A TROVA – O
étimo trova é oriundo do provençal trobar
e do latim tropare, com o significado
de inventar, compor tropos que, por sua vez, é oriundo do grego tropos que significa volta, desvio,
mudança, translação; e também do latim tropus,
consistindo na translação de sentido de uma palavra ou expressão, de modo que
passa a ser empregada em sentido diverso do que lhe é próprio.
Durante a
Idade Média galaico-portugusa, o vocábulo trova era sinônimo de cantiga e,
portanto, designava toda espcie de poema em que se produzia aliança entre a
letra e a música.
Nos séculos
XV e XVI, a palavra trova, feminino formado do verbo trovar, tinha um
significado popular.
A partir do
século XVI, com a desvinculação havida entre as palavras e a pauta musical, o
termo fixou-se como equivalente de quadrinha.
A quadrinha
Denomina-se
trova ou quadrinha ao poema de quatro versos, geralmente setissílabos, ou
redondilha maior. Resumida, simples, completa, objetiva, versátul em sua
mensagem, a trova é concorridíssimo formato de apresentação poética, desde a
sertaneja, passando pela popular e erudita. De caráter variado, entre o cômico
e satírico, comporta o romântico, o dramático e o filosófico.
São
requisitos exigidos à trova ou quadrinha conter sete silabas poéticas
(redondilha maior), ou cinco sílibadas (redondilha menor) em cada verso. O
esquema rítmico é ABAB ou ABCB, sendo que, no segundo caso, os versos de rimas
A e C são brancos, ou seja, sem rimas
entre si. Além disso, deve conter mensagem completa, de entendimento universal.
TROVADORISMO
– Movimento poético iniciado no século XI, na Provença, e difundido pela
Península Ibérica, Itália e Alemanha, entre os séculos XII e XIV.
A origem do
lirismo medieval aponta pra as influencias ovidianas, vindas da poesia latina
medieval e influencias da mariologia que seria secularizado, transformada em
culto da dama; discutem-se as influencias árabes no lirismo provençal e
ibérico, admitindo-se como fonte a canção popular dos próprios povos europeus.
O nascimento
da lírica trovadoresca vincula-se às modificações dos costumes no princípio da
Alta Idade Média: os senhores feudais, recolhidos nos seus castelos e
usufruindo os ócios que a propseridade e a paz condinavam, entraram a estumular
as atividades culturais, par a par com o requinte social, despontava o gosto
pela poesia, música, pintura, artes manuais, entre outras.
Nesse
ambiente aristocrático, os trovadores acompanhados de um segrel, menestrel ou
jogral, e de instrumentos musicais como o alaúde, o saltério, a viola, a
exabeba ou outros, entretinham os saraus com as suas cantigas, nas quais,
estabelecendo o consórcio da letra com a música, exaltavam delícias de amor.
Desde a
contemplação platonizante, que espiritualiza a mulher, até o intercurso carnal,
todas as fases do comércio amoroso eram descritas e glosadas: fenhedor é o que
suspira, precador, pede, suplica, entendedor, namorado, drut ou drudo, amante.
O sentimento afetivo, tornado obsessivo, subordinava-se a um rígido código e às
prescrições das cortes de amor. O trovador, obediente a estritas normas de
cortesia – o amor cortês -, rendia vassalagem à dama (o serviço amoroso),
prometendo servi-la e respeitá-la fielmente, ser discreto embora ciumento,
empalidecer na sua presença, perturbar-se interiormente, ser temeroso de não
ser correspondido, nada recusar à dama eleita, ter a sua imagem sempre na
memória, ser paciente, humilde, atencioso, polido, cortes, não fazer confidências,
desdenhar as glorias do mundo pelo amor à dama, não dar ouvidos a intrigantes,
sofrer calado, mencionar comedidamente o seu amor (mesura), a fim de não
incorrer no desagrado (sanha) da bem-amada.
Essa
causística amorosa, na qual se pode entrever o influxo do culto a Nossa
Senhora, pressupunha que o trovador estivesse entregue ao sentimento pela dama,
carpindo um sofrimento sem remissão: tinha-se desse modo, a cantiga de amor.
Quando a relação se efetuava com uma jovem do povo, a coita amorosa
transferia-se para ela, e a cantiga se dizia de amigo. Ainda se cultivava a
sátira, sirventês ou tenção, cantiga de escárnio e de maldizer. A produção
trovadoresca encontra-se reunida nos cancioneiros.
A despeito
das varias teses apresentadas, a origem do lirismo trovadoresco encerra um
enirgma: a arábica; a médio-latinista, segundo a qual a gênese estaria no latim
medieval; a folclórica, que atribui ao povo a paternidade da lírica occitânica;
a litúrgica, que põe ênfase nas formas poéticas desenvolvidas no interior da
igreja ao longo da Idade Média. De fato, nenhuma, de per si, satisfaz, os
estudiosos não raro inclinam-se a admitir uma solução eclética.
O
trovadorismo influenciou diretamente a balada inglesa, a poesia lírica alemã
mais conhecida como lied, a do árabe
espanhol, o rondeau francês, o Trecento italiano, sistematizando uma série de
gêneros, tais como o debate, a pastorela, balada, cancion com envio, alba,
sirvantês ou canção satírica.
Observa-se
que a literatura provençal possibilitou a criação da poesia lírica que dominará
a Europa por séculos.
TROVADOR - O
trovador, troveiro ou trovista é o aytor de trovas, no sentido moderno do
termo. A trobairitz é a trovadora. Designava na lírica trovadoresca, o poeta
que compunha a letra e a melodia das cantigas e também as executava,
acompanhado de instrumento musical. Pertencia, as mais das vezes, à
aristocracia ou era fidalgo decaído: é precisamente a condição de nobre que lhe
explica a múltipla capacidade, pois ao talento individual acrescentava o estudo
das regras da Retórica, da Poética e da Música.
O vocábulo
na sua forma originária e refletindo a expansão da moda provençal, entrou a ser
cultivado no século XI.
A poesia dos
trovadores galego-portugueses deve a sua feição especial à influência popular
dos seus os principais trovadores, como Nuno Fernandes Tonel, João Zorro, Pero
Meogo, Martim Codax, Airas Nunes, entre outros. Além desses destacam-se o
erotismo moderno de Bernard de Ventadour que é considerado o amante exaltado de
Eleonora de Aquitania e Hermengarda de Narbonne. Também o erudito e formalista
Arnaut Daniel, o guerreiro furioso e raptor de mulheres Bertran de Born, o
autor da história literária versificada de Peire d´Auvergne e as canções heterodoxas
de Peire Cardenal. A poesia dos trovadores alcançou êxito internacional entre a
literatura latina e a Renascença italiana, como a poesia profana ocidental,
contando a lenda pessoal dos amores e desgraças, o cantar de amor, os
cancioneiros da Ajuda, da Vaticana e do Códex Colocci-Brancutti, o cancioneiro
geral de Garcia de Resende, as canções espirituosas de Neidhart Von Reuental, o
Roman courtois de Chrétien de Troyes, a gesta romanorum e de Charlemagne, a
gesta de Perceval e do Santo Gral, as figuras romanescas de Lancelot e
Guinevere, Tristão e Isolda, o ciclo de Tróia, Em suma, a literatura
aristocrática medieval fortaleceu a unidade europeia que o latim litúrgico
tinha criado entre as nações principais, como os italianos e franceses,
espanhóis e portugueses, provençais e catalães, ingleses, alemãos e holandeses,
estendendo-se às fronteiras literárias da Europa até a Dinamarca, Suécia,
Noruega e Islândia preparando a ocidentalização futura dos eslavos.
REFERÊNCIAS
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Martines. Aos futuros poetas: aspectos didáticos do poema, silabação poética,
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