VONTADE – Segundo Dalgalarrondo (2008), a vontade é uma dimensão complexa da vida mental,
relacionada intimamente com as esferas instintiva, afetiva e intelectiva que
envolve aaliar, julgar, analisar, decidir, bem como o conjunto de valores,
princípios, hábitos e normas socioculturais do invidiuo. Não é ponto pacífico
se a vontade depende mais da esfera instintiva, de forças inconscientes, da
esfera afetiva, de valores culturais ou de componentes intelectuais
conscientes. Alguns autores identificam a vontade ao desejo consciente ou
inconsciente.
O INSTINTO –
Para Dalgalarrondo (2008), é definido como um modo relatyivamente organizado,
fixo e complexo de resposta comportamental de determinada espécie, que, por
meio dela, pode sobreviver melhor em seus ambiente natural.
A pulsão, para
a psicanálise, é o conjunto de elementos inatos, inconscientes, de origem
parcialmente biológica e parcialmente psicológica, que movem o sujeito em direção
à vida ou à morte.
DESEJO -
Dalgalarrondo (2008) define que é um querer, um anseio, um apetite, de natureza
consciente ou inconsciente, que visa sempre algo, que busca sempre a sua
safisfação.
Os desejos
diferenciam-se das necessidades, pois estas são fixas e inatas, independentes
da cultura e da historia individual, enquanto aqueles são móveis, moldados e
transformados social e historicamente.
A inclinação, por sua vez, é a tendência
a desejar, buscar, gostar, entre outros, intimamente relacionada à
personalidade do individuo, duradoura e estável, que inclui tantos aspectos
afetivos como volitivos. Trata-se de algo constitutivo do individuo e é, em
certa proporção, de natureza genética.
ATO VOLITIVO OU DE VONTADE – O ato
volitivo ou de vontade, segundo Dalgalarrondo
(2008). É traduzido pelas expressões típicas do eu quero ou eu não quero, que
caracterizam a vontade humana sensu strictu.
Os motivos, ou
razões intelectuais que influem no ato volitivo, dos móveis, ou influencias
afetivas atrativas ou repulsivas que pressionam a decisão volitiva para um lado
ou para outro.
O ato volitivo
se dá, de forma geral, como um processo, o chamado processo volitivo, no qual
se distinguem quatro etapas ou momentos fundamentais e em geral
cronologicamente seguidos.
FASES DO
PROCESSO VOLITIVO – A fase de intenção ou proposito, no qual, segundo
Dalgalarrondo (2008), se esboçam as tendências básicas do individuo, suas
inclinações e interesses.
A fase da
deliberação diz respeito à ponderação consciente, levando-se em conta tanto os
motivos como os moveis implicados no ato volitivo. É um momento de apreciação,
consideração dos vários aspectos e das implicações de determinada decisão.
A fase de
decisão propriamente dita é o momento culminante do processo volitivo, instante
que demarca o começo da ação, no qual os moveis e os motivos vencidos dão lugar
aos vencedores.
A fase de
execução constitui a etapa final do processo volitivo, na qual os atos
psicomotores simples e complexos decorrentes da decisão são postos em funcionamento,
a fim de realizar e consumar aquilo que mentalmente foi decidido e aprovado
pelo individuo.
O ato de
vontade pautado por essas quatro fases, em que ponderação, analise e reflexão
precedem a execução motora, é denominado ação voluntária.
ALTERAÇÕES DA
VONTADE – A hiperbulia ou abulia, para Dalgalarrondo (2008), o individuo refere
que não tem vontade para nada, sente-se muito desanimado, sem forças, sem
pique. A abulia não se confunde com a ataraxia, que é um estado de indiferença
volitiva e afetiva desejada e buscada ativamente pelo individuo. Trata-se aqui
do estado de imperturbabilidade almejada por místicos, ascetas e filósofos da
chamada escola estoica.
ATOS IMPULSIVOS
E COMPULSIVOS - O ato impulsivo, segundo Dalgalarrondo (2008), abole abruptamente
as fases de intenção, deliberação e decisão, em função tanto da intensidade dos
desejos ou temores inconscientes como da fragilidade das instancias psíquicas
implicadas na reflexão, na analise, na ponderação e na contenção dos impulsos
e dos desejos. O ato impulsivo apresenta as seguintes características: é
realizado sem fase previa de intenção, deliberação e decisão; é realizado, de
modo geral, de forma egossintomica, quando o individuo não percebe tal ato como
inadequado, não tenta evita-lo e considerando ser o ato impulsivo
frequentemente não é contrário aos valores morais e desejos de quem o pratica;
é geralmente associado a impulsos patológicos ou à incapacidade de tolerância à
frustração e necessária adapatação à realidade objetiva sendo que, dessa forma,
o individuo dominado pelo ato impulsivo tende a desconsiderar os desejos e as
necessidades das outras pessoas.
O ato
compulsivo ou compulsão, para Dalgalarrondo (2008), difere do ato impulsivo por
se reconhecido pelo individuo como indesejável e inadequado, assim como pela
tentativa de refreá-lo ou adiá-lo. A compulsão é geralmente uma ação motora
complexa que pode envolver desde atos compulsivos relativamente simples, como
coçar-se, picar-se, arranhar-se, até rituais compulsivos complexos, como tomar
banho de forma repetida e muito ritualizada, lavar as mãos e secar-se de modo
estereotipado, por inúmeras vezes seguidas, entre outros.
Os atos e os
rituais compulsivos, segundo Dalgalarrondo (2008), apresentam característica
como vivência frequente de desconforto subjetivo por parte do individuo que
realiza o ato compulsivo; são egodistônicos e experienciados como indesejáveis,
contrários aos valores morais e anseios de quem os sofre; tentativa de resistir
ou adiar à realização do ato compulsivo; sensação de alívio ao realizar o ato,
alívio de que logo é substituído pelo retorno do desconforto subjetivo e pela
urgência em realizar novamente o ato compulsivo; ocorrem frequentemente
associados a ideias obsessivas, muito desagradáveis, representando tentativas
de neutralizar tais pensamentos.
TIPOS DE
IMPULSOS E COMPULSÕES PATOLÓGICAS – Os impulsos e compulsões agressivas auto ou
heterodestrutivas, segundo Dalgalarrondo (2008), são automutilação e
frangofilia.
A automutilação
é o impulso ou compulsão seguido de comportamento de autolesão voluntária. São
pacientes que produzir escoriações na pele e nas mucosas, furam braços com
pregos e pedaços de vidro, arrancam os cabelos (tricotilomania), entre outras,
e são leves e moderadas quando observadas em individuos com transtorno da
personalidade bordeline, naqueles com transtorno obsessivo-compulsivo e em alguns deficientes mentais.
A frangofilia é
o impulso patológico de destruir os objetos que circundam o individuo. Está
associado geralmente a estados de excitação impulsiva intensa e agressiva.
A piromania é o
impulso de atear fogo a objetos, prédios, lugares, e ocorre principalmente em
indivíduos com transtornos da personalidade.
Os impulsos e compulsões relacionados à
ingestão de substancia ou alimentos possui o uso do agente psicotiavo que se
caracteriza por grande impulsividade.
A dispsomania ocorre como impulso ou
compulsão periódica para ingestão de grandes quantidades de álcool. O individuo
bebe seguidamente até ficar inconsciente; a crise é superada, voltando o
paciente à situação anterior, havendo geralmente amnesia retrograda para o
ocorrido.
A bulimia é o impulso irresistível de
ingerir rapidamente grande quantidade de alimentos, muitas vezes doces e
chocolates, em geral como ataque à geladeira. Após a ingestão rápida o paciente
bulímico sente-se culpado, com medo de engordar e induz vômitos ou toma
laxativos.
A potomania é a compulsão de beber água
ou outros líquidos sem que haja sede exagerada. Difere da polodipsia em que o
individuo sente sede exagerada geralmente devido a alterações metabólicas em
seu organismo.
Os atos e compulsões relacionados ao
desejo e comportamento sexual foram classificados e descritos como perversões
sexuais, preferindo-=se atualmente os termos atos impulsivos e compulsões sexuais.
O fetichismo é o impulso e o desejo
sexual concentrado em partes da vestimenta ou do corpo da pessoa desejada.
O exibicionismo é o impulso de mostrar os
órgãos genitais, geralmente contra a vontade da pessoa que observa. O ato de
mostrar já é suficiente para o individuo obter prazer; ele não busca o contato
sexual direto com a pessoa para a qual se exibe.
O voyeurismo é o impulso de obter prazer
pela observação visual de uma pessoa que está tendo relação sexual, ou
simplesmente está nua ou se despindo.
A pedofilia é o desejo sexual por
crianças ou púberes do sexo oposto; a pederastia é o desejo sexual por crianças
ou adolescentes do mesmo sexo.
A gerontofilia é o desejo sexual por
pessoas consideravelmente mais velhas.
A zoofilia ou bestialismo é o desejo
sexual dirigido a animais.
A necrofilia ou vampirismo é o caso de
desejo sexual por cadáveres.
A coprofilia é a busca do prazer com uso
de excrementos no ato sexual.
A ninfomania é o desejo sexual
quantitativamente muito aumentado na mulher e a satiríase, em nível muito
aumentado no homem.
Esses aumentos patológicos do desejo
sexual ocorrem principalmente em indivíduos em fase maniacal de transtorno
bipolar. Não é rara a compulsão à masturbação, vivenciada como intensa
necessidade de realizar atividade masturbatória repetitiva, até mesmo praticada
com desprazer.
Outros impulsos e compulsões são
identificados como Poriomania que é o impulso e o comportamento de andar a
esmo, viajar, desaparecer de casa, ganhar o mundo.
A cleptomania ou roubo patológico é o ato
impulsivo ou compulsivo de roubar, precedido geralmente de intensa ansiedade e
apreensão, que apenas se alivia quando indivíduo realiza o roubo.
A compulsão por comprar é um tipo de
compulsão em que o individuo sente necessidade premente de compra objetos de
forma compulsiva, sem observar a utilidade e sem ter necessidade ou poder
utilizar adequadamente. No momento em que realiza a compra, sente um certo alivio,
que geralmente é de curta duração, seguindo-se de sentimentos de culpa e
arrependimento.
O negativismo é a oposição do individuo
às solicitações do meio ambiente.
A sitiofobia é a recusa sistemática de
alimentos, geralmente revelando negativismo profundo. O termo também é
utilizado para designar a recusa de alimentos associada a quadros delirantes persecutórios
(delírio de envenenamento) ou depressivos graves.
A obediência automática é o oposto do negativismo,
quando o individuo obedece automaticamente como um robô teleguiado, às
solicitações de pessoas que entrem em contato.
Os fenômenos em eco, ecopraxia, ecolalia,
ecomimia e ecografia, o indivíduo repete de forma automática, durante a
entrevista, os últimos atos do entrevistador, suas palavras ou silabas, reações
mímicas ou escrita. Esses fenômenos revelam acentuada perda do controle da
atividade voluntária e sua substituição por atos automáticos, sugeridos pelo
ambiente circundante.
O automatismo refer-se aos sintomas
psicomotores, como movimentos de lábios, língua e deglutição,
abotoar/desabotoar a roupa, deambular a esmo, associados à crise epiléptica do
tipo parcial complexa, na qual já alteração do nível de consciência, geralmente
acompanhada de automatismos psicomotores. O automatismo psíquico representa o
surgimento de pensamentos, representações, lembranças e comportamentos apenas
muito precariamente controlados pela atenção voluntária e pelos desejos
conscientes. O automatismo mental refere-se a fenômenos psíquicos sentidos pelo
paciente, mas não reconhecidos por ele como provindo de sua personalidade por
atribui-los a uma ação externa.
AS ALTERAÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE – Para Dalgalarrondo (2008), assim como o ato motor
é componente final do ato volitivo, as alterações psicomotoras frequentemente
são expressão final de alterações da volição.
A agitação
psicomotora é uma das mais comuns, implicando a aceleração e exaltação de toda
a atividade motora do individuo, em geral secundária a taquipsiquismo
acentuado. Comumente se associa à hostilidade e à heteroagressividade. A agitação
psicomotora é um sinal psicopatológico muito frequente e relativamente inespecífico,
sendo vista todos os dias nos serviços de emergencia e internação.
A lentificação
psicomotora reflete a lentificação de toda a atividade psíquica,
bradipsiquismo. Toda a movimentação voluntária torna-se lenta, difícil, pesada,
podendo haver período de latência entre uma solicitação ambiental e a resposta
motora do paciente.
O estupor é a
perda de toda a atividade espontânea que atinge o individuo globalmente, na
vigência de um nível de consciência aparentemente preservado e de capacidade sensório-motora
para reagir ao ambiente.
A catalepsia é
um acentuado exagero do tônus postural, com grande redução da mobilidade
passiva dos vários segmentos corporais e com hipertonia muscular global de tipo
plástico.
A cataplexia é
a perda abrupta do tônus muscular, geralmente acompanha de queda ao chão.
Estereotipias motoras
são repetições automáticas e uniformes de determinado ato motor complexo,
indicando geralmente marcante perda do controle voluntário sobre a esfera
motora. O paciente repete o mesmo gesto com as mãos dezenas ou centenas de
vezes em um mesmo dia. Observam-se estereotipias motoras na esquizofrenia,
sobretudo nas formas crônicas e catatônicas, assim como na deficiência mental.
Os tiques são
atos coordenados, repetitivos, resultantes de contrações súbitas, breves e
intermitentes, envolvendo geralmente um grupo de músculos que atua em suas
relações sinérgicas normais. Acentuam-se muito com a ansiedade. Os tiques
geralmente são reflexos condicionados, os quais surgiram associados a
determinados estímulos emocionais ou físicos, mantendo-se forma estereotipada,
como um movimento involuntário.
Na conversão há
o surgimento abruto de sintomas físicos, como paralisias, anestesias,
parestesias, cegueiras, de origem psicogênica. A conversão motora ocorre geralmente
em situação estressante, de ameaça ou conflito intrapsíquico ou interpessoal
significativos para o individuo. Segundo a teoria psicanalítica, a conversão
expressa a representação simbólica de um conflito psíquico em termos de
manifestações motoras ou sensoriais. A conversão ocorre sobretudo na histeria e
no transtorno da personalidade histriônica.
REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO,
Paulo. Psicopatologia
e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PAIM, Isaías.
Curso de psicopatologia. São Paulo: EPU, 1993.
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