quinta-feira, 9 de abril de 2015

A PSICOLOGIA INDIVIDUAL DE ALFRED ADLER


PSICOLOGIA INDIVIDUAL – Adler desenvolveu a sua teoria analisando seus pacientes: avaliando o que eles verbalizavam e o seu comportamento durante as sessões de terapia, numa abordagem mais relaxada e informal, usando o humor.
A psicologia individual de Adler se concentra na singularidade de cada pessoa, negando a universalidade dos motivos e metas biológicas e que as pessoas não vitimadas pelos instintos e conflitos e condenadas por forças biológicas, nem pelas experiências da infância.
A personalidade é moldada pelo ambiente e pelas interações sociais. O consciente é o centro da personalidade: estamos ativamente envolvidos na criação do nosso self no direcionamento do nosso futuro.
As pessoas são mais motivadas pelo interesse social do que pelas necessidades de poder e domínio.
A teoria de Adler é otimista ao defender que as pessoas não são motivadas por forças inconscientes porque possui o livre-arbítrio de moldar as forças sociais que influenciam e usá-las criativamente para construir um estilo de vida singular. A experiência determina como as tendências herdadas serão realizadas. As influencias da infância são importantes, principalmente a posição na ordem de nascimento e a interação com os pais.
Os portões de entrada da vida mental são os métodos básicos de avaliação: são a posição na ordem do nascimento, as primeiras lembranças e a análise dos sonhos. Veja mais aqui.

A INFÂNCIA DE ADLER – A infância de Adler foi marcada por intensos esforços para compensar seus sentimentos de inferioridade. Assim, tendo uma infância marcada pela doença, consciência de morte e ciúme de seu irmão mais velho, uma vez que sofria de raquitismo e impedido de brincar com outras crianças, Adler foi mimado pela mãe por causa das doenças e destronado pela chagada do bebê. Gradativamente ele desenvolveu um senso de autoestima e aceitação social, superando as franquezas do sentimento de inferioridade para moldar o seu destino, mesmo tendo uma estatura baixa e limitações físicas. Estudou Medicina, interessando-se por doenças incuráveis que o levou a se especializar em neurologia e psiquiatria, quando tornou-se discípulo de Freud até romper com a Psicanálise e a desenvolver a sua própria teoria da personalidade mais voltada para o consciente e minimizando o papel do inconsciente. Introduziu na sua pratica profissional procedimentos de treinamento e orientação de grupos que foram precursoras das técnicas modernas de terapia de grupo. O seu pensamento traduz a ideia de que a infância é caracterizada pela falta de amor e segurança, quando os pais são indiferentes ou hostis, devolvendo sentimentos de falta de valor ou arte de raiva e encaram os outros com desconfiança.
As crianças que são negligenciadas ou rejeitadas pelos pais podem desenvolver um sentimento de menos valia.
Os mimos na infância podem levar a um estilo de vida mimado no qual a pessoa demonstra pouco ou nenhum sentimento social pelos outros. Os quatro tipos de mimo são: excesso de indulgência, que envolve uma gratificação persistente por parte dos pais em relação aos desejos e necessidades das crianças, o que leva a sentimentos de direito legitimo e a comportamentos manipuladores; o excesso de permissividade, que significa permitir que a criança se comporte como bem quiser, sem consideração pelos efeitos de seu comportamento sobre os outros, provocando a quebra das regras sociais e infringindo o direito dos demais; excesso de dominação, que significa que todas as decisões são tomadas apenas pelos pais, levado à falta de confiança da criança e à tendência de se tornar dependente de outros quando adultos; e superproteção, que significa prudência por parte dos pais, excesso de avisos sobre os perigos potenciais no ambiente, levando a uma ansiedade generalizada e à tendência de evitar situações sociais ou se esconder delas.

SENTIMENTO DE INFERIORIDADE – É o estado normal de todas as pessoas, a fonte de toda a luta humana: estão sempre presentes como força motivadora no comportamento. o crescimento individual é resultado da compensação, da tentativa de superação da inferioridade real ou imaginária, impulsionado pela necessidade de superar a sensação de inferioridade e lutar por níveis cada vez mais altos de desenvolvimento.
A compensação é a motivação para superar a inferioridade, lutando por níveis mais altos de desenvolvimento. É um processo que começa na infância porque as crianças são indefesas e totalmente dependentes dos adultos. A meta da compensação é uma vontade ou um impulso para o poder, no qual a agressão desempenha um papel importante.
A inferioridade não é determinada pela genética, mas em função do ambiente de desamparo e dependência dos adultos: impossível escapar do sentimento de inferioridade, mas ele é necessário para a motivação na luta para crescer.
Os sentimentos de inferioridade são a fonte da motivação e da luta, resultante das tentativas de compensar esses sentimentos, que são universais e determinados pelo desamparo da criança e da sua dependência dos adultos. Veja mais aqui.

COMPLEXO DE INFERIORIDADE – É a incapacidade de superar o sentimento de inferioridade intensificado. É a situação que surge quando uma pessoa não consegue compensar seu sentimento normal de inferioridade.
As três fontes do complexo de inferioridade estão na infância e são: inferioridade orgânica, mimo excessivo e negligência.
A inferioridade orgânica: as partes do corpo ou órgãos do corpo moldam a personalidade por meio do esforço da pessoa para compensar o defeito ou a fraqueza na infância. Os esforços para superar a inferioridade orgânica podem resultar em extraordinários feitos artísticos, atléticos e sociais, mas se não forem bem-sucedidos poderão levar a um complexo de inferioridade.
Mimar uma criança suscita um complexo de inferioridade porque elas são o centro das atenções em casa. Todos os seus desejos e necessidades são satisfeitos e pouco lhes é negado. Desenvolve-se a ideia de que são as pessoas mais importantes em qualquer situação e que os demais precisam sempre se submeter a elas. Quando passam a não ser mais o foco das atenções, é um choque para o qual não estão preparadas, sendo, pois, pessoas com pouco traquejo social, impacientes com os outros. Nunca aprenderam a esperar pelo que querem nem a superar dificuldades, achando que devem ter alguma deficiência que as está frustrando.
Nesse complexo as pessoas possuem uma opinião ruim sobre si mesmas, sentem-se incapazes de lidar com as demandas da vida.

COMPLEXO DE SUPERIORIDADE – É a situação que se cria quando uma pessoa supercompe3nsa sensações de inferioridade normais. Envolve uma supercompensação e uma opinião exagerada da capacidade e realizações da pessoa, que pode se sentir internamente satisfeita e superior, e não ter necessidade de demonstrar a sua superioridade com realizações, ou sentir essa necessidade e se empenhar para se tornar extremamente bem-sucedida. São pessoas que são dadas a se gabar, à vaidade, ao egocentrismo e a uma tendência a denegrir os outros.
A noção de luta pela superioridade: é a ânsia pela perfeição ou inteireza que motiva cada uma das pessoas. É a meta inerente, a busca de inteireza ou conclusão orientada para o futuro e traz o fato de que é fundamental da vida, pois é o ideal objetivo a ser perseguido. O significado de superioridade é o de um impulso para buscar a perfeição: busca-se a superioridade num esforço para aperfeiçoar e tornar completo ou inteiro.
A motivação é vista como expectativas para o futuro, sob o argumento de que os instintos e impulsos primordiais são insuficientes. Só a meta principal da superioridade ou perfeição explica a personalidade e o comportamento.
A luta pela superioridade aumenta a tensão ao invés de diminuir e a busca pela perfeição requer um grande dispêndio de energia e esforço; a luta pela superioridade é manifestada tanto pelo individuo como pela sociedade.

FINALISMO DE FICÇÃO – É a ideia que existe uma meta imaginada ou potencial que rege o comportamento humano. Para Adler, os seres humanos buscam constantemente a meta ficcional e ideal de perfeição. As ideias ficcionais regem o comportamento humano. O finalismo é a ideia de meta principal, um estado final de ser e uma necessidade de caminha na direção dele. As metas são as potencialidades: lutamos por ideais que existem em nós subjetivamente. A melhor formulação desse ideal criada pelos seres humanos até agora foi o conceito de Deus: meta final subjetiva ou guia do self ideal.

ESTILO DE VIDA – É a estrutura ou padrão de comportamentos e características de caráter peculiar pelo qual se busca a perfeição. O estilo de vida torna-se a estrutura guia de todos os comportamentos posteriores.
As categorias de problemas universais: os que envolvem o nosso comportamento para os outros; os ocupacionais e os amorosos.
Entre os estilos de vida básicos estão o dominador, o dependente, o esquivo e os tipos socialmente úteis.
O estilo de vida dominador: é aquele que apresenta uma atitude dominadora com pouca consciência social e sem consideração pelos outros. Quando chega a ser extremo torna-se sádico, delinquente ou psicopata. O menos violento se torna alcoólatra, viciado em drogas ou suicida. Acreditam que podem magoar os outros atacando a si mesmos.
O estilo de vida dependente é o mais comum e que espera ser satisfeito por outras pessoas e, portanto, se torna dependente delas.
O estilo de vida esquivo não tenta enfrentar os problemas da vida, evitando dificuldades e, ao mesmo tempo, evitando qualquer possibilidade de fracasso.
Os estilos de vida dominador, dependente e esquivo não estão preparados para lidar com os problemas da vida cotidiana, não conseguem colaborar com outras pessoas e o choque entre o seu estilo de vida e o mundo real resulta num comportamento anormal, que se manifesta na forma de neuroses e psicoses, faltando-lhes o interesse social.
O estilo de vida socialmente útil colabora com os outros e age de acordo com as necessidades deles, sabe lidar com os problemas dentro de uma estrutura bem desenvolvida de interesse social. Veja mais aqui.

INTERESSE SOCIAL – É o potencial inato da pessoa em ajudar outra a atingir as metas pessoais e sociais. O papel da mãe é fundamental no desenvolvimento do interesse social: a mãe precisa ensinar à criança a colaboração, o companheirismo e a coragem. A ausência desse interesse social podem tornar as pessoas neuróticas e até criminosas, bem como trazer malefícios que vão desde a guerra até o ódio racional e embriaguez em público.
A Escala de Interesse Social (SIS) é composta de pares de adjetivos, no qual os participantes da pesquisa escolhem a palavra de cada par que melhor descreve um atributo que eles gostariam de ter.
O Índice de Interesse Social (SII) é um inventario no qual os participantes da pesquisa julgam até que ponto as afirmações são uma representação de si mesmas ou de suas características pessoais.
As Escalas Adlerianas Básicas de Sucesso Interpessoal (Versão A – BASIS-A) é um inventário de sessenta e cinco itens planejado para avaliar o estilo de vida e o grau de interesse social. As cinco dimensões de personalidade medidas são: ter interesse social, acompanhar, assumir o comando, querer reconhecimento, ser cauteloso.
O interesse social pode ser bom para a saúde de modo geral e com seus sentimentos relativos de pertencer, cooperar e com senso de contribuir ou de receber apoio de uma rede social tem sido associado positivamente ao bem-estar psíquico e mental.

PODER CRIATIVO DO SELF – É a habilidade de criar um estilo de vida apropriado.

A ORDEM DO NASCIMENTO  - A ordem do nascimento tem grande influencia social na infância, influencia a partir da qual é criado o estilo de vida.
O primeiro filho ou primogênito encontra-se numa posição singular e invejável porque, em geral, os pais felizes com o seu nascimento, dedicam-lhe tempo e atenção consideráveis, o que os leva a ter uma existência feliz e segura até o surgimento do segundo filho. Todos os primogênitos sentem o choque da mudança da sua posição na família, mas os que foram excessivamente mimados sentem muito mais.
O segundo filho é aquele que causa revolta na vida do primogênito e se encontra numa situação singular: nunca teve a posição de poder usufruída pelos primogênitos, não tendo a sensação de destronamento e vivem a mudança de experiência dos pais. Ele tem no irmão mais velho um determinador do ritmo, sendo o seu modelo, ameaça ou fonte de competição.
O filho caçula nunca enfrenta o choque do destronamento e geralmente se tornam os queridinhos da família. Eles se desenvolvem muito rapidamente e se forem excessivamente mimados passam a char que não precisam aprender a fazer nada por conta própria, razão pela qual podem preservar o desamparo da infância e na condição de não habituadas a lutar e de serem cuidadas, passam a ter dificuldade em se ajustar à idade adulta.
O filho único é o centro da atenção, amadurecem cedo e manifestam comportamentos e atitudes adultos. Tendem a enfrentar dificuldades quando descobrem que não são o centro das atenções fora de casa, não aprendem a compartilhar e a competir e se sentirão desapontados que suas habilidades não lhe trouxerem reconhecimento e atenção suficientes.

AS PRIMEIRAS LEMBRANÇAS – Técnica de avaliação de personalidade no que se presume que as primeiras lembranças, quer seja de eventos reais, quer seja de fantasia, revelam o interesse básico da vida. São, portanto, os indicadores individuais mais satisfatórios do estilo de vida. Assim, a personalidade é criada durante os primeiros quatro ou cinco anos de vida. As primeiras lembranças revelam aspectos importantes e influentes na personalidade.

ANÁLISE DOS SONHOS – Os sonhos envolvem os sentimentos sobre um problema atual e o que se planeja fazer a respeito. Na fantasia dos sonhos acredita-se que se pode superar os obstáculos mais difíceis da vida ou simplificar o problema mais complexo.

REFERÊNCIAS
ADLER, Alfred. A ciência da natureza humana. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1957.
ATKINSON, Richard; HILGARD, Ernest; ATKINSON, Rita; BEM, Daryl; HOEKSENA, Susan. Introdução à Psicologia. São Paulo: Cengage, 2011.
DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001.
FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 2002.
GAZZANIGA, Michael; HEATHERTON, Todd. Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MORRIS, Charles; MAISTO, Alberto. Introdução à psicologia. São Paulo: Pretence Hall, 2004.
MYERS, David. Psicologia. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. Historia da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
______. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014.


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