sexta-feira, 18 de julho de 2014

O TROVADORISMO, A TROVA E OS TROVADORES



A TROVA – O étimo trova é oriundo do provençal trobar e do latim tropare, com o significado de inventar, compor tropos que, por sua vez, é oriundo do grego tropos que significa volta, desvio, mudança, translação; e também do latim tropus, consistindo na translação de sentido de uma palavra ou expressão, de modo que passa a ser empregada em sentido diverso do que lhe é próprio.
Durante a Idade Média galaico-portugusa, o vocábulo trova era sinônimo de cantiga e, portanto, designava toda espcie de poema em que se produzia aliança entre a letra e a música.
Nos séculos XV e XVI, a palavra trova, feminino formado do verbo trovar, tinha um significado popular.
A partir do século XVI, com a desvinculação havida entre as palavras e a pauta musical, o termo fixou-se como equivalente de quadrinha.
A quadrinha
Denomina-se trova ou quadrinha ao poema de quatro versos, geralmente setissílabos, ou redondilha maior. Resumida, simples, completa, objetiva, versátul em sua mensagem, a trova é concorridíssimo formato de apresentação poética, desde a sertaneja, passando pela popular e erudita. De caráter variado, entre o cômico e satírico, comporta o romântico, o dramático e o filosófico.
São requisitos exigidos à trova ou quadrinha conter sete silabas poéticas (redondilha maior), ou cinco sílibadas (redondilha menor) em cada verso. O esquema rítmico é ABAB ou ABCB, sendo que, no segundo caso, os versos de rimas A e C  são brancos, ou seja, sem rimas entre si. Além disso, deve conter mensagem completa, de entendimento universal.

TROVADORISMO – Movimento poético iniciado no século XI, na Provença, e difundido pela Península Ibérica, Itália e Alemanha, entre os séculos XII e XIV.
A origem do lirismo medieval aponta pra as influencias ovidianas, vindas da poesia latina medieval e influencias da mariologia que seria secularizado, transformada em culto da dama; discutem-se as influencias árabes no lirismo provençal e ibérico, admitindo-se como fonte a canção popular dos próprios povos europeus.
O nascimento da lírica trovadoresca vincula-se às modificações dos costumes no princípio da Alta Idade Média: os senhores feudais, recolhidos nos seus castelos e usufruindo os ócios que a propseridade e a paz condinavam, entraram a estumular as atividades culturais, par a par com o requinte social, despontava o gosto pela poesia, música, pintura, artes manuais, entre outras.
Nesse ambiente aristocrático, os trovadores acompanhados de um segrel, menestrel ou jogral, e de instrumentos musicais como o alaúde, o saltério, a viola, a exabeba ou outros, entretinham os saraus com as suas cantigas, nas quais, estabelecendo o consórcio da letra com a música, exaltavam delícias de amor.
Desde a contemplação platonizante, que espiritualiza a mulher, até o intercurso carnal, todas as fases do comércio amoroso eram descritas e glosadas: fenhedor é o que suspira, precador, pede, suplica, entendedor, namorado, drut ou drudo, amante. O sentimento afetivo, tornado obsessivo, subordinava-se a um rígido código e às prescrições das cortes de amor. O trovador, obediente a estritas normas de cortesia – o amor cortês -, rendia vassalagem à dama (o serviço amoroso), prometendo servi-la e respeitá-la fielmente, ser discreto embora ciumento, empalidecer na sua presença, perturbar-se interiormente, ser temeroso de não ser correspondido, nada recusar à dama eleita, ter a sua imagem sempre na memória, ser paciente, humilde, atencioso, polido, cortes, não fazer confidências, desdenhar as glorias do mundo pelo amor à dama, não dar ouvidos a intrigantes, sofrer calado, mencionar comedidamente o seu amor (mesura), a fim de não incorrer no desagrado (sanha) da bem-amada.
Essa causística amorosa, na qual se pode entrever o influxo do culto a Nossa Senhora, pressupunha que o trovador estivesse entregue ao sentimento pela dama, carpindo um sofrimento sem remissão: tinha-se desse modo, a cantiga de amor. Quando a relação se efetuava com uma jovem do povo, a coita amorosa transferia-se para ela, e a cantiga se dizia de amigo. Ainda se cultivava a sátira, sirventês ou tenção, cantiga de escárnio e de maldizer. A produção trovadoresca encontra-se reunida nos cancioneiros.
A despeito das varias teses apresentadas, a origem do lirismo trovadoresco encerra um enirgma: a arábica; a médio-latinista, segundo a qual a gênese estaria no latim medieval; a folclórica, que atribui ao povo a paternidade da lírica occitânica; a litúrgica, que põe ênfase nas formas poéticas desenvolvidas no interior da igreja ao longo da Idade Média. De fato, nenhuma, de per si, satisfaz, os estudiosos não raro inclinam-se a admitir uma solução eclética.
O trovadorismo influenciou diretamente a balada inglesa, a poesia lírica alemã mais conhecida como lied, a do árabe espanhol, o rondeau francês, o Trecento italiano, sistematizando uma série de gêneros, tais como o debate, a pastorela, balada, cancion com envio, alba, sirvantês ou canção satírica.
Observa-se que a literatura provençal possibilitou a criação da poesia lírica que dominará a Europa por séculos.

TROVADOR - O trovador, troveiro ou trovista é o aytor de trovas, no sentido moderno do termo. A trobairitz é a trovadora. Designava na lírica trovadoresca, o poeta que compunha a letra e a melodia das cantigas e também as executava, acompanhado de instrumento musical. Pertencia, as mais das vezes, à aristocracia ou era fidalgo decaído: é precisamente a condição de nobre que lhe explica a múltipla capacidade, pois ao talento individual acrescentava o estudo das regras da Retórica, da Poética e da Música.
O vocábulo na sua forma originária e refletindo a expansão da moda provençal, entrou a ser cultivado no século XI.
A poesia dos trovadores galego-portugueses deve a sua feição especial à influência popular dos seus os principais trovadores, como Nuno Fernandes Tonel, João Zorro, Pero Meogo, Martim Codax, Airas Nunes, entre outros. Além desses destacam-se o erotismo moderno de Bernard de Ventadour que é considerado o amante exaltado de Eleonora de Aquitania e Hermengarda de Narbonne. Também o erudito e formalista Arnaut Daniel, o guerreiro furioso e raptor de mulheres Bertran de Born, o autor da história literária versificada de Peire d´Auvergne e as canções heterodoxas de Peire Cardenal. A poesia dos trovadores alcançou êxito internacional entre a literatura latina e a Renascença italiana, como a poesia profana ocidental, contando a lenda pessoal dos amores e desgraças, o cantar de amor, os cancioneiros da Ajuda, da Vaticana e do Códex Colocci-Brancutti, o cancioneiro geral de Garcia de Resende, as canções espirituosas de Neidhart Von Reuental, o Roman courtois de Chrétien de Troyes, a gesta romanorum e de Charlemagne, a gesta de Perceval e do Santo Gral, as figuras romanescas de Lancelot e Guinevere, Tristão e Isolda, o ciclo de Tróia, Em suma, a literatura aristocrática medieval fortaleceu a unidade europeia que o latim litúrgico tinha criado entre as nações principais, como os italianos e franceses, espanhóis e portugueses, provençais e catalães, ingleses, alemãos e holandeses, estendendo-se às fronteiras literárias da Europa até a Dinamarca, Suécia, Noruega e Islândia preparando a ocidentalização futura dos eslavos.

REFERÊNCIAS
BRASIL, Assis. Vocabulário técnico de literatura. São Paulo: Ediouro, 1979.
CARPEAUX, Otto Maria. História da literatura ocidental. Rio de Janeiro: Alhambra, 1978.
CARRASCO, J. Martines. Aos futuros poetas: aspectos didáticos do poema, silabação poética, versos, glossário de terminologia e conceitos. Itau/SP: Ottoni, 2006.
CASCUDO, Luis da Câmara. Literatura oral no Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EdUsp, 1984.
______. Vaqueiros e cantadores. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EdUsp, 1984.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. São Paulo: Ática, 1991.
KORYTOWSKI, Ivo. Manual do poeta. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2008.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004. 
POUND, Ezra. A arte da poesia. São Paulo: Cultrix, 1976.

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