfeito, ela envolveu-se em
inúmeros relacionamentos com promiscuidade, entre eles com o psicanalista Erich
Fromm. A falta de atrativos físicos, como em Adler, era um dos motivos dos sentimentos
de inferioridade, concluindo que precisa sentir-se superior pela falta de
beleza e sentimento de inferioridade como mulher, determinando-se pelos
estudos.
NECESSIDADE DE SEGURANÇA NA INFÂNCIA –
Concordava com Freud sobre a importância dos primeiros anos de infância na
moldagem da personalidade adulta. Todavia, para ela as forças sociais na infância
influenciavam o desenvolvimento da personalidade, discordando das etapas de
desenvolvimento universais e dos conflitos infantis inevitáveis. Para ela, o
fator chave é a relação social entre a criança e os pais. Daí, portanto,
defendeu que a infância é dominada pela necessidade de segurança, uma
necessidade em grau mais elevado de segurança e liberação do medo, dependendo totalmente
de como os pais tratam a criança, recomendando carinho e afeto. Entre as
condutas que ela nomeia como não recomendadas são as preferencias obvias por um
dos filhos, castigo injusto, comportamento instável, não cumprimento de
promessas, ridicularização, humilhação e isolamento da criança de seus
companheiros. Enfatizou, por isso, o desamparo da criança, discordando de Adler
de que as crianças não necessariamente desamparadas, mas que surge pela falta
de carinho e afeto dos pais, podendo levar a um comportamento neurótico. Assim,
para ela, a sensação de desamparo nas crianças depende do comportamento dos
pais. E quanto mais desamparadas forem as crianças, mas elas reprimirão a
hostilidade, serão levadas a sentir medo por meio de castigos, violência ou
formas mais sutis de intimidação, incluindo, também, o amor que pode ser outro
motivo para reprimir a hostilidade por meio de afeto desonesto na insistência de
que amam os pais. A culpa também é um outro motivo das crianças reprimirem a
hostilidade, quando elas se sentem culpadas por terem hostilidades ou
rebeldias, guardarem ressentimentos e se sentirem culpadas e pecadoras : quanto
mais culpa a criança sentir, mais profundamente a hostilidade será reprimida. Veja
mais aqui.
ANSIEDADE BÁSICA – A ansiedade básica é
um sentimento insidiosamente crescente e penetrante de se estar só e
desamparado em um mundo hostil, sendo, assim, conceituada como uma sensação
penetrante de solidão e desamparo, tornando-se com isso a base sobre a qual as
neuroses posteriores se desenvolvem e está intimamente ligada aos sentimentos
de hostilidade. Na infância busca-se a proteção contra a ansiedade básica de
quatro maneiras: assegurando afeto e amor; sendo submisso; obtendo poder; e
distanciando-se.
Assegurar o afeto e o amor dos outros
está embasada na ideia de que quem ama não magoa, e esse afeto é obtido ao
fazer tudo o que o outro quer, uma tentativa de suborno ou ameaça para que os
outros devolvam o afeto recebido e desejado.
A submissão é um meio de autoproteção,
envolvendo agir de acordo com os desejos de uma determinada pessoa ou dos que
pertencem ao ambiente social. Nessa condição, procura-se não contrariar os
outros, não se ousa criticar ou ofender, reprimindo os desejos pessoais.
A obtenção de poder sobre os outros é uma
forma de compensação ao desamparo, conseguindo-se segurança por meio do sucesso
ou de um sentimento de superioridade. Com isso, acredita-se que tendo poder ninguém
poderá prejudicar.
Esses três meios de autoproteção envolvem
o fato de que a pessoa está lidando com a ansiedade básica ao interagir com os
outros.
Por fim, o afastamento dos outros, não
fisicamente, mas psicologicamente, traduz independência: não se depende de mais
ninguém para obter satisfação das necessidades internas ou externa, uma vez que
quem se afasta protege-se contra a possibilidade ser magoado pelos outros.
Esses quatro mecanismos de autoproteção
possui um único objetivo: defesa contra a ansiedade básica, motivando a busca
da segurança e o restabelecimento da confiança, defendendo-se da dor e buscando
bem-estar. A característica desses mecanismos é o poder e intensidade, uma vez
que podem ser mais forte dos que as necessidades sexuais ou fisiológicas,
podendo reduzir a ansiedade com um custo individual de empobrecimento da
personalidade. Veja mais aqui.
NECESSIDADES – Defendia Horney que
qualquer dos mecanismos de autoproteção podem se tornar permanentes na
personalidade, assumindo características de impulso ou necessidade, na
determinação do comportamento. para tanto, as necessidades neuróticas são soluções
irracionais para os problemas da pessoa e são identificadas por meio de dez
defesas irracionais contra a ansiedade que se tornam parte permanente da
personalidade e afetam o comportamento: afeto e aprovação; parceiro dominador;
poder; exploração; prestígio; admiração; realização ou ambição;
autossuficiência; perfeição; e limites restritos à vida.
As necessidades neuróticas são
encontradas em quatro maneiras de proteção contra a ansiedade: busca de
proteção, submissão, obtenção de poder e afastamento. A busca de proteção por
meio do afeto é expresso na necessidade neurótica de afeto e aprovação; a
submissão inclui a necessidade neurótica de um parceiro dominador; a obtenção
de poder está relacionada com as necessidades de poder, exploração, prestigio,
admiração e realização ou ambição; e o afastamento inclui as necessidades de
autossuficiência, perfeição e limites restritos à vida. Veja mais aqui.
TENDÊNCIAS NEURÓTICAS – Três categorias
de comportamento definem as tendências neuróticas: personalidade submissa,
personalidade agressiva e personalidade distante. São essas tendências
neuróticas identificadas nas três categorias de comportamentos e atitudes em
relação à própria pessoa e aos outros que expressam as necessidades da pessoa e
surgem a partir dos mecanismos de autoproteção e os aprimoram, envolvendo
atitudes e comportamentos compulsivos: as pessoas neuróticas são impelidas a se
comportar de acordo com pelo menos uma das necessidades neuróticas.
A personalidade submissa ou movimento em
direção às outras pessoas, exibe atitudes e comportamentos que refletem um
desejo de caminhar em direção às outras pessoas, uma necessidade intensa e
continua de afeto e aprovação, um anseio de ser amado, desejado e protegido,
identificada naquela pessoa escolhida que ofereça proteção e orientação. Assim sendo,
a personalidade submissa é o comportamento e atitudes associadas à tendência neurótica
de ir na direção das pessoas, cl como a necessidade de afeto e aprovação.
A personalidade agressiva ou movimento
contra as outras pessoas, é o conjunto de comportamentos e atitudes associadas
a tendência neurótica de ir contra as pessoas, tal como um comportamento
dominador e controlador. São movidas pela insegurança, ansiedade e hostilidade
porque julgam tudo em termos do beneficio que receberão do relacionamento e por
aparentarem confiantes nas suas habilidades e desinibidas ao se afirmar e se
defender.
A personalidade distante ou movimento
para longe das outras pessoas, é o comportamento e atitude associados com a
tendência neurótica de se afastar das pessoas, como uma necessidade intensa de
privacidade. Essas pessoas são motivadas a se afastar das demais e a manter uma
distância emocional, não precisando amar, odiar, colaborar ou se envolver com
os outros. Para conseguir esse desligamento total, buscam a autosufiência e dependem
de seus próprios recursos que devem ser bem desenvolvidos, além de precisarem
sempre se sentir superiores, não podendo competir ativamente por superioridade
com os outros, reprimindo ou negando qualquer sentimento relação aos outros,
principalmente os sentimentos de amor e ódio, achando que sua grandeza deve ser
reconhecida automaticamente, sem luta ou esforço: uma manifestação desse
sentimento de superioridade é a filosofia de que cada pessoa é diferente da
outra.
A personalidade submissa de Horney é
semelhante ao tipo dependente de Adler, a personalidade agressiva é semelhante
ao tipo dominador e a distante é semelhante ao tipo esquivo, justificando as
influencias exercidas por ele sobre as teorias dela.
Na pessoa neurótica a pessoa que é predominantemente
agressiva também tem a necessidade de submissão e distanciamento. A tendência neurótica
dominadora é a que determina o comportamento e as atitudes da pessoa em relação
aos outros. Esse é o modo de agir e raciocinar que mais serve para controlar a
ansiedade básica e qualquer desvio dele é ameaçador para a pessoa. Por isso, as
duas outras tendências têm de ser ativamente reprimidas, o que pode levar a
mais problemas, pois qualquer indicio de que a tendência reprimida está
querendo se expressar provoca conflito na pessoa. Veja mais aqui.
CONFLITO – Conflito é a incompatibilidade
básica das tendências neuróticas e é o centro da neurose. A diferença entre uma
pessoa neurótica e a que não é neurótica está na intensidade desse conflito. Ele
é muito mais intenso na pessoa neurótica porque ela precisa lutar para evitar
que as tendências não dominantes se expressem. Elas são rígidas e inflexíveis,
enfrentando todas as situações com comportamentos e atitudes que caracterizam a
tendência dominadora, independente da sua adequação.
AUTOIMAGEM IDEALIZADA – Todas as pessoas
criam autoimagem que pode ou não se basear na realidade.
Nas pessoas não neuróticas a imagem do
self é construída com base numa avaliação realista das habilidades,
potencialidades, fraquezas, metas e relações com outras pessoas, oferecendo um
senso de unidade e integração à personalidade e uma estrutura dentro da qual
deve-se abordar os outros e a pessoa em si.
As pessoas neuróticas que vivem em
conflito entre os modos incompatíveis de comportamento têm suas personalidades
caracterizadas pela desunião e desarmonia, criando uma autoimagem idealizada
com o mesmo intuito das pessoas não neuróticas: unificar a personalidade, mas fracassa
porque a autoimagem do self não se baseia numa avaliação realista dos pontos
fortes e fracos, mas numa ilusão, num ideal inatingível de perfeição.
Então, para os não neuróticos a
autoimagem idealizada é um retrato idealizado da pessoa criado com base numa
avaliação flexível e realista das suas habilidades; o neurótico, ao contrário,
a autoimagem baseia-se numa autoavaliação inflexível e fantasiosa. Para tentar realizar
a autoimagem idealizada, as pessoas neuróticas envolvem-se na tirania dos
deveres.
TIRANIA DOS DEVERES – É a tentativa de
tornar real uma imagem inatingível e idealizada do self negando o self verdadeiro
e comportando-se com base naquilo que se pensa que se deveria fazer. Ou seja,
os neuróticos dizem a si mesmos que têm de ser o melhor em tudo, quando o seu real
é indesejável, achando que devem agir para corresponder à imagem idealizada. Um
detalhe: embora a imagem neurótica ou idealizada do self não coincida com a
realidade, ela é real e precisa para que as criou, uma vez que a imagem
neurótica do self é uma substituta insatisfatória para um sentimento de
autovalia, baseado na realidade, em razão dele ter pouca autoconfiança,
insegurança e ansiedade.
Um caminho que os neuróticos usam para se
defender dos conflitos internos provocados pela discrepância entre uma
autoimagem idealizada e a real é a externalização.
EXTERNALIZAÇÃO – É a maneira de se
defender contra o conflito provocado pela discrepância entre uma autoimagem
idealizada e a real, projetando-se o conflito no mundo exterior. Esse processo
pode aliviar temporariamente a ansiedade provocada pelo conflito, mas não faz
nada para reduzir a lacuna entre a autoimagem idealizada e a realidade,
envolvendo a tendência para vivenciar os conflitos como se eles estivessem
ocorrendo fora da pessoa e para descrever as forças externas como a fonte dos
conflitos.
A COMPETITIVIDADE NEURÓTICA – É um
aspecto extremamente importante da cultura contemporânea, definida como a necessidade
indiscriminada de vencer a qualquer custo. Aquele que manifesta essa
necessidade encara a vida como um uma competição e que só importa estar à
frente dos outros. Ou seja, uma necessidade indiscriminada de vencer a todo
custo.
PSICOLOGIA FEMININA – É uma revisão da
psicanálise para incluir conflitos psicológicos inerentes no ideal tradicional
da feminilidade e dos papéis femininos. Criticou o conceito freudiano de inveja
do pênis e a ideia de que as mulheres possuíam superegos maldesenvolvidos.
Horney defendeu que os homens invejavam a capacidade da maternidade, possuindo
a inveja do útero.
O voo da feminilidade: como resultado dos
sentimentos inferioridade, as mulheres podem optar por negar a sua feminilidade
e desejar, inconscientemente, ser homem: um problema que pode levar a inibições
sexuais e se esse conflito for suficientemente forte, pode levar a problemas
emocionais que se manifestam em relação aos homens.
Horney negava o complexo de Édipo, porém reconhecendo
a existência de conflitos entre pais e filhos como um conflito entre dependencia
do pai ou da mãe e a hostilidade em relação a um deles.
As influências culturais: ela reconheceu
o impacto doas forças sociais e culturais no desenvolvimento da personalidade e
que as culturas e os grupos sociais diferentes encaravam o papel da mulher de
maneira diferente.
A natureza humana para Horney possuía a
crença de que as forças biológicas não levam ao conflito, ansiedade, neurose ou
universalidade na personalidade, uma vez que cada pessoa é única e que todos
possuem a capacidade de moldar e mudar conscientemente a sua personalidade. Veja
mais aqui.
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Veja o Diário de Karen Horney aqui.