terça-feira, 21 de abril de 2015

PSICOPATOLOGIA – ALTERAÇÕES DA ATENÇÃO


ATENÇÃO – É definida, conforme Paim (1993) como um processo psicológico, mediante o qual concentramos a nossa atividade psíquica sobre o estímulo que a solicita, seja este uma sensação, percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de fixar, definir e selecionar as percepções, as representações, os conceitos e elaborar o raciocínio. Não se trata de uma função psíquica autônoma, vez que se encontra vinculada à consciência, representando, com isso a faculdade de concentrar a atividade psíquica sobre determinado objeto. Na atenção, convém destacar a existência de diferentes níveis na atividade, verificando-se a elevação de nível na atividade perceptiva, motora e intelectual, bem como a predominância de um tipo de atividade sobre as demais no mesmo instante, em favor de uma atividade mais ou menos delimitada.
Para Dalgalarrondo (2008), a atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto. Ela se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas.
O estado de atenção é um estado com uma claridade especial e um movimento de tensão para frente, no sentido de uma conscientização nova e superior.
O campo de atenção é a área que o ato intencional delimita em relação ao restante dos conteúdos da consciência. Distinguem-se, com isso, o campo de objeto e o campo de força.

FORMAS DE ATENÇÃO – Para Paim (1993) as formas de atenção são sensorial, motora e intelectual.
A atenção sensorial corresponde a uma atividade de espera, mais estática do que dinâmica, como a espera auditiva. A atenção visual é acompanhada de movimentos coordenados dos globos oculares que se dirigem de um ponto a outro, modificando-se a abertura das pupilas e a curvatura do cristalino. Ocorrem outros fenômenos em relação à atenção auditiva e gustativa. Essa atenção dirige-se para percepções claras e nítidas.
A atenção motora consiste no aparecimento de movimentos voluntários de uma tensão ao mesmo tempo sensorial e intelectual.
A atenção intelectual representa o ato de reflexão, quando necessitamos resolver qualquer problema em que se encontra implicado o raciocínio. Essa atenção dirige-se para produtos do pensamento, da memória, da imaginação.
Também existem outras duas formas: a atenção espontânea e a voluntária.
A atenção espontânea resulta de uma tendência natural da atividade psíquica a orientar-se espontaneamente para as solicitações sensoriais ou sensitivas ou numa simples fixação espontânea dos fenômenos, sem que nisso intervenha um proposito consciente. Para Dalgalarrondo (2008), a atenção espontânea, que é aquele tipo de atenção suscitado pelo interesse momentâneo, incidental, que desperta este ou aquele objeto, geralmente está aumentada nos estados mentais em que o indivíduo tem pouco controle voluntário sobre sua atividade mental.
A atenção voluntária é aquela que exige certo esforço, no sentido de orientar a atividade psíquica para determinado fim e tem como finalidade a atividade psíquica, permitindo que as representações e os conceitos permaneçam maior ou menor tempo no campo da consciência. A afetividade participa inegavelmente na direção da atenção voluntária. Essa atenção voluntária, para Dalgalarrondo (2008), exprime a concentração ativa e intencional da consciência sobre um objeto.
Acrescenta Dalgalarrondo (2008), com relação à direção da atenção, pode-se discriminar duas forma básicas: a atenção externa, projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito, voltada para o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos dos sentidos. Difere-se da atenção interna, que se volta para os processos mentais do próprio indivíduo. É uma atenção mais reflexiva, introspectiva e meditativa. Em relação à amplitude da atenção, há a atenção focal, que se mantém concentrada sobre um campo determinado e relativamente delimitado e restrito da consciência, em contraposição à atenção dispersa, que não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo menos delimitado

QUALIDADES DA ATENÇÃO – Paim (1993) destaca duas qualidade na atenção: tenacidade e vigilância.
A tenacidade é a propriedade de manter a atenção orientada de modo permanente em determinado sentido. Dalgalarrondo (2008) entende que a tenacidade consiste na capacidade do indivíduo de fixar sua atenção sobre determinada área ou objeto. Na tenacidade, a atenção se prende a certo estímulo, fixando-se sobre ele.
A vigilância é a possibilidade de desviar a atenção para um novo objeto, especialmente para um estímulo do meio externo. Para Dalgalarrondo (2008), a vigilância é definida como a qualidade da atenção que permite ao indivíduo mudar seu foco de um objeto para outro.

ASPECTOS BÁSICOS DA ATENÇÃO – Dalgalarrondo (2008) subdivide-se a atenção em quatro aspectos básicos: 1. Capacidade e foco de atenção; 2. Atenção seletiva; 3. Seleção de resposta e controle executivo; 4. Atenção constante ou sustentada.

ALTERAÇÕES DA ATENÇÃO – Paim (1993) assinala que as alterações da atenção desempenham importante papel no processo de conhecimento, vez que decorrem de deturpações de outras funções das quais depende o funcionamento normal da atenção. A fadiga, os estados tóxicos e diversos estados patológicos determinam uma capacidade de concentrar a atenção. Sob a influência de terminados alimentos, de bebidas alcoólicas e de substâncias farmacológicas, a atenção pode experimentar alterações em seu rendimento, estimulando ou diminuindo sua eficiências.
A distração é uma incapacidade quase completa de fixar a atenção. Para Dalgalarrondo (2008), a distração é um sinal, não de déficit propriamente, mas de superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos ou objetos, com a inibição de tudo o mais. Há, nesse sentido, certa hipertenacidade e hipovigilância. A distrabilidade é a incessante flutuação da atenção entre diversos objetos, quando se observa a diminuição da atenção voluntária e a conservação da espontânea. Assim, a distraibilidade é, ao contrário da distração, um estado patológico que se exprime por instabilidade marcante e mobilidade acentuada da atenção voluntária, com dificuldade ou incapacidade para fixar-se ou deter-se em qualquer coisa que implique esforço produtivo.
A hiperprosexia é o aumento quantitativo da atenção, referindo-se a uma superatividade da atenção espontânea, caracterizando-se por uma extrema habilidade de atenção, que leva o individuo a atender, simultaneamente, às mais variadas impressões sensoriais, sem que fixe a atenção sobre um objeto determinado. Para Dalgalarrondo (2008) a hiperprosexia consiste em um estado da atenção exacerbada, no qual há uma tendência incoercível a obstinar- se, a deter-se indefinidamente sobre certos objetos com surpreendente infatigabilidade.
A hipoprosesxia consiste no enfraquecimento acentuado da atenção em todos os seus aspectos, observada nos estados infecciosos acompanhados de obnubilação da consciência, na embriaguês alcoólica aguda, em casos de transtornos mentais tóxicos, na amência e em certas reações vivenciais anormais.
A aprosexia é a falta absoluta de atenção, dependendo esse tipo de transtorno de acentuada deficiência intelectual ou de inibição cortical. Esse estado difere da insuficiente capacidade de concentração de origem afetiva e das manifestações de negativismo esquizofrênico. Observa-se a aprosexia na amência, no estupor e nos estados demenciais. Para Dalgalarrondo (2008), denomina-se aprosexia a total abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos utilizados.

Destaca Dalgalarrondo (2008) que no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), há dificuldade marcante de prestar atenção a estímulos internos e externos, pois o paciente, geralmente criança ou adolescente, tem a capacidade prejudicada em organizar e completar tarefas, assim como relutância em controlar seus comportamentos e impulsos. Pacientes com TDAH revelam, em estudos de imagem cerebral, alterações no sistema frontal. A atenção constante prejudicada parece ser um aspecto primário e central dessa condição. A dificuldade é maior quando se faz necessário um estado de vigilância para detectar informação infrequente, sobretudo quanto tal informação não é motivacionalmente importante para o sujeito. Crianças com TDAH têm prejuízo relacionado à filtragem de estímulos irrelevantes à tarefa (embora seja questionável se a filtragem atencional é ou não o principal problema das pessoas com TDAH).

REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PAIM, Isaías. Curso de psicopatologia. São Paulo: EPU, 1993.


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