ORIENTAÇÃO –
Conforme Paim (1993), orientação é um
complexo de funções psíquicas em virtude das quais temos consciência, em cada momento
de nossa vida, da situação real em que nos encontramos. Ela se encontra
intimamente ligada às noções de espaço e tempo. Para Dalgalarrondo (2008) é a capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente é
elemento básico da atividade mental.
O espaço ou a violação
da distância individual representa a violação das leis sociais e
consequentemente, constitui a invasão do espaço pessoal ou uma intrusão nas
fronteiras do eu individual. As pessoas não toleram sem um certo grau de ansiedade
a invasão do seu espaço pessoal. O hospital psiquiátrico se tornou uma
instituição condenada justamente porque os pacientes não dispõem de espaço
pessoal. O primeiro ato de degradação no hospital psiquiátrico é a perda de
identidade. O próprio ato de internação já representa uma violação da distancia
individual. Os enfermos se queixam de que o seu espaço pessoal é a todo
instante invadido por enfermeiras, auxiliares acadêmicos e médicos, que não têm
o menor respeito pela individualidade dos pacientes. Normalmente o ato de
internação supõe já o passo definitivo mediante o qual a sociedade repudia um
dos seus membros e o coloca em mãos do psiquiatra. Nessas condições, o
denominado louco não retornará à sociedade enquanto não for considerado
adaptado às normas vigentes. Por isso mesmo, o hospital psiquiátrico sempre
inspirou temor em decorrência não só das restrições impostas, mas, sobretudo,
por causa dos portões fechados a cadeados, que isolam o paciente da sociedade.
O tempo, com
base em Jaspers, envolve o saber sobre o tempo (refere-se ao tempo objetivo e
ao rendimento na avaliação correta ou falsa dos períodos de tempo), a vivência
do tempo (consequência total do tempo), tratar o tempo (situação básica de
temporalidade, na espera, no amadurecimento da decisão).
A orientação no
tempo e no espaço depende estritamente da percepção, da memoria e da continua
elaboração psíquica dos acontecimentos. É através da memória que se forma a
ligação entre o momento presente e o passado, estabelecendo-se a noção exata do
tempo ou da época em que nos encontramos.
A alopsiquica é
a orientação no tempo e no espaço. Para Dalgalarrondo (2008), a orientação alopsíquica diz respeito à capacidade de orientar-se em relação ao mundo, isto é, quanto
ao espaço (orientação espacial) e quanto ao tempo (orientação temporal).
A autopsiquica
é a indicação muito precisa sobre o estado global do psiquismo do paciente.
Dalgalarrondo (2008) assinala que a orientação autopsíquica é a orientação do indivíduo em relação a si mesmo. Revela se o sujeito
sabe quem é: nome, idade, data de nascimento, profissão, estado civil, etc.
ALTERAÇÕES DA
ORIENTAÇÃO – Para Paim (1993), nas alterações da orientação estudam-se a
desorientação auto e alopsiquica, e as falsas noções sobre a enfermidade e
sobre as relações do enfermo com as demais pessoas do ambiente. Essas alterações
dependem estritamente do tipo de perturbação das funções psíquicas a que se
acham subordinadas a orientação no tempo, no espaço e referente à própria personalidade.
Para Dalgalarrondo (2008), as alterações da orientação também podem
ser decorrentes de déficits de memória (como nas demências) e de qualquer
transtorno mental grave que desorganize o funcionamento mental global.
A desorientação
apática apresente o paciente completamente lucido e perceba com clareza e
nitidez sensorial o que se passa no mundo exterior, existe falta de interesse,
inibição psíquica ou insuficiente energia psíquica para elaboração das
percepções e do raciocínio. O enfermo percebe todas as particularidades do
ambiente, mas não tem capacidade para formar um juízo sobre a própria situação.
Para Dalgalarrondo (2008) essa desorientação ocorre por apatia ou
desinteresse profundos. Aqui, o indivíduo torna-se desorientado devido a uma
marcante alteração do humor e da volição, comumente em quadro depressivo. Por
falta de motivação e interesse, o indivíduo, geralmente muito deprimido, não
investe sua energia no mundo, não se atém aos estímulos ambientais e, portanto,
torna-se desorientado.
A desorientação
amnésica caracteriza-se pela incapacidade que o enfermo demonstra para fixar os
acontecimentos e, consequentemente, para orientar-se no tempo, no espaço e em
suas relações com as pessoas do ambiente.
A desorientação
amencial advém dos casos de obnubilação da consciência acompanhada de
dificuldades da compreensão e por consequência, de alterações da síntese perceptiva.
Influem também no aparecimento da desorientação amencial – perturbação observada
em sua forma característica no delirium de abstinência alcoólica -, onde se
verificam alucinações e transtornos da compreensão que dificultam a orientação.
A desorientação
delirante, apesar da completa lucidez da consciência, conservação da orientação
e inexistência de alterações sensoperceptivas, observa-se em alguns enfermos
mentais um tipo de desorientação, resultado da adulteração da situação no tempo
e no espaço. Nesses casos, é muito frequente observar uma dupla orientação, a
delirante ao lado da orientação normal, de sorte que os doentes, embora
orientados no tempo e no espaço, acreditam que se encontram numa prisão ou no
inferno. Dalgalarrondo (2008) observa que esse tipo de desorientação ocorre em indivíduos que se encontram imersos em profundo estado
delirante, vivenciando ideias delirantes muito intensas, crendo com convicção
plena que estão “habitando” o lugar (e/ou o tempo) de seus delírios. Nesses
casos, é comum a chamada dupla orientação, na qual a orientação falsa, de delirante, coexiste com a orientação correta.
O paciente afirma que está no inferno, cercado por demônios, mas também pode
reconhecer que está em uma enfermaria do hospital ou em um CAPS. Pode, ainda, ocorrer
de o paciente dizer, em um momento, que está na cadeia e que os enfermeiros são
carcereiros, e afirmar, logo em seguida, que são enfermeiros do hospital
(alternando sequencialmente os dois tipos de orientação).
DESDOBRAMENTO
DA PERSONALIDADE – Segundo Paim (1993), os casos de desdobramento da
personalidade, admite-se a possibilidade de apresentação alternativa, num mesmo
individuo, de duas personalidade em que a primeira ignorava completamente a existência
da segunda. A investigação científica do assunto mostrou a falta de consciência
de tais observações.
DESPERSONALIZAÇÃO
– Conforme Paim (1993), caracteriza-se por um inconcebível e inexplicável sentimento
de estranheza que, inicialmente relacionado com o meio exterior, estende-se
progressivamente à própria personalidade. O paciente assiste como um
espectador, indiferente e inerte ao desenrolar de sua vida psíquica, como se
tudo aquilo não estivesse relacionado com sua própria pessoa. Conserva um
invencível estado de apatia. As percepções, as ideias, assim como os atos que
porventura realize lhe são completamente estranhos.
REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO, Paulo.
Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
PAIM, Isaías.
Curso de psicopatologia. São Paulo: EPU, 1993.
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