OS UPANIXADES
A felicidade é
para um o que é para os outros. Devo fazer aos outros o que faço a mim.
(Escrituras Shruti hindus)
O apeíron é o principio e o elemento das
coisas existentes. Pois tudo ou é principio ou procede de um princípio, mas do
ilimitado não há principio: se houvesse, seria seu limite. E ainda: sendo
princípio, deve também ser não-engendrado e o indestrutível, porque o que foi
gerado necessariamente tem fim e há um término para toda destruição. [...] O
verdadeiro critério para o julgamento de cada homem é ser ele propriamente um
ser que absolutamente não deveria existir, mas se penitencia de sua existência
pelo sofrimento multiforme e pela morte: o que se pode esperar de um tal ser?
Não somos todos pecadores condenados à morte? Penitenciamo-nos de nosso
nascimento, em primeiro lugar, pelo viver e, em segundo lugar, pelo morrer. O
que vale vosso existir? E, se nada vale, para que estás aí? Por vossa culpa,
observo eu, demorais-vos nessa existência. Com a morte tereis de expiá-la.
CHARLES DUMOULIN (1500–1566)
A prática
comercial diária mostra que a utilidade do uso de uma soma considerável de
dinheiro não é pequena... nem os campos frutificam sozinhos, sem gastos,
trabalho e industria dos homens; o dinheiro, da mesma forma, ainda que deva ser
devolvido dentro de um prazo, proporciona nesse período um produto
considerável, pela industria do homem. E por vezes priva a quem empresta de
tudo aquilo que traz a quem o toma emprestado... Portanto, toda a condenação,
todo o ódio à usura, devem ser compreendidos como aplicáveis à usura excessiva
e absurda, não à usura moderada e aceitável.
(De um advogado francês do séc. XVI justificando a usura, recolhido do
livro História da riqueza do homem, de Leo Huberman)
JEAN BAUDRILLARD (1929-2007)
Existe uma fábula
de Nasreddin na qual ele é visto todos os dias passar a fronteira com mulas
carregadas de sacos. Cada vez que passa, ele é revistado, inspecionam os sacos,
mas não se encontra nada. E Nasreddin continua a passar a fronteira com suas
mulas. Muito depois, perguntaram-lhe o que é que ele poderia estar
contrabandeando. E Nasreddin responde: “Eu fazia contrabando de mulas”.
GEORGES BATAILLE (1897-1962)
[...] Creio que o
erotismo tem para os homens um sentido que o esforço cientifico não pode
atingir. O erotismo só pode ser considerado se levarmos o homem em
consideração. [...] o erotismo é a aprovação da vida até a morte.
EDGAR MORIN (1921)
[...] Não
partilho nada da fé da religião revelada. Espinoza fez o ato filosófico mais
importante dos tempos modernos, isto é, ele suprimiu o Deus exterior ao mundo e
criador do mundo a partir do exterior, como uma espécie de arquiteto, de
produtor para dizer que a força criadora está no interior do mundo físico, isto
é, ele suprimiu o que se chama de transcendência, um Deus superior e exterior,
para conceber uma força criadora que está na natureza e no mundo. E é essa
filosofia, que encontramos em Hegel e em outros, que me convém.
DOUGLAS KELLNER (1943)
[...] profundas
questões filosóficas sobre a natureza da realidade, da subjetividade e do ser
humano no mundo da tecnologia: o que é autenticamente humano quando se tornam
indefinidas as fronteiras entre a humanidade e tecnologia? O que sobre das
noções de autenticidade e identidade numa implosão programa entre tecnologia e
ser humano? O que é realidade, se ela é capaz de tanta simulação? De que modo a
realidade está hoje sendo corroída, e quais são as consequências disso?
Certamente, William Gibson não responde a essas perguntas, mas pelo menos suas
obras as formulam e nos obrigam a pensar nelas.
(A cultura da mídia)