A VIDA – Gordon Allport (1897-1967)
nasceu em Montezuma, Indiana, caçula de quatro filhos. Seu pai que estudava
Medicina, estava numa situação difícil contrabandeando drogas do Canadá para
Baltimore, tendo de fugir da polícia e retornar para sua cidade para abrir uma
clinica particular. A mãe era uma devotada religiosa que dominava a família,
severa, com forte senso do que é certo ou errado, rigorosa em seus ideais
morais. Ainda criança, Allport se isolou de outras crianças fora da família, inventando
o seu próprio circulo de atividades, pois que não se dava bem com seus irmãos
que não gostavam dele, esforçando-se para ser o centro das atenções com seus
poucos amigos. Foi daí que ele propôs a sua teoria da personalidade baseada no
fato de que os ecologicamente saudáveis não são afetados por eventos da
infância. A partir das suas condições de isolamento e rejeição na infância, ele
desenvolveu sentimentos de inferioridade compensando com luta para se
sobressair, buscando a identidade resultante desse sentimento. Na idade adulta,
ele continuou a se sentir inferior em relação ao seu irmão mais velho, com
cujas realizações tentava rivalizar, vez que ele obteve Ph.D em Psicologia e
tornou-se um famoso profissional, tornando-o a sombra de seu irmão. Para
afirmar sua individualidade, ele afirmava seus interesses eram independentes
dos sentimento na infância, formalizando a ideia com o conceito de autonomia
funcional. Formou-se e se encontrou com Freud num momento constrangedor de
silencio e sob a nomeação de que ele possuía uma personalidade compulsiva.
Abalado com esse fato, o encontro foi traumático, passando a dar mais atenção
ao consciente ou às motivações visíveis.
A PERSONALIDADE – Para Allport, a
personalidade é uma organização dinâmica, dentro do individuo, dos sistemas
psicofísicos que determinam comportamento e pensamentos característicos. Essa
organização dinâmica sinaliza que a personalidade estando sempre mudando e
crescendo, esse crescimento é organizado e não aleatorio. Na questão psicofísica,
a personalidade é composta de mente e corpo atuando juntos como uma unidade.
Todas as facetas da personalidade ativam ou orientam comportamentos e ideais
específicas, significando que tudo o que se pensa e faz é característico ou
típico da pessoa e que cada pessoa é diferente.
HEREDITARIEDADE E AMBIENTE – Enfatizando
a singularidade da personalidade, ele afirma que a hereditariedade fornece a
matéria prima da personalidade, como o físico, a inteligência e o temperamento,
podendo ser moldada, ampliada ou limitada pelas condições do ambiente,
demonstrando a importância da genética e aprendizagem. E que essa dotação
genética é responsável pela maior parte da singularidade e interage com o
ambiente social. Com isso ele considerava que a personalidade pode ser distinta
ou descontinua. E que existem duas personalidades: uma para a infância e outra
para a idade adulta. A personalidade adulta não é limitada pelas experiências
da infância. Ao enfatizar o consciente e não o inconsciente, o presente e o
futuro, e não o passado, reconheceu a singularidade da personalidade optando
por estudar a personalidade normal.
TRAÇO DE PERSONALIDADE – São reais e
existem em cada ser humano, não são constructos teóricos criados
para explicar comportamentos. Os traçados determinam ou causam o comportamento.
Os traços podem ser demonstrados empiricamente. São inter-relacionados e variam
de acordo com a situação. Enfim, traços são características diferenciadas que
regem o comportamento e são medidos num continuum, estando sujeitos a
influencias sociais, ambientais e culturais. Esses traços podem ser
individuais, que são peculiares da pessoa e definem o seu caráter; e os comuns,
que são compartilhados por uma serie de indivíduos, como os membros de uma
cultura.
DISPOSIÇÕES PESSOAIS – São traços
peculiares à pessoa, o contrário dos traços compartilhados por uma série de
pessoas.
Um traço cardinal é tão penetrante e
influente que afeta que todos os aspectos da vida, mais difundidos e poderosos.
Os traços centrais são aqueles temas que
melhor descrevem o comportamento humano, como agressividade, autopiedade e
cinismo. Esses traços são uma serie de traços especiais que descreve o
comportamento de uma pessoa.
Os traços secundários são menos
importantes que uma pessoa pode apresentar tênue ou inconscientemente.
O comportamento expressivo é um
comportamento espontâneo e aparentemente sem proposito, geralmente exibido sem
se estar ciente disso.
O comportamento instrumental é aquele conscientemente
planejado pelas necessidades de uma dada situação e elaborado para uma certa
finalidade, geralmente para provocar mudanças no ambiente.
HÁBITOS E ATITUDES – Os hábitos são
respostas especificas e inflexíveis a determinados estímulos. Vários hábitos
podem se combinar para formar um traço.
As atitudes são semelhantes aos traços,
mas elas tem objetos de referencia especificos e envolvem avaliações positivas
ou negativas, levando as pessoas a gostar ou odiar, aceitar ou rejeitar, ser a
favor ou contra, entre outras.
MOTIVAÇÃO – Considerou Allport que é o
estado atual da pessoa que é importante, uma vez que planos e interações
conscientes que são processos cognitivos são um aspecto vital para a
personalidade. As intenções deliberadas são uma parte essencial da
personalidade: o que se quer e aqui que se luta são chaves para entender-se o
comportamento.
A autonomia funcional dos motivos: os
motivos dos adultos maduros e emocionalmente saudáveis traz a ideia de que os
motivos no adulto normal e maduro são independentes das experiências da
infância nas quais eles originalmente surgiram.
A autonomia funcional persevrativa: é o
nível mais elementar, está voltada para comportamentos como vícios e ações
físicas repetitivas como formas costumeiras de executar tarefas diárias.
Assim, trata-se do grau de autonomia funcional relacionada a comportamentos de
nível inferior ou rotineiros.
A autonomia funcional do proprium: é
fundamental para a compreensão da motivação adulta, uma vez é derivada do
proprium que é o ego ou o self, sendo, portanto, o grau de autonomia funcional
associado aos valores, o que se gosta de fazer e o que se faz bem. O proprium
inclui os aspectos da personalidade que são distintos e próprios da vida
emocional. Esses aspectos são peculiares a cada um e unem as atitudes,
percepções e intenções.
O funcionamento autônomo é um processo de
organização que mantem o senso de self e determina a forma como se percebe o
mundo, o que se lembra das experiências e a direção que se toma na vida. Esses
processos perceptivos e cognitivos são seletivos, selecionam apenas os motivais
que são relevantes aos interesses e valores da massa de estímulos existente no
ambiente. Esse processo de organização é regido por três princípios:
organização do nível de energia, domínio e competência, e padronização
autônoma.
A organização do nível de energia explica
a aquisição dos novos motivos que surgem de uma necessidade para ajudar a
consumir o excesso de energia que poderia ser expressa de formas destrutivas ou
prejudiciais.
Domínio e competência refere-se ao nível
em que se decide satisfazer os motivos.
Padronização autônoma descreve uma luta
pela coerência e integração da personalidade.
FASES DE DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
– São identificadas sete fases que compreendem a infância até a adolescência,
denominada de desenvolvimento do proprium.
A fase do eu corporal surge durante os
primeiros três anos, quando as crianças ficam cientes da sua existência e
distinguem o seu próprio corpo dos objetos do ambiente.
A fase do Self-Identify ocorre quando as
crianças percebem que sua identidade permanece intacta apesar das várias
mudanças que estão ocorrendo.
A fase da autoestima é quando as crianças
aprendem a ter orgulho das suas realizações.
A fase de extensão do eu, surge no período
entre o quarto e o sexto ano, quando as crianças passam a reconhecer os objetos
e pessoas que fazem parte do seu mundo.
A fase da autoimagem ocorre quando as
crianças elaboram uma imagem real e uma outra idealista de si mesmas e do seu
comportamento e ficam cientes do fato de satisfazerem ou não as expectativas do
pai.
A fase do self como uma solução racional
é a fase que ocorre durante as idades de 6 a 12 anos, quando as crianças
começam a aplicar a razão e alógica à solução dos problemas cotidianos.
A fase da luta pela autonomia ocorre
durante a adolescência, os jovens começam a traçar metas e planos de longo
prazo.
Idade adulta quando os adultos normais e
maduros são funcionamento autônomos, independente dos motivos da infância. Eles
funcionam racionalmente no presente e criam conscientemente os seus próprios estilos
de vida.
A PERSONALIDADE ADULTA SAUDÁVEL – O adulto
maduro estende o seu senso de self para as pessoas e as atividades além do
self. Relaciona-se carinhosamente com as outras pessoas, exibindo intimidade,
compaixão e tolerância. A autoaceitação do adulto maduro o ajuda a obter
segurança emocional. Tem uma percepção realista da vida, desenvolve habilidades
pessoais e se compromete com algum tipo de trabalho; conserva um senso de humor
e objetivação do self (compreensão ou insight do próprio self)/ adota uma
filosofia de vida unificadora, que é responsável pela condução da
personalidade na direção de metas futuras.
CONCLUSÃO – Allport divergiu da
Psicanalise de Freud, não aceitando a teoria de que forças inconscientes
dominavam a personalidade de adultos normais e maduros; acreditava que pessoas
emocionalmente saudáveis agem de forma racional, consciente, cientes e
controlando várias das forças que as motivam. Para ele, o inconsciente só é
importante no comportamento neurótico ou problemático, alegando que todo ser
humano é guiado pelo presente e pela visão do futuro, ocupado em conduzir sua
vida para o futuro. Também se opôs a coletar dados de pessoas emocionalmente
perturbadas, vendo uma clara diferença: a personalidade anormal age num nível
infantil. A única maneira correta de estudar a personalidade seria coletar
dados de adultos emocionalmente saudáveis. Entendia que não há semelhanças
funcionais na personalidade de crianças e adultos, pessoas normais e anormais
ou animais e humanos. Ele dá ênfase na singularidade da personalidade de acordo
com o definido pelos traços de cada pessoa, particulares e específicos de cada
individuo.
REFERÊNCIAS
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