PSICOPATOLOGIA
- O termo psicopatologia é de origem grega, reunindo os termos psikhé, alma, e patologia, objetivando o
estudo da vida psíquica anormal independente dos problemas clínicos, com a
função de esclarecimento, ordenação e cultura, visando conhecer os fenômenos
psíquicos patológicos e oferecer à psiquiatria as bases para a compreensão de
sua origem, mecanismo intimo e futuro desenvolve.
A
psicopatologia é o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença
mental – suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e
suas formas de manifestação. Pode ser definida como o conjunto de conhecimentos
referentes ao adoecimento mental do ser humano. O campo da psicopatologia inclui um grande número de fenômenos
humanos especiais, associados ao que se denominou historicamente de doença mental. São vivências, estados mentais e
padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade
psicológica (as vivências dos doentes mentais possuem dimensão própria,
genuína, não sendo apenas “exageros” do normal) e, por outro, conexões
complexas com a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é um mundo
totalmente estranho ao mundo das experiências psicológicas “normais”).
A psicopatologia
não se confunde com a neurologia das chamadas funções corticais superiores (não
se resume, portanto, a uma ciência natural dos fenômenos relacionados às zonas
associativas do cérebro lesado), nem à hipotética psicologia das funções
mentais desviadas. A psicopatologia é, pois, uma ciência autônoma, e não um
prolongamento da neurologia ou da psicologia. Dessa forma, é uma ciência
básica, que serve de auxílio à psiquiatria, a qual é, por sua vez, um
conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta.
O domínio da psicopatologia
estende-se a todo fenômeno psíquico que possa apreender-se em conceitos de
significação constantes e com possibilidade de comunicação. Assim, a
psicopatologia, como ciência, exige um pensamento rigorosamente conceptual, que
seja sistemático e que possa ser comunicado de modo inequívoco. Na prática
profissional, entretanto, participam ainda opiniões instintivas, uma intuição pessoal
que nunca se pode comunicar. Dessa forma, a ciência psicopatológica é tida como
uma das abordagens possíveis do homem mentalmente doente, mas não a única.
PSICOPATOLOGIA
DESCRITIVA VERSUS PSICOPATOLOGIA DINÂMICA - Para a psiquiatria descritiva, interessa fundamentalmente a forma das alterações psíquicas, a estrutura dos sintomas,
aquilo que caracteriza a vivência patológica como sintoma mais ou menos típico.
Já para a psiquiatria
dinâmica, interessa o conteúdo da vivência, os movimentos internos
de afetos, desejos e temores do indivíduo, sua experiência particular, pessoal,
não necessariamente classificável em sintomas previamente descritos. A boa
prática em saúde mental implica a combinação hábil e equilibrada de uma
abordagem descritiva, diagnóstica e objetiva e uma abordagem dinâmica, pessoal
e subjetiva do doente e de sua doença.
PSICOPATOLOGIA
MÉDICA VERSUS PSICOPATOLOGIA EXISTENCIAL - A perspectiva médico-naturalista trabalha com uma noção de homem
centrada no corpo, no ser biológico como espécie natural e universal. Assim, o
adoecimento mental é visto como um mau funcionamento do cérebro, uma
desregulação, uma disfunção de alguma parte do “aparelho biológico”. Já na perspectiva existencial, o doente é visto principalmente
como “existência singular”, como ser lançado a um mundo que é apenas natural e
biológico na sua dimensão elementar, mas que é fundamentalmente histórico e
humano.
PSICOPATOLOGIA COMPORTAMENTAL-COGNITIVISTA
VERSUS PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA - Na visão comportamental, o homem é visto como um conjunto de comportamentos observáveis,
verificáveis, que são regulados por estímulos específicos e gerais, e por certas
leis e determinantes do aprendizado. Associada a essa visão, a perspectiva cognitivista centra atenção sobre as
representações cognitivas conscientes de cada indivíduo. Na visão psicanalítica,
os sintomas e síndromes mentais são considerados formas de expressão de
conflitos, predominantemente inconscientes, de desejos que não podem ser
realizados, de temores aos quais o indivíduo não tem acesso. O sintoma é encarado,
nesse caso, como uma “forma ção de compromisso”, um certo arranjo entre o
desejo inconsciente, as normas e as permissões culturais e as possibilidades reais
de satisfação desse desejo.
PSICOPATOLOGIA
CATEGORIAL VERSUS PSICOPATOLOGIA DIMENSIONAL - As entidades nosológicas ou
transtornos mentais específicos podem ser compreendidos como entidades
completamente individualizadas, com contornos e fronteiras bem-demarcados. Assim,
entre a esquizofrenia e os transtornos afetivos bipolares e os delirantes, haveria,
por exemplo, uma fronteira nítida, configurando-os como entidades ou categorias
diagnósticas diferentes e discerníveis na sua natureza básica. Em contraposição
a essa visão “categorial”, alguns autores propõem uma perspectiva “dimensional”
em psicopatologia, que seria hipoteticamente mais adequada à realidade clínica.
Haveria, então, dimensões como, por exemplo, o espectro esquizofrênico, que
incluiria desde formas muito graves, tipo “demência precoce” (com grave deterioração
da personalidade, embotamento afetivo, muitos sintomas residuais), formas menos
deteriorantes de esquizofrenia, formas com sintomas afetivos, chegando até um
outro pólo, de transtornos afetivos, incluindo formas com sintomas psicóticos
até formas puras de depressão e mania (hipótese esta que se relaciona à antiga
noção de psicose
unitária).
PSICOPATOLOGIA
BIOLÓGICA VERSUS PSICOPATOLOGIA SOCIOCULTURAL - A psicopatologia biológica enfatiza os aspectos cerebrais, neuroquímicos ou
neurofisiológicos das doenças e dos sintomas mentais. Em contraposição, a perspectiva
sociocultural visa estudar os transtornos mentais como comportamentos desviantes
que surgem a partir de certos fatores socioculturais, como discriminação, pobreza,
migração, estresse ocupacional, desmoralização sociofamiliar, etc. Os sintomas
e os transtornos devem ser estudados, segundo essa visão, no seu contexto eminentemente
sociocultural, simbólico e histórico.
PSICOPATOLOGIA
OPERACIONALPRAGMÁTICA VERSUS PSICOPATOLOGIA
FUNDAMENTAL - Na visão operacional-pragmática, as definições básicas de
transtornos mentais e sintomas são formuladas e tomadas de modo arbitrário, em
função de sua utilidade pragmática, clínica ou orientada à pesquisa. Por sua vez,
o projeto de psicopatologia fundamental, proposto pelo psicanalista francês Pierre
Fedida, visa centrar a atenção da pesquisa psicopatológica sobre os fundamentos
de cada conceito psicopatológico, com ênfase à noção de doença mental como pathos, que significa sofrimento, paixão e passividade.
A
SEMIOLOGIA – A semiologia é a ciência dos signos e campo de
grande importância para o estudo da linguagem (semiótica linguística), da
música (semiologia musical), das artes em geral e de todos os campos de
conhecimento e de atividades humanas que incluam a interação e a comunicação
entre dois interlocutores por meio de um sistema de signos. Entende-se por semiologia médica o estudo dos sintomas e dos sinais
das doenças, estudo este que permite ao profissional de saúde identificar
alterações físicas e mentais, ordenar os fenômenos observados, formular
diagnósticos e empreender terapêuticas. Semiologia psicopatológica é, por sua vez, o estudo dos sinais e sintomas dos
transtornos mentais.
Três campos distintos no interior da semiologia: a semântica, responsável pelo estudo das relações
entre os signos e os objetos a que tais signos se referem; a sintaxe, que compreende as regras e as leis
que regem as relações entre os vários signos de um sistema de signos; e,
finalmente, a pragmática, que se ocupa das relações entre os
signos e os usuários, os sujeitos que os utilizam concretamente.
O signo é o elemento nuclear da semiologia; ele está para a
semiologia assim como a célula está para a biologia e o átomo para a física. O
signo é um tipo de sinal. Define-se
sinal como qualquer estímulo emitido pelos objetos do mundo.
A semiologia
médica e a psicopatológica tratam particularmente dos signos que indicam a
existência de sofrimento mental, transtornos e patologias. A semiologia (tanto
a médica como a psicopatológica) pode ser dividida em duas grandes subáreas: semiotécnica e semiogênese.
A semiotécnica refere-se a técnicas e procedimentos
específicos de observação e coleta de sinais e sintomas, assim como à descrição
de tais sintomas. No caso dos transtornos mentais, a semiotécnica concentra-se
na entrevista direta com o paciente, seus familiares e demais pessoas com as
quais convive. Fundamental, sobretudo para a semiotécnica em psicopatologia, é
a observação minuciosa, atenta e perspicaz do comportamento do paciente, do
conteúdo de seu discurso e do seu modo de falar, da sua mímica, da postura, da
vestimenta, da forma como reage e do seu estilo de relacionamento com o entrevistador,
com outros pacientes e com seus familiares.
A semiogênese é o campo de investigação da
origem, dos mecanismos, do significado e do valor diagnóstico e clínico dos
sinais e sintomas.
A ORDENAÇÃO DOS
FENÔMENOS EM PSICOPATOLOGIA – O estudo da doença mental, como o de qualquer outro
objeto, inicia pela observação cuidadosa de suas manifestações. A observação
articula-se dialeticamente com a ordenação dos fenômenos. Isso significa que,
para observar, também é preciso produzir, definir, classificar, interpretar e
ordenar o observado em determinada perspectiva, seguindo certa lógica. Classicamente,
distinguem-se três tipos de fenômenos humanos para a psicopatologia: 1. Fenômenos semelhantes em todas as pessoas; 2. Fenômenos em parte semelhantes e em
parte diferentes. São fenômenos
que o homem comum experimenta, mas apenas em parte são semelhantes aos que o
doente mental vivencia;
CONCEITO DE
NORMALIDADE - O conceito de normalidade em psicopatologia também implica a
própria definição do que é saúde e doença mental.
Psiquiatria
legal ou forense: a determinação de anormalidade psicopatológica pode ter importantes implicações
legais, criminais e éticas, podendo definir o destino social, institucional e
legal de uma pessoa.
Epidemiologia
psiquiátrica: a definição de
normalidade é tanto um problema como um objeto de trabalho e pesquisa. A epidemiologia,
inclusive, pode contribuir para a discussão e o aprofundamento do conceito de normalidade
em saúde.
Psiquiatria
cultural e etnopsiquiatria: o conceito de normalidade em psicopatologia impõe a
análise do contexto sociocultural; exige necessariamente o estudo da relação
entre o fenômeno supostamente patológico e o contexto social no qual tal fenômeno
emerge e recebe este ou aquele significado cultural.
Planejamento em
saúde mental e políticas de saúde: estabelece critérios de normalidade, principalmente no sentido
de verificar as demandas assistenciais de determinado grupo populacional, as
necessidades de serviços, quais e quantos serviços devem ser colocados à
disposição desse grupo, etc.
Orientação e
capacitação profissional: são importantes na definição de capacidade e adequação de
um indivíduo para exercer certa profissão, manipular máquinas, usar armas,
dirigir veículos, etc.
Prática clínica:
capacidade de
discriminar, no processo de avaliação e intervenção clínica, se tal ou qual
fenômeno é patológico ou normal, se faz parte de um momento existencial do
indivíduo ou é algo francamente patológico.
Os principais
critérios de normalidade utilizados em psicopatologia são: 1. Normalidade como ausência de doença;
2. Normalidade ideal: a normalidade aqui é tomada como uma certa “utopia”. depende,
portanto, de critérios socioculturais e ideológicos arbitrários, e, às vezes,
dogmáticos e doutrinários; 3. Normalidade estatística: identifica norma e frequência que se aplica especialmente
a fenômenos quantitativos, com determinada distribuição estatística na
população geral (como peso, altura, tensão arterial, horas de sono, quantidade de
sintomas ansiosos, etc.); 4. Normalidade como bem-estar: definida pela OMS a saúde como o completo bem-estar físico,
mental e social, e não simplesmente como ausência de doença; 5. Normalidade funcional: baseada em aspectos funcionais e não
necessariamente quantitativos; 6. Normalidade como processo: considera os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial,
das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises, de
mudanças próprias a certos períodos etários; 7. Normalidade subjetiva: ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação
a seu estado de saúde, às suas vivências subjetivas; 8. Normalidade como liberdade: a doença mental é a perda da
liberdade existencial e a saúde mental se vincularia às possibilidades de
transitar com graus distintos de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio
destino; 9. Normalidade
operacional: critério
assumidamente arbitrário, com finalidades pragmáticas explícitas.
SÍNDROMES E ENTIDADES NOSOLÓGICAS - As síndromes são agrupamentos relativamente constantes e estáveis de
determinados sinais e sintomas. A síndrome é puramente uma definição descritiva
de um conjunto momentâneo e recorrente de sinais e sintomas. Denominam-se entidades nosológicas, doenças ou transtornos específicos os fenômenos mórbidos nos quais podem se identificar (ou
pelo menos presumir com certa consistência) certos fatores causais (etiologia), um curso relativamente homogêneo, estados terminais típicos, mecanismos psicológicos e psicopatológicos característicos, antecedentes genético-familiares algo específicos e respostas a tratamentos mais ou menos previsíveis.
FORMA E CONTEÚDO DOS SINTOMAS - Em geral, quando se estudam os
sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos costumam ser enfocados: a forma dos sintomas, isto é, sua estrutura básica,
relativamente semelhante nos diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia
obsessiva, labilidade afetiva, etc.), e seu conteúdo, ou seja, aquilo que preenche a alteração estrutural
(conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc.). De modo geral, os
conteúdos dos sintomas estão relacionados aos temas centrais da existência humana, tais como sobrevivência e
segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc.), religiosidade,
entre outros.
SENSAÇÃO
– A sensação é o fenômeno psíquico elementar que resulta da ação da luz, do
som, do calor sobre os órgãos dos sentidos. Existe uma relação causal entre o
estimulo exterior e o estado psicológico no qual se designa a sensação.
As
sensações são classificadas em dois grupos: externas e internas.
As sensações
externas correspondem as sensações que refletem as propriedades e aspectos
isolados das coisas e fenômenos que se encontram no mundo exterior. São chamadas
de sensibilidade especial pelo fato d que essas sensações se originam de
aparelhos especiais (receptores), os órgãos dos sentidos. Nesse gripo estão
incluídas as sensações visuais, auditivas, gustativas, olfativas e táteis.
As
sensações internas são aquelas que refletem os movimentos de partes isoladas do
corpo e o estado dos órgãos internos. Ao conjunto dessas sensações se denomina
sensibilidade geral. Os receptores dessas sensações se encontram nos músculos,
nos tendões e na superfície dos diferentes órgãos, englobando três tipos de
sensações: motoras, de equilíbrio e orgânicas.
Denomina-se
estímulo à causa física – som, luz – que atua sobre os órgãos dos sentidos para
produzir a sensação e excitação, à modificação física que a ação do excitante
produz no órgão sensorial. Existem quatro tipos de excitantes: mecânicos,
físicos (luz, som, calor), químicos e elétricos.
Para que
se processe uma sensação são indispensáveis> 1 – a excitação de um órgão
sensorial (receptor; 2 – a transmissão da excitação através de vias sensitivas
ao centro cortical; 3 –a recepção pelo centro cortical.
Os
analisadores são o conjunto anátomo-fisiológico que constitui os aparelhos
sensoriais necessários à recepção das sensações. Os analisadores são formados
de três partes essenciais: receptor periférico, que recebe os estímulos; nervos
aferentes, que conduzem a excitação aos centros nervosos; centros corticais,
correspondentes à terminação das fibras nervosas, onde se processa a elaboração
dos impulsos nervosos procedentes do exterior.
No
processo do conhecimento, as sensações ocupam o primeiro grau, elas efetuam as
relações com o mundo exterior a conhecer os aspectos e as propriedades
excitantes das que rodeiam o ser humano.
Em suma,
as sensações são os elementos estruturais simples da forma da percepção.
ALTERAÇÕES
DA SENSAÇÃO – As alterações na intensidade das sensações referem-se ao aumento
e à diminuição do numero e da intensidade dos estímulos procedentes dos
diversos campos da sensibilidade.
A
hiperestesia é o aumento da intensidade das sensações. A hiperestesia sensorial
é frequente nos neuróticos, nos estados de excitação maníaca de fraca
intensidade, no hipertireoidismo, nos acessos de enxaqueca e, ocasionalmente,
em casos de epilepsia.
A
hipoestesia é a diminuição da sensibilidade especial. A diminuição da
sensibilidade aos estímulos sensoriais é observada em todos os casos que se
acompanham de depressão. Coincidem com a diminuição dos reflexos tendinosos,
elevação da sensibilidade fisiológica e lentidão dos processos psíquicos.
Observa-se
a hipoestesia nos estados depressivos, no estupor, nas síndromes que se
acompanham de obnubilação da consciência, nas depressões pós-infecciosas e
pós-traumáticas.
A
anestesia é o termo empregado para designar a abolição de todas as formas de
sensibilidade.
A
analgesia é a perda da sensibilidade à dor, com a conservação de outras formas
de sensiblidade – tátil, térmica e discriminatória. Ela pode ser observada na
clinica psiquiátrica em casos de paralisia geral, catatonia, histeria e no
estupor.
As
anomalias da intensidade das sensações são observadas frequentemente nos
neuróticos. Os doentes se queixam de excesso de sensibilidade e procuram
defender-se do acréscimo patológico das excitações procedentes no meio
exterior. Em alguns casos de depressão é possível observar a redução da
sensibilidade aos estímulos sensoriais, de graus diversos, até seu
desaparecimento momentâneo completo. Na histeria é possível verificação a
debilitação e, até mesmo a abolição da capacidade de experimentar sensações em
determinada região corporal.
Na
excitação maníaca, os enfermos não se preocupam com as impressões sensoriais
procedentes do meio exterior, não percebem ou percebem de maneira incompleta as
impressões intensas e, menos ainda, os estímulos sensoriais de fraca
intensidade.
Na
obnubilação da consciência, as sensações perdem a nitidez; o estado de
inconsciência inibe a reação das sensações.
No
estupor nem sempre há elevação do limiar da sensibilidade aos diferentes
estímulos sensoriais.
Nos
estados crepusculares as sensações são imprecisas e, na maior parte das vezes,
falseadas.
As
alterações da sensibilidade tem uma importância extraordinária na catatonia. Os
catatônicos apresentam diminuição de sensibilidade geral, com analgesia mais ou
menos completa nos estados de estupor.
Na
deficiência mental e nos estados demenciais os enfermos não podem sentir tão
vivamente, nem perceber com a mesma nitidez do individuo são.
Os
traumatismos encefálicos determinam, de modo geral, o aparecimento de
transtornos psíquicos de gravidade e duração variáveis de acordo com a
intensidade do traumatismo e a extensão das lesões cerebrais.
PERCEPÇÃO
– O termo recepção é empregado correntemente para designar, em Psicologia, o
ato pelo qual tomamos conhecimento de um objeto do meio exterior, considerado
como real, isto é, como existente fora da própria atividade perceptiva. A
percepção é considerada como a apreensão de uma situação objetiva baseada em
sensações, acompanhada de representações e frequentemente de juízos, num ato
único, o qual somente pode ser decomposto por meio de análise. O ato perceptivo
consiste na apreensão de uma totalidade, de natureza especifica, verificando-se
que sua organização, do ponto de vista funcional, não representa a simples
adição de elementos locais e temporais captados pelos órgãos dos sentidos. Sem
o material das sensações não existiram as percepções. Os objetivos da percepção
comportam duas especiais de qualidades: as qualidades sensíveis e as qualidades
formais. As percepções aparecem como totalidades estruturantes, porque também a
pessoa na sua totalidade apenas é capaz de compreender o mundo em totalidades
mais restritas.
ALTERAÇÕES
DA PERCEPÇÃO – Nas alterações da percepção são incluídas as agnosias, as
alterações da síntese perceptiva, as ilusões sensoriais e as aberrações
perceptivas.
As
agnosias é a lesão de um órgão sensorial periférico, do nervo aferente ou da
zona cortical de projeção correspondente determinando o desaparecimento das
sensações. Produz-se anestesia, surdez ou cegueira, segundo o órgão sensorial
atingido. Consiste numa alteração intermediária entre as sensações e a
percepção. Em alguns casos, observa-se a perda da diferenciação da intensidade
e da extensão das sensações, permanecendo inalteradas as sensações elementares.
Ela se manifesta de diversas formas e de acordo com as funções sensoriais
atingidas pela lesão: visual, auditiva e táteis.
A
agnosia visual é distinguida por objetos, formas, cor e espaço. Nos dois
primeiros casos, o paciente se mostra incapacitado para identificar o objeto ou
a forma que se lhe apresenta, em virtude de se encontrar alterada a integração
das sensações elementares. Na agnosia visual os conteúdos da esfera ótica
constituem para o paciente muito mais contornos, superfícies e cores, luzes e
sombras, do que as coisas dotadas de realidade, comprovação da existência de
defeitos sensoriais fisiológicos, os quais dependiam de lesões do lobo
occipital na região da cissura calcariana. Os defeitos indicavam que as vias
ópticas ou suas projeções tinham sido atingidas.
A
agnosia tátil refere-se à incapacidade para reconhecer objetos mediante o
sentido do tato, apesar da sensibilidade se encontrar conservada no
fundamental. Existem duas formas: agnosia primaria ou perceptiva, quando o
transtorno recai sobre as qualidades dos objetos, ou seja, quando perde a
sensibilidade de discriminar as diferenças de intensidade e extensão das
sensações táteis; e agnosia semântica, quando constitui verdadeira
astereognosia, ou seja, a análise da forma é correta, porém o doente não pode
identificar o objeto quanto ao seu valor e utilização, só conseguindo através
de deduções e suposições.
A
síntese perceptiva é o resultado das ligações funcionais dos elementos
nervosos, as quais refletem os aspectos particulares dos objetos e fenômenos da
natureza. As perturbações da síntese perceptiva determinam alterações
primitivas na percepção dos objetos e fenômenos do mundo exterior e do próprio
corpo. As alterações da síntese perceptiva são observadas nas fases iniciais da
esquizofrenia, na perplexidade e em casos de despersonalização. Os doentes se
queixam, por exemplo, de uma sensação de irrealidade, de estranheza, de
transformação do mundo exterior, de que as pessoas e os objetos estão
modificados.
A ilusão
é a percepção deformada de um objeto real e presente. Por si mesma, a ilusão
não se constitui sintoma de doença mental. Nos doentes mentais, as ilusões são
devidas à perturbação da atenção, às influencias emocionais e às alterações da
consciência. As ilusões apresentam-se com frequência nos estados maníacos, em
virtude das oscilações da atenção; nos imbecis, nos quais a capacidade de
compreensão é muito reduzida; nas alterações da consciência; nas enfermidades
cerebrais orgânicas; nos estados de inquietação da melancolia e em todas as
formas clinicas de esquizofrenia. No delirium tremens as ilusões visuais são
frequentes.
As
aberrações perceptivas ou cromática ou sensorial, que consiste no fato de se
emprestar cores inusitadas aos objetos exteriores. O fenômeno é observado na alteração
perceptiva provocada pela mescalina, quando os objetos adquirem cores
aberrantes, que não existem realmente. A aberração perceptiva é observada nos
casos de intoxicação pelas drogas psicodelépticas e em formas iniciais de
esquizofrenia.
RESUMO: SENSSOPERCEPÇÃO - Todas as informações do ambiente, necessárias à sobrevivência
do indivíduo, chegam até o organismo por meio das sensações. Os diferentes
estímulos físicos (luz, som, calor, pressão, etc.) ou químicos (substâncias com
sabor ou odor, estímulos sobre as mucosas, a pele, etc.) agem sobre os órgãos
dos sentidos, estimulando os diversos receptores e, assim, produzindo as
sensações. Define-se sensação como o fenômeno
elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, originados
fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os.
Os estímulos sensoriais fornecem a alimentação sensorial aos sistemas de
informação do organismo. As diferentes formas de sensação são geradas por estímulos
sensoriais específicos, como visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos,
proprioceptivos e cinestésicos. Por percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do
estímulo sensorial. A percepção diz respeito à dimensão propriamente
neuropsicológica e psicológica do processo, à transformação de estímulos
puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes.
CONSCIÊNCIA
– O termo
consciência origina-se da junção de dois vocábulos latinos: cum (com) e scio (conhecer), indicando o conhecimento compartilhado com
outro e, por extensão, o conhecimento “compartilhado consigo mesmo”, apropriado
pelo indivíduo. O estudo da consciência mostra como é
artificial a fragmentação da atividade psíquica em diferentes partes ou em
funções isoladas. Não existem funções intelectuais, afetivas e volitivas
independentes na contextura da vida psíquica. A decomposição analítica da
consciência em fenômenos particulares é feita apenas, por necessidade da
exposição, para facilitar o estudo da atividade da mente. Na realidade, os
processos psíquicos se apresentam de imediato quando se coloca em atitude de
observação da consciência como uma totalidade, como atividade sintética em que
os fenômenos se encontram vinculados uns aos outros, estabelecendo-se entre
eles uma relação de causa e efeito.
A
consciência é definida como um complexo de fenômenos psíquicos elementares ou
complicados, afetivos e intelectivos, que se apresentam na unidade de tempo e
que permitem o conhecimento do próprio eu e do mundo exterior. A consciência é
a zona clara da vida psíquica que se encontra em situação oposta à zona escura,
de dimensões mais amplas, chamada de inconsciente. Assim, a consciência
representa a atividade nervosa de determinada área dos grandes hemisférios, em
dado momento, sob dadas condições, possuindo determinada excitabilidade ótima.
Nesse momento, toda a parte restante dos grandes hemisférios encontra-se em
estado de maior ou menor redução da excitabilidade. Os focos com excitabilidade
ótima estão mesclados na massa dos grandes hemisférios cerebrais e se acham na
dependência dos laços temporários que se formam nos centros corticais. A
existência de um mecanismo responsável pelo estado de vigília e de sono é um
fato de observação já antiga e, mais recentemente, as pesquisas
neurofisiológicas demonstraram que o sistema reticular ativador, em conexão
intima com os centros hipotalâmicos da vigília e do sono, é o responsável pela
regulação do nível de vigilância. Nesse particular, as diferentes gradações da
vigilância correspondem a diferentes graus de consciência que podem ir
gradativamente da completa lucidez da consciência à inconsciência.
A
consciência pode se encarada sob dois aspectos: o subjetivo e o objetivo.
A
consciência subjetiva é a propriedade de serem os fenômenos conscientes
conhecidos pelo individuo.
A
consciência é objetiva por seu conteúdo que se reflete no plano subjetivo sob a
forma de percepções, representações, conceitos.
A
consciência pode ser considerada, do ponto de vista psicológico, como um
processo de coordenação e de síntese da atividade psíquica. Nesse processo
podem-se destacar que: a consciência do eu, como conhecimento que se tem de
existir como individualidade distinta das demais coisas do mundo; e a
consciência dos objetos, significando que tudo que é apreendido ou se encontra
no campo da consciência, seja uma percepção, uma representação ou um conceito.
O inconsciente
possui três diferentes significados: 1 – designa os processos nervosos que
escapam inteiramente ao conhecimento pessoal, como a maior das regulações
orgânicas, reflexos, automatismos, dos quais somente os efeitos podem tornar-se
conscientes; 2 – em sentido mais amplo, é tudo quanto num determinado momento
escapa à consciência, sem diferenciar entre o subconsciente e o inconsciente; 3
– para Freud ao qualificar os processos dinâmicos que atuam eficazmente sobre a
conduta sem que atinjam a consciência. Em psicologia o inconsciente é empregado
como adjetivo para qualificar determinado fato psicológico que escapa ao
conhecimento do individuo. Para Jung o inconsciente contém apenas as partes da
personalidade que poderiam ser conscientes se o processo da cultura não as
tivesse reprimido. As características funcionais do inconsciente são atemporalidade, não existe tempo; ele é atemporal; isenção de contradição, não há lugar para negação ou dúvida,
nem graus diversos de certeza ou incerteza; princípio do prazer, não segue as ordens da realidade, submete-se apenas ao
princípio do prazer; e o processo primário, as cargas energéticas (catexias) acopladas às
representações psíquicas, às ideias, são totalmente móveis.
ALTERAÇÃO
DA CONSCIÊNCIA – Só existe alteração da consciência quando os fenômenos
psíquicos se acham modificados em sua totalidade. As alterações da consciência
são devidas a perturbações da atividade fisiológica dos hemisférios cerebrais.
Pode também resultar de alterações da interdependência entre as áreas corticais e
as regiões subcorticais.
Obnubilação
da consciência é a designação de um desvio mórbido do curso normal dos
processos psíquicos, caracterizados essencialmente pela diminuição do grau de
clareza do sensório com lentidão da compreensão, dificuldade da percepção e da
elaboração das impressões sensoriais. Na consciência do individuo obnubilado
não surge nada de novo. Os processos psíquicos são fragmentários e os
sentimentos muito imprecisos, sem que possam conduzir à execução de qualquer
ato volitivo. O doente revela-se indiferente, apático, sem iniciativa e sem
espontaneidade. A obnubilação da consciência representa um sintoma obrigatório
na maior parte dos transtornos mentais sintomáticos.
O coma é
uma consequência da obnubilação da consciência. O termo provém do grego e
significa sono profundo. Entende-se por coma o estado mais acentuado da perda
da consciência, que se acompanha, geralmente, de perturbações neurológicas e
somáticas gerais. Quando existe ainda um certo desassossego e uma atividade
psíquica confusa, fala-se em coma vigil ou agripnico e, ao alcançar a
profundidade extrema é chamado de carus. No estado comatoso a consciência se
acha profundamente alterada ou quando abolida, tanto assim que o enfermo não
dispõe da capacidade de se manter aberto ao mundo externo e, desse modo, ter
consciência do vivo. Os estados de coma são observados em todas as formas
diretas ou indiretas de lesão cerebral.
O delírio
oniróide é uma síndrome observada no curso de doenças febris, intoxicações
crônicas e enfermidades cerebrais orgânicas. Em sua fase de pleno
desenvolvimento, caracteriza-se por estes sintomas fundamentais: obnubilação da
consciência, desorientação e alucinações. Após uma fase premonitória, de curta
duração, em que o doente apresenta mal-estar, sono inquieto, sensações
imprecisas, intranquilidade, cefaleia e hiperestesia, surge no quadro clinico a
excitação psicomotora. Em alguns caos, o quando é o de uma leve excitação
maníaca, com estado de animo eufórico, excitabilidade fácil e tendência
incessante à ocupação. Na maior parte dos casos, no quadro de delírio dominam
as visões oníricas, acompanhadas algumas vezes de alucinações auditivas,
cinestesias e neurovestibulares, pseudo-alucinações e ideias deliroides. A
percepção do mundo exterior está completamente deformada pelas ilusões. O
delírio oniroide apresenta-se no curso de enfermidades tóxicas e infecciosas.
A
amência ou confusão mental é uma perturbação mental caracterizada
principalmente por turvação mais ou menos acentuada da consciência, acompanhada
de fenômenos de excitação psicomotora. A síndrome está caracterizada por
obnubilação mais ou menos acentuada da consciência, com incoerência do pensamento
de natureza oniroide e perplexidade, que resulta na incapacidade de apreender o
enfermo a realidade objetiva. Como corolário, existe desorientação no tempo e
no espaço, dificuldade de compreender a situação, lentidão nas respostas, com
predominância de vivencias alucinatórias oniroides. O estado efetivo é de
caráter depressivo ansioso. Estes são os elementos fundamentais da confusão
mental aguda. A amência aparece nas doenças infecciosas.
Os
estados crepusculares são estreitamentos transitórios da consciência, com a
conservação de uma atividade mais ou menos coordenada. Acompanha-se de falsa
compreensão da situação. Em geral, a percepção do mundo exterior é imperfeita
ou de todo inexistente. Em alguns casos é possível observar a presença de
alucinações e ideias deliroides.
O
onirismo é caracterizado pela predominância extraordinária das representações
imaginadas sobre as perturbações sensoriais e sensitivas, que são
acentuadamente deformadas e amplificadas. Os estados de onirismo costumam
apresentar-se nas perturbações mentais exógenas e na esquizofrenia.
Nas
alterações da consciência do eu estão o êxtase, vivencia de transformação do
eu, transitivismo, possessão, estados segundos e convicção da inexistência
pessoal.
O êxtase
representa o mais elevado grau do sentimento vital. De acordo com a sua acepção
etimológica, é a vivência de sentir-se fora de si, uma transformação da
consciência do eu e da consciência do mundo, que, em estado normal, se
caracteriza pelo conhecimento das limitações da própria existência pela
individualização do confinamento em um corpo e em uma consciência individual. O
êxtase é observado com maior frequência em enfermos histéricos e mais raramente
na esquizofrenia.
A
vivência de transformação do eu ocorre no inicio dos transtornos mentais
psicóticos ou depois da remissão dos sintomas, transformando intima e
internamente, de metamorfoses dos pensamentos e sentimentos, como algo vago e
indefinido do eu empírico e sente o seu eu mudado ou transformado. Sobrevém a
vivência de transformação da própria pessoa que consiste no fato de que o
enfermo já não pensa, não sente e nem age como antes, pois experimentou uma
profunda mutação de sua personalidade.
O
transitivismo é o fenômeno que consiste em o enfermo sentir-se transformado em
outra pessoa. Em psicopatologia, o termo serve para designar as alterações
observadas em alguns enfermos, que consistem no desaparecimento da relação
entre o corpo e os objetos do meio exterior.
A
possessão é a alteração da consciência do eu caracterizada pelo fato de o
individuo sentir-se possuído por entidades sobrenaturais, especialmente
espíritos e demônios.
Os
estados segundos são alterações especiais da consciência vigil que surgem em
consequência de acontecimentos desagradáveis. O enfermo vivencia estados de
consciência alternantes, correspondentes a duas personalidades distintas: a
consciente e a inconsciente ou reprimida, sem que uma conserve lembrança da
outra. Durante a fase inconsciente o paciente manifesta certo grau de
estreitamento da consciência e se mantém lúcido durante a fase consciente. Os
estados segundos são observados exclusivamente em enfermos neuróticos, sendo
possível provoca-los pela hipnose ou pela sugestão. Uma de suas manifestações
comuns é o sonambulismo.
A
convicção de inexistência da pessoa consiste na convicção de inexistência do
próprio corpo ou de certos órgãos, ou de que o enfermo não se encontra vivo e
sim morto. O paciente apresenta uma forma de aniquilamento da própria
corporalidade.
Na
embriaguez patológica observam-se habitualmente alterações de consciência. Em
casos graves verificam-se obnubilação e impulsos patológicos.
Na
epilepsia observam-se alterações características da consciência. A supressão
rápida da consciência é uma das mais frequentes formas de inicio da crise
generalizada.
Nos
casos de esquizofrenia observam-se alguns sintomas típicos como a vivencia de
transformação do eu. Verifica-se, ainda, o transitivismo que representa um
sintoma de primeira ordem para o diagnostico da enfermidade.
REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO,
Paulo. Psicopatologia
e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre : Artmed, 2008.
PAIM, Isaías. Curso de psicopatologia. São Paulo: EPU,
1993.