PERSONOLOGIA – É a teoria elaborada pelo
psicólogo norte-americano Henry Murray (1893-1988) numa abordagem que inclui
forças conscientes e inconscientes; a influência do passado, presente e futuro
e o impacto dos fatores fisiológicos e sociológicos. Ele se desviou tanto da
psicanalise ortodoxa que o seu sistema deve ser classificado junto aos neofreudianos.
Duas caraterísticas distintas do seu sistema são uma abordagem sofisticada das
necessidades humanas e a fonte de dados na qual ele baseou a sua teoria. A
lista de necessidades que propôs ainda é amplamente utilizada na pesquisa e
avaliação da personalidade e no tratamento clinico. Seus dados são oriundos de
pessoas consideradas normais e não de pacientes que estavam fazendo
psicoterapia, além de serem extraídos de procedimentos laboratoriais de base
mais empírica e não de estudos de caso. Ele reuniu uma grande quantidade de
psicólogos, muitos dos quais ficaram famosos e difundiram os seus ensinamentos.
Para ele, a personalidade, na questão
entre o livre-arbítrio e o determinismo, é determinada pelas necessidades e
pelo ambientem conferindo um certo livre-arbítrio na capacidade de mudar e
crescer. Cada pessoa é diferente, mas também existem semelhanças na
personalidade de todas as pessoas.
As pessoas são moldadas pelos atributos
herdados e pelo ambiente, cada um dos dois com mais ou menos o mesmo grau de
influência.
Murray criticou a psicologia que
projetasse uma imagem negativa e humilhante dos seres humanos e argumentava
que, com os vastos poderes de criar, imaginar e raciocinar, todas as pessoas
são capazes de solucionar qualquer problema. Também reconhecia a marca das
experiências da infância no comportamento atual, não vendo as pessoas como
cativas do passado. Os complexos da infância afetam inconscientemente o
desenvolvimento, mas a personalidade também é determinada pelos eventos
presentes e pelas aspirações para o futuro. Todos os seres humanos possuem a
capacidade de crescer e desenvolver, e esse crescimento é uma parte natural da
condição humana; pode-se mudar por meio das capacidades racionais e criativas e
também remodelar a sociedade.
Os princípios da personologia: o cérebro,
a redução de tensão, o desenvolvimento da personalidade, a personalidade muda e
evolui, e a singularidade de cada pessoa.
O primeiro princípio é o de que a
personalidade está enraizada no cérebro. A fisiologia cerebral da pessoa
controla todos os aspectos da personalidade. Tudo aquilo de que a personalidade
depende está no cérebro, inclusive sentimentos, lembranças conscientes e
inconscientes, crenças, atitudes, temores e valores.
O segundo princípio envolve a ideia de
redução de tensão: é o processo de agir para reduzir tensão que é satisfatório
e não o alcance de uma condição livre de toda tensão. Uma existência sem
tensões é uma fonte de angustia. Por isso, precisa-se de excitação, atividade e
movimento e tudo isso envolve um aumento de tensão. Para ele o estado ideal da
natureza humana envolve sempre ter um certo grau de tensão para reduzir. A
redução de pressão está relacionada com as metas que não são consideradas como
estado livre de tensão, mas a satisfação derivada da ação que reduz a ação.
O terceiro princípio é que a
personalidade de um individuo continua se desenvolvendo ao longo dos anos e é
composta de todos os eventos que ocorrem no decorrer da sua vida. Portanto, o
estudo do passado de uma pessoa é de grande importância.
O quarto princípio envolve a teoria de
que a personalidade muda e evolui, não sendo fixa ou estática.
O quinto principio enfatiza a
singularidade de cada pessoa e ao mesmo tempo reconhece as similaridades entre
todos. Segundo ele, um ser humano nunca é igual a outro, é parecido com algumas
pessoas e com todas.
AS DIVISÕES DA PERSONALIDADE – O id, o
ego e o superego.
O id é o depósito de todas as tendências
impulsivas, inatas, fornecendo energia e rumo para o comportamento e se preocupa
com a emoção. O ido contem os impulsos primitivos, amorais e sensuais descritos
por Freud, mas no sistema personológico também engloba impulsos inatos que a
sociedade considera aceitáveis e desejáveis. O id contem as tendências para
empatia, imitação e identificação, para formas de amor além das sensuais e a
tendência de a pessoa dominar o seu ambiente. A força ou intensidade do id
varia de pessoa para pessoa.
O ego é o regente racional da
personalidade, aquele que tenta modificar ou adiar os impulsos inaceitáveis do
id, ponderando, decidindo e determinando conscientemente o rumo do
comportamento, sendo, assim, mais ativo na determinação do comportamento. por
não ser um simples servo do id, o ego conscientemente planeja atitudes, opera
não só para reprimir os prazeres do id, mas também para favorecer o prazer
organizando e dirigindo a expressão de impulsos aceitáveis do id. Ele também é
o árbitro entre o id e o superego, podendo favorecer um dos dois. O ego também
pode integrar esses dois aspectos da personalidade para que o que se queira
fazer (id) fique em harmonia com o que a sociedade acha que se deve fazer
(superego). Um ego forte pode mediar efetivamente entre o id e o superego, mas
um ego fraco transforma a personalidade em um campo de batalha.
O superego é a internalização dos valores
e das normas culturais, regras segundo as quais se avalia e se julga o
comportamento pessoal e dos outros. A essência do superego é imposta às
crianças desde pequenas pelos pais e por outras figuras com autoridade. Outros
podem moldá-lo e incluem um grupo de amigos, a literatura e a mitologia de uma
determinada cultura. O superego não está rigidamente cristalizado aos cinco
anos, mas continua se desenvolvendo a vida toda, refletindo a maior
complexidade e sofisticação das experiências que se dão até o envelhecimento.
Ele se desenvolve junto com o ideal do ego que fornece as metas de longo prazo
que se deve buscar.
O ideal do ego é um componente do
superego que contem os comportamentos morais e ideais que a pessoa deve buscar,
representando aquilo que se pode tornar da melhor forma e sendo a soma das
ambições e aspirações humanas.
NECESSIDADES E A MOTIVAÇÃO DO
COMPORTAMENTO – Utiliza o conceito de necessidades para explicar a motivação e
o rumo do comportamento.
A motivação é o ponto mais importante do
trabalho e refere-se sempre a algo dentro do organismo.
Uma necessidade envolve uma força
psicoquímica no cérebro que organzia e direciona a capacidade intelectual e a
perspectiva.
As necessidades podem surgir de processos
internos como fome ou sede, ou de eventos no ambiente. Elas elevam o nível de
tensão; o organismo tenta reduzir essa tensão agindo para satisfazer as
necessidades. Assim, elas energizam e dirigem o comportamento.
As necessidades ativam o comportamento na
direção certa para satisfazê-las. Por isso, o autor preparou um elenco de vinte
necessidades que nem todas as pessoas possuem, mas que ao longo da vida podem
ser sentidas ou algumas que nunca se sentirá. Algumas delas dão sustentação a
outras e algumas se opõem umas as outras. São elas: afiliação, agressão,
autonomia, autodefesa, deferência, defesa física, defesa psíquica,
discernimento, divertimento, domínio, exibição, humilhação, neutralização,
ordem, realização, rejeição, segurança, sensibilidade, sexo e solidariedade.
As necessidades primárias ou
viscerogênicas surgem dos processos físicos internos e incluem as necessidades
de sobrevivência, como comida, água, ar e defesa física, e de sexo e
sensualidade.
As necessidades secundárias ou
psicogênicas provêm indiretamente das primárias , não tendo origem determinável
no corpo. Elas são chamadas porque se desenvolvem a partir das primárias e
preocupam-se com a satisfação emocional incluindo a maioria das necessidades
gerais.
As necessidades reativas envolvem uma
resposta a algo especifico do ambiente e são estimuladas apenas quando o dito
objeto aparece, como a necessidade de defesa física que surge só quando há
ameaça presente. Assim, envolvem uma resposta a um objeto específico.
As necessidades proativas são
espontâneas, trazendo à tona o comportamento adequado sempre que estimuladas,
independente do ambiente sem esperar um estímulo. Surgem espontaneamente.
As características das necessidades: elas
diferem em termos de urgência com que impelem o comportamento, denominada de
prepotência de uma necessidade. Algumas são complementares e podem ser
satisfeitas por um comportamento ou conjunto de comportamentos: fusão de
necessidades.
O conceito de subsidiação se refere a uma
situação na qual uma necessidade é ativada para ajudar a satisfazer uma outra
necessidade. Assim, compreende a situação na qual uma necessidade é ativada
para ajudar a satisfazer uma outra necessidade.
A necessidade de deferência é
complementar à necessidade à necessidade de afiliação.
A pressão é a influencia dos eventos da
infância que podem afetar o desenvolvimento de necessidades específicas e mais
tarde podem ativar essas necessidades, porque um objeto ou evento ambiental
pressiona a pessoa a agir de uma determinada maneira. É a influência do
ambiente e dos eventos passados na ativação atual de uma necessidade.
O Thema ou thema de unidade é a
combinação da pressão (o ambiente) e necessidade (a personalidade) que traz
ordem ao comportamento. É devido à possibilidade de interação entre a
necessidade e a pressão. Ele combina fatores pessoais (necessidades) com
fatores ambientais que pressionam ou compelem o comportamento (pressões). É
formado nas primeiras experiências infantis e torna-se uma força poderosa na
determinação da personalidade. Inconsciente na sua maior parte, ele relaciona
as necessidades e pressões num padrão que dá coerência, unidade, ordem e
singularidade ao comportamento.
A NATUREZA
HUMANA – Murray introduz o conceito de redução de tensão que é considerada como
a satisfação derivada da ação que reduz a tensão. Nesse ponto ele coloca a
questão do livre-arbítrio versus determinismo, considerando que a personalidade
é determinada pels necessidades e pelo ambiente, conferindo livre-arbítrio à
capacidade de mudar e crescer: cada pessoa é diferente, mas também existem
semelhanças na personalidade de todo ser humano. Ele defende que todos os seres
humanos são moldados pelos atributos herdados e pelo ambiente, com mais ou
menos grau de influência, aceitando-se o impacto das forças físicas e dos estímulos
ambientais físicos, sociais e culturais. Assim, a sua visão é ptimista
criticando a psicologia que projeta uma imagem negativa e humilhante dos seres
humanos, argumentando que com os poderes amplos de criar, imaginar e racionar,
cada um é capaz de solucionar qualquer problema que tenha que enfrentar. Assinala
que os complexos da infância afetam inconsciente o desenvolvimento, mas a
personalidade é também determinada pelos eventos presentes e pelas aspirações
para o futuro. A capacidade de crescer e de se desenvolver é uma parte natural
desse crescimento da condição humana, porque se pode mudar por meio das
capacidades racionais e criativa e também remodelar a sociedade.
A NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO – É uma
necessidade forte em várias pessoas, principalmente em situações estressantes e
durante o período de estresse se manifesta tanto nas crianças como nos adultos.
As pessoas com alta necessidade de afiliação preferem se comunicar através da
internet do que pessoalmente. O ambiente social virtual permite-lhes ser mais
honestos, abertos e íntimos com os outros do que a situação cara a cara. Isso
sugere que para pessoas com forte necessidade de afiliação, os contatos pela
internet podem ser mais satisfatórios e menos ameaçadores do que os contatos
reais. A
necessidade de realização é a necessidade de superar obstáculos, atingir a
excelência e viver bem em nível elevado. Pessoas com alta necessidade de
realização têm com mais frequência trabalhos de alto nível. Trabalham duro, têm
grande expectativa de sucesso e relatam mais satisfação no trabalho do que as
pessoas que têm baixa necessidade de realização. As que têm alta escolhem
trabalhos que dão responsabilidade pessoal, nos quais o sucesso depende
principalmente de seus próprios esforços e ficam insatisfeitas com trabalhos
nos quais o sucesso depende de outras pessoas ou de fatores que estejam fora de
seu alcance.
Fatores culturais podem influenciar as
necessidades de realização de uma pessoa. Ela é afetada pelas praticas de
educação de crianças. O gênero é outro fator que tem impacto sobre a
necessidade de realizar.
A PESQUISA NA TEORIA DE MURRAY – O
programa de pesquisa envolveu o estudo intensivo da personalidade de estudantes
do sexo masculino, realizado por uma equipe multiprofissional. Especialistas
com diferentes tipos de treinamento observavam as pessoas utilizando varias
técnicas, de maneira muito parecida à elaboração de um diagnóstico médico
completo. À medida que os foram se acumulando, o conselho reavalia suas notas a
ela com base em diversas variáveis, revisando as informações e chegando à
conclusão final. Os dados tiveram de ser divididos em segmentos de tempo,
denominados de padrão de conduta e série.
O padrão de conduta é o segmento básico
de comportamento e definido como um período de tempo necessário para a
ocorrência e conclusão de um padrão de comportamento. envolve uma interação
real ou fantasiosa entre o individuo e outras pessoas ou objetos no ambiente.
Uma interação imaginária é chamada de padrão de conduta interno. Uma interação
real é chamada de padrão de conduta externo.
Os padrões de conduta estão ligados ao
tempo e às funções.
Série é a reunião dos padrões de conduta,
ou seja, é uma sequencia de padrões de conduta relacionados à mesma função ou
propósito.
AVALIAÇÃO NA TEORIA DE MURRAY – As
técnicas de avaliação de personalidade utilizam uma série de técnicas para
coletar dados, com entrevistas e testes projetivos, objetivos e questionários
que cobrem lembranças da infância, relações familiares, desenvolvimento sexual,
aprendizagem sensório-motor, padrões éticos, metas, interações sociais e
capacidade mecânica e artística.
TESTE DE APERCEPÇÃO TEMÁTICA (TAT) –
Criado por Murray e Morgan, continua sendo uma das medições projetivas da personalidade
mais utilizadas. É composto de um conjunto de figuras ambíguas ilustrando cenas
simples. Pede-se à pessoa que está se submetendo ao teste que crie uma
história, descreva as pessoas, os objetos da figura, incluindo o que pode ter
levado à situação e o que eles estão pensando e sentindo. É técnica projetiva
baseada no mecanismo de defesa da projeção que foi introduzido por Freud. Na
projeção a pessoa atribui impulsos perturbadores a outras pessoas, ou seja, os
projeta no TAT os sentimentos nos personagens das figuras, revelando ao
pesquisador ou ao terapeuta as ideias que a perturbam. É um instrumento para
avaliar ideias, sentimentos e temores inconscientes. Interpretar as respostas
às figuras é um processo subjetivo, podendo revelar informações extremamente
úteis e devem ser utilizadas para complementar dados de métodos mais objetivos.
O PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DO OSS – Foi um
programação de avaliação para o Departamento de Serviços Estratégicos
norte-americano (OSS), durante a II Guerra Mundial, com a meta de selecionar
pessoas que servissem de espiãs e sabotadoras, trabalhando por trás das linhas
inimigas em situações perigosas. Os candidatos foram entrevistados e passaram
por testes projetos de Rorschach e TAT e responderam a questionários que cobriam
uma série de tópicos. Além disso, participaram de testes envolvendo situações
estressantes que simulavam experiências com as quais eles poderiam se deparar
no trabalho. Essa tentativa pioneira de selecionar funcionários por meio de uma
avaliação de grande escala da personalidade evoluiu para a bem-sucedida
abordagem do centro de avaliação, amplamente utilizada nas empresas de hoje em
dia para selecionar líderes e executivos promissores. O programa do OSS é um
ótimo exemplo da aplicação prática das técnicas de avaliação originalmente
destinadas somente à pesquisa.
INFLUÊNCIAS – Influenciado por Carl
Gustav Jung, teve um grave problema pessoal: apaixonou-se por Christina Morgan,
uma mulher casada, bonita, rica e depressiva que também era impressionada com a
obra de Jung e possuía sonhos e visões bizarras. Murray não queria largar a
esposa com quem estava casado havia sete anos – ele dizia que abominava a ideia
de se divorciar, mas também não queria desistir da amante, cuja natureza
espirituosa e artística era o oposto da natureza de sua esposa; ele insistia
que precisava das duas. Viveu esse conflito por dois anos, quando por sugestão
dela, foi se encontrar com Jung, resolvendo o problema por meio da instrução e
do exemplo. Envolveram-se no caso os dois casais: a esposa e o marido da
amante, resolvendo o problema.
REFERÊNCIAS
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. Teorias
da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014.