CONSCIÊNCIA -
Para Paim (1993), a consciência é um complexo de fenômenos psíquicos
elementares ou complicados, afetivos e intelectivos, que se apresentam na
unidade de tempo e que permitem conhecimento do próprio eu e do mundo exterior.
O termo consciência, para Dalgalarrondo (2008), origina-se da junção de dois vocábulos latinos: cum (com) e scio (conhecer),
indicando o conhecimento compartilhado com outro e, por extensão, o
conhecimento “compartilhado consigo mesmo”, apropriado pelo indivíduo.
As definições de consciência, segundo Dalgalarrondo
(2008), são consideradas sobre três aspectos: 1 - A definição neuropsicológica emprega o termo consciência no sentido de estado vígil (vigilância), o
que, de certa forma, iguala a consciência ao grau de clareza do sensório.
Consciência aqui é fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado,
vígil, lúcido. Trata-se especificamente do nível de consciência. 2. A definição psicológica a conceitua como a soma total das experiências conscientes de um
indivíduo em determinado momento. Nesse sentido, consciência é o que se designa
campo da consciência. É a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. 3. A definição ético-filosófica é utilizada mais frequentemente no campo
da ética, da filosofia, do direito ou da teologia. O termo consciência refere-se
à capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as
responsabilidades, os direitos e os deveres concernentes a essa ética. Assim, a
consciência ético-filosófica é atributo do homem desenvolvido e responsável, engajado
na dinâmica social de determinada cultura. Trata-se da consciência moral ou ética.
Do ponto de
vista da psicologia, segundo Paim (1993) é um processo de coordenação e de
síntese da atividade psíquica. Nesse processo se encontra a consciência do eu,
como conhecimento que se tem da existência como individualidade distinta das
demais coisas do mundo, e da consciência dos objetos, significado tudo que é
apreendido ou que se encontra, em dado mento, no campo da consciência, seja uma
percepção, uma representação ou um conceito.
A consciência
subjetiva é a propriedade de serem os fenômenos conscientes conhecidos pelo
individuo. A consciência objetiva por seu conteúdo, que se reflete no plano
subjetivo sob a forma de percepções, representações e conceitos.
Ao campo da
consciência chega também uma série de sensações cinestésicas que orientam o
individuo sobre a própria personalidade.
A consciência é
um todo único e indivisível.
O INCONSCIENTE
- O inconsciente, para Paim (1993) designa os processos nervosos que escapam
inteiramente ao conhecimento pessoal, como a maior das regulações orgânicas; em
sentido amplo, é tudo quanto num determinado momento escapa à consciência, sem
diferenciar entre o subconsciente e o inconsciente essencial; e no sentido de
Freud, qualifica os processos dinâmicos que atuam eficazmente sobre a conduta
sem que atinjam a consciência. Em psicologia, o inconsciente é empregado como
adjetivo para qualificar determinado fato psicológico que escapa ao conhecimento
do individuo, sendo, pois, o conjunto de processos psicológicos que estão fora
da consciência. A maior parte da vida anímica se desenvolve no inconsciente.
O inconsciente, segundo Dalgalarrondo
(2008), funciona regido pelo princípio do prazer por meio
do processo primário em forma de condensação e deslocamento. É isento de contradições mútuas
e não possui referência ao tempo: 1. Atemporalidade = No inconsciente, não existe tempo; ele é atemporal. Os processos
inconscientes não são ordenados temporalmente, não se alteram com a passagem do
tempo, não têm qualquer referência ao tempo. 2. Isenção de contradição = no sistema inconsciente, não há lugar para negação ou dúvida, nem graus
diversos de certeza ou incerteza. Tudo é absolutamente certo, afirmativo. 3. Princípio do prazer = o funcionamento do inconsciente não segue as
ordens da realidade, submete- se apenas ao princípio do prazer. Toda a
atividade inconsciente visa evitar o desprazer e proporcionar o prazer,
independentemente de exigências éticas ou realistas. A busca do prazer se dá
por meio da descarga das excitações, diminuindo-se ao máximo a carga de
excitações no aparelho psíquico. 4. Processo primário = as cargas energéticas (catexias) acopladas às representações psíquicas,
às ideias, são totalmente móveis.
A repressão,
para Paim (1993), é um processo que se inicia na primeira infância, sob a
influencia dos princípios éticos dominantes no ambiente, perdurante durante
toda a vida do individuo. O inconsciente contém apenas as partes da
personalidade que poderiam ser conscientes se o processo da cultura não as
tivesse reprimido.
Para Paim
(1993), existem dois tipos de inconsciente: um latente, capaz de tornar-se
consciente; e outro reprimido, que não é, em si próprio e sem mais trabalho,
capaz de tornar-se consciente.
ALTERAÇÕES DA
CONSCIÊNCIA - As alterações da consciência – patologia – são devidas a
perturbações da atividade fisiológica dos hemisférios cerebrais.
Para Dalgalarrondo
(2008), a obnubilação ou turvação da consciência é o rebaixamento da consciência em grau leve a moderado.
Para Paim
(1993) os estados patológicos da consciência são obnubilação, coma, delírio
oniróide, amência ou confusão mental, estados crepusculares e onirismo.
OBNUBILAÇÃO - A
obnubilação da consciência é um desvio mórbido do curso normal dos processos
psíquicos. Caracteriza-se, essencialmente, pela diminuição do grau de clareza
do sensório, com lentidão da compreensão, dificuldade da percepção e da
elaboração das impressões sensoriais. Os processos psíquicos são fragmentários
e os sentimentos muito imprecisos, sem que possam conduzir à execução de
qualquer ato volitivo. A obnubilação da
consciência representa um sintoma obrigatório na maior parte dos transtornos
mentais sintomáticos. Nesses casos, a obnubilação tem valor de sintoma
objetivo, visto que ela se reflete na expressão fisionômica da conduta do
enfermo.
COMA - Para Dalgalarrondo (2008), o coma é o grau mais profundo de rebaixamento do nível de consciência. No estado
de coma, não é possível qualquer atividade voluntária consciente. Além da ausência de qualquer indício de consciência, os seguintes sinais neurológicos podem ser verificados: movimentos
oculares errantes com desvios lentos e aleatórios, nistagmo, transtornos do
olhar conjugado, anormalidades dos reflexos oculocefálicos (cabeça de boneca) e
oculovestibular (calórico) e ausência do reflexo de acomodação.
Para Paim
(1993), o coma, em grego quer dizer sono profundo, é o estado mais acentuado de
perda da consciência, que se acompanha, geralmente, de perturbações
neurológicas e somáticas gerais. O enfermo conserva apenas a vida vegetativa,
estando bastante alterados, de acordo com a intensidade do estado, os
automatismos reflexos da vida de relação. No estado comatoso a consciência se
acha profundamente alterada ou quando abolida, tanto assim que o enfermo não
dispõe da capacidade de se manter aberto ao mundo externo e, desse modo, ter
consciência do vivo. Os estados de coma são observados em todas as formas
diretas ou indiretas de lesão cerebral.
DELÍRIO
ONIRÓIDE – Para Paim (1993), o delírio oniróide é uma síndrome observada no
curso de doenças febris, intoxicações crônicas e enfermidades cerebrais
orgânicas. Em sua fase de pleno desenvolvimento, caracteriza-se por estes
sintomas fundamentais: obnubilação da consciência, desorientação e alucinações.
Após uma fase premonitória, de curta duração, em que o doente apresenta
mal-estar, sono inquieto, sensações imprecisas, intranquilidade, cefaleia e
hiperestesia, surge no quadro clinico a excitação psicomotora. A percepção do
mundo exterior está completamente deformada pelas ilusões. As reações afetivas
são muito vivas e adequadas ao conteúdo da consciência. O enfermo participa
ativamente das cenas produzidas pela imaginação, as quais, geralmente, são
angustiosas. O delírio oniróide apresenta-se no curso de enfermidades tóxicas e
infecciosas.
AMÊNCIA - A
amência ou confusão mental é uma perturbação caracterizada principalmente por
turvação mais ou menos acentuada da consciência, acompanhada de fenômenos de
excitação psicomotora. É uma manifestação sintomática que se desenvolve de
forma aguda com um quadro de confusão fantástica, acompanhada de transtornos
ilusórios e alucinatórios, e inquietação motora. O quadro clínico corresponde
em grande parte à loucura alucinatória do puerpério. A amência aparece nas
doenças infeccionais e evolui para cura dentro de poucas semanas.
ESTADOS
CREPUSCULARES - Os estados crepusculares, segundo Dalgalarrondo
(2008), são os estados patológicos transitórios nos quais uma
obnubilação da consciência (mais ou menos perceptível) é acompanhada de
relativa conservação da atividade. Nos estados crepusculares, há, portanto,
estreitamento transitório do campo da consciência, afunilamento da consciência
(que se restringe a um círculo de ideias, sentimentos ou representações de importância
particular para o sujeito acometido), com a conservação de uma atividade
psicomotora global mais ou menos coordenada, permitindo a ocorrência dos
chamados atos automáticos.
Para Paim (1993), os estados crepusculares são um estreitamento
transitório da consciência, com a conservação de uma atividade mais ou menos
coordenada. Acompanha-se de falsa compreensão da situação. Em geral, a
percepção do mundo exterior é imperfeita ou de todo inexistente. Em alguns
casos é possível observar a presença de alucinações e ideias deliroides. A
conduta do enfermo durante o episódio pode parecer ordenada, principalmente
quando a obnubilação da consciência não é muito acentuada. Costumam desaparecer
rapidamente, mas em alguns podem durar muitos dias, apresentando-se e terminando
de modo súbito, acompanhando-se de amnesia em relação às vivências acessuais.
ONIRISMO - O
onirismo é empregado para designar os estados de sonho patológico,
caracterizado pela predominância extraordinária das representações imaginadas
sobre as perturbações sensoriais e sensitivas, que são acentuadamente
deformadas e amplificadas. No onirismo muitas imagens aparecem como nitidamente
alucinatórias, isto é, com uma contribuição sensorial nula, mesmo quando são
experimentadas como estéticas. O problema se coloca então na origem dessas
estasias. Os estados de onirismo costumam apresentar-se nas perturbações
mentais exógenas e na esquizofrenia.
ALTERAÇÕES DA
CONSCIÊNCIA DO EU - As alterações da consciência do eu são relacionadas com a
identidade pessoal, incluindo-se os transtornos de êxtase, vivência de
transformação do eu,
ÊXTASE - O êxtase
representa o mais elevado grau do sentimento vital. É a vivência de sentir-se
fora-de-si, uma transformação da consciência do eu e da consciência do mundo
que, em estado normal, se caracteriza pelo conhecimento das limitações da
própria existência pela individualização do confinamento em um corpo e uma
consciência individual. Como fenômeno psicopatológico é observado em alguns
enfermos histéricos e esquizofrênicos. Na maior parte dos casos de êxtase psicogênico
muito contribui para a autossugestão. O êxtase é observado com maior frequência
em enfermos histéricos e mais raramente na esquizofrenia.
A VIVÊNCIA DE
TRANSFORMAÇÃO DO EU - A vivência de transformação do eu são sentimentos de
transformação intima e interna, de metamorfose dos pensamentos e sentimento,
como algo vago e indefinido do eu empírico e sente o seu eu mudado ou
transformado sobrevém a vivencia de transformação da própria pessoa, que
consiste no fato de que o enfermo já não pensa, não sente e nem age como antes,
pois experimentou uma profunda mutação de sua personalidade, fenômeno observado
no inicio da esquizofrenia. O mesmo pode ocorrer em alguns quadros neuróticos,
quando o paciente se queixa de experimentar sentimentos de transformação dos
traços característicos de sua individualidade, especialmente durante o
tratamento pela psicoterapia.
TRANSITIVISMO -
O transitivismo é o fenômeno que consiste em o enfermo sentir-se transformado
em outra pessoa. Em psicopatologia, o termo serve para designar as alterações
observadas em alguns enfermos, que consistem no desaparecimento da relação
entre o corpo e os objetos do meio exterior. trata-se da impossibilidade de
estabelecer a distinção entre aquilo que é próprio do individuo e aquilo que
pertence ao meio exterior.
POSSESSÃO - A
possessão, segundo Paim (1993) é a alteração da consciência do eu caracterizada
pelo fato de individuo sentir-se possuído por entidades sobrenaturais,
especialmente, espíritos ou pelo demônio. Possui um caráter universal e é
explicado em termos de sugestão e como resultado de múltiplos desdobramentos do
eu. A crença em espíritos desempenha papel importante no aparecime3nto da
possessão, sendo, portanto, através da provocação artificial da possessão, o
homem primitivo até certo ponto apossou-se dela para procurar voluntariamente a
presença consciente do metafisico, e o desejo de gozar essa consciência da
presença divina oferecendo forte incentivo para cultivar estados de possessão.
Na clinica, observa-se que a possessão é acompanhada do sentimento de
desdobramento da personalidade e se manifesta em sua forma típica no delírio e
possessão demoníaca. As manifestações de possessão são encontradas
habitualmente nos médiuns espíritas e os casos que chegam ao hospital
psiquiátrico estão relacionados com enfermos histéricos e epilépticos. Existem
casos de possessão demoníaca em enfermos que havia padecido de encefalite
letárgica.
TRANSE - Para Dalgalarrondo (2008) é o estado de dissociação da consciência que se assemelha a sonhar acordado,
diferindo disso, porém, pela presença de atividade motora automática e
estereotipada acompanhada de suspensão parcial dos movimentos voluntários. O
estado de transe ocorre em contextos religiosos e culturais (espiritismo
kardecista, religiões afro-brasileiras e religiões evangélicas pentecostais e
neopentecostais). Os estados de transe e possessão culturalmente contextualizados
e sancionados são fenômenos muito difundidos nas várias culturas em todo o
mundo, vistos, na atualidade, como um recurso religioso e sociocultural que
permite às pessoas, sobretudo às mulheres, lidar com as dificuldades da vida por
meio de estratégias religiosas socialmente legitimadas.
ESTADOS SEGUNDOS - Para Dalgalarrondo (2008) é o estado patológico transitório semelhante ao estado crepuscular,
caracterizado por uma atividade psicomotora coordenada, a qual, entretanto,
permanece estranha à personalidade do sujeito acometido e não se integra a ela.
Para Paim (1993), os estados segundos é uma alteração da consciência
vigil que surge em consequência de acontecimentos desagradáveis. O enfermo
vivencia estados de consciência alternantes, correspondentes a duas
personalidades distintas: a consciente e a inconsciente ou reprimida, sem que
uma conserve lembrança da outra.
CONVICÇÃO DE
INEXISTÊNCIA PESSOAL - A convicção de inexistência pessoal é uma convicção do
próprio corpo ou de certos órgãos, ou de que o enfermo não se encontra vivo e
sim morto. O paciente apresenta uma forma de aniquilamento da própria
corporalidade. Encontra-se essa anomalia em enfermos esquizofrênicos ou em
casos de depressão grave.
ALCOOLISMO - Os
transtornos mentais alcoólicos ou embriaguez patológica observam-se habitualmente
alterações da consciência. Nos casos graves, verificam-se a obnubilação muito
acentuada, alucinações e impulsos patológicos. No delirium de abstinência alcoólica,
além do cortejo sintomático constituído pelas alucinações visuais e táteis,
desorientação alopsiquica, ideias deliroides e alterações de humor, notam-se
profundas alterações do sensório. A síndrome de Korsakov acompanha-se de
ligeira obnubilação da consciência.
EPILEPSIA - Na
epilepsia observam-se as alterações características da consciência. A supressão
rápida da consciência é uma das mais frequentes formas de inicio da crise
generalizada. A ausência se caracteriza, essencialmente, pela perda súbita e
momentânea da consciência.
ESQUIZOFRENIA -
Nos casos de esquizofrenia, observam-se alguns sintomas típicos como a vivência
de transformação do eu. Verifica-se, ainda, no transitivismo, que representa um
sintoma de primeira ordem para o diagnóstico da enfermidade.
EXPERIÊNCIA DE
QUASE-MORTE – Segundo Dalgalarrondo (2008), a experiência de
quase-morte, EQM (near death experience –NDE) é um estado especial de consciência é
verificado em situações críticas de ameaça grave à vida, como parada cardíaca, hipóxia
grave, isquemias, acidente automobilístico grave, entre outros, quando alguns
sobreviventes afirmam ter vivenciado as chamadas experiências de quase-morte (EQM).
São experiências muito rápidas (de segundos a minutos) em que um estado de
consciência particular é vivenciado e registrado por essas pessoas.
ALTERAÇÕES NORMAIS DA CONSCIÊNCIA - O sono normal.
Para Dalgalarrondo (2008), o sono é um estado especial da consciência, que
ocorre de forma recorrente e cíclica nos organismos superiores. É também, ao
mesmo tempo, um estado comportamental e uma fase fisiológica normal e
necessária do organismo. Dividem-se as fases do sono em duas, o sono
sincronizado, sem movimentos oculares rápidos (sono NREM), e o sono dessincronizado,
com movimentos oculares rápidos – rapid eye movements (sono REM).
O SONHO – Para Dalgalarrondo (2008), o sonho, fenômeno associado ao
sono, pode ser considerado uma alteração normal da consciência. É, sem dúvida, uma
experiência humana fascinante e enigmática. Os sonhos são vivências predominantemente visuais, sendo rara a ocorrência de percepções auditivas,
olfativas ou táteis.
REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO, Paulo.
Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
PAIM, Isaías.
Curso de psicopatologia. São Paulo: EPU, 1993.
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