segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O OBJETIVISMO DE AYN RAND


A REVOLTA DE ATLAS – [...] Um ligeiro tremor na voz dele lhe deu uma súbita revelação de quanto o interesse e o pedido de Dagny tinham significado para ele e de que a decisão não tinha sido fácil.  – Kellogg, há alguma coisa que eu possa oferecer para você ficar? – Nada, Srta. Taggart. Nada neste mundo. Ele se voltou para deixar a sala. Pela primeira vez na vida ela sentiu-se perdida e derrotada. – Por quê? – perguntou ela, sem se dirigir a ninguém. Ele parou. Deu de ombros e sorriu. Era como se ele voltasse à vida, e aquele era o sorriso mais estranho que ela jamais vira: continha um contentamento interior e secreto, e desânimo, e infinita amargura. E ele disse: – Quem é John Galt?


A NASCENTE – [...] James Taggart estava sentado à mesa de trabalho. Parecia um cinquentão que tivesse chegado a tal idade diretamente da adolescência, sem passar pelo estágio intermediário da juventude. Tinha a boca pequena e petulante e alguns raros fios de cabelo se elevavam na fronte calva. Seu ar desleixado e sua má postura pareciam desafiar o corpo alto e esguio, cuja elegância, condizente com a de um aristocrata confiante, transformava-se na falta de jeito de um palerma. A pele do rosto era pálida e macia. Os olhos, mortiços e velados, em movimentos lentos e incessantes, deslizavam pelas coisas como num eterno ressentimento por elas existirem. Parecia obstinado e gasto. Tinha 39 a nos.



A VIRTUDE DO EGOISMO Num sentido popular, a palavra “egoísmo” é sinônimo de maldade: representa a imagem de um insensível e cruel assassino que passa por cima de pilhas de cadáveres para atingir os seus próprios fins, alguém que não se importa com qualquer ser humano e que tem como objetivo último a obtenção de gratificação pessoal com caprichos vãos num qualquer momento imediato. Todavia, a definição mais exata da palavra “egoísmo” dada pelo o dicionário é: preocupação com os nossos próprios interesses. Esta definição não encerra uma avaliação moral: não nos diz se a preocupação com os nossos próprios interesses é algo bom ou mau; nem nos diz o que de fato constitui os interesses do homem. Cabe à ética responder a estas questões. Como resposta, a ética do altruísmo criou a imagem do ser humano insensível, de forma a levar o homem a crer em dois princípios básicos: a) que, independentemente da sua natureza dos seus interesses, cuidar deles é algo mau e b) que a atividade do ser humano insensível é, de fato, o resultado do seu próprio interesse (ao qual o altruísmo nos impõe renunciar para o bem daqueles com quem convivemos).  Dando uma perspectiva da natureza do altruísmo, das suas consequências e da grandeza da corrupção moral a que dá origem, dou o exemplo do meu livro Atlas Shrugged – ou de qualquer cabeçalho da imprensa atual. O nosso foco de análise é as deficiências do altruísmo no domínio da teoria ética. Há duas questões morais que o altruísmo agrupa num único “pacote”: 1) O que são valores? 2) Quem deveria ser o beneficiário dos valores? O altruísmo substitui a segunda questão pela primeira: escapa à tarefa de definir um código de valores morais, deixando, assim, o homem sem qualquer orientação moral. O altruísmo defende que qualquer ação feita em benefício dos outros é boa e que qualquer ação feita em prol de interesses próprios é má. Deste modo, o beneficiário de uma ação é o único critério de valor moral – e desde que o beneficiário não seja o próprio agente da ação, tudo é aceitável. Sob todas as variantes da ética altruísta se pode avaliar a terrível imoralidade, a injustiça crônica, o grotesco valor dos dois pesos e duas medidas, os conflitos e contradições insolúveis que caracterizaram as relações e sociedades humanas ao longo da história. [...] A ética objetivista defende que o agente tem de ser sempre o beneficiário da sua ação e que o homem deve agir em função dos seus próprios interesses racionais. Porém, este direito resulta da sua natureza de homem e da função dos valores morais na vida humana. Por isso, é apenas aplicável num contexto de código de valores racional e objetivamente demonstrado e validado, o qual define e determina o verdadeiro interesse próprio do homem. Não é uma autorização para fazer “o que lhe apetece” nem se aplica à visão altruísta do insensível cruel e “egoísta” nem a qualquer outro homem motivado por emoções irracionais, sentimentos, vontades súbitas ou caprichos. Esta ideia é apresentada como um aviso contra o tipo de “egoístas nietzschianos”, que são efetivamente um produto da moral altruísta e representam o outro lado da moeda altruísta: aqueles que creem que, independentemente da sua natureza, qualquer ação é boa se dirigida ao benefício do próprio agente, tal como a satisfação de desejos irracionais – quer de si próprio quer de si próprio quer dos outros – não constitui critério de valor moral. A moralidade não é um concurso de caprichos


AYN RAND -  A escritora, dramaturga, roteirista e filósofa norte-americana Alisa Zinov'yevna Rosenbaum, ou apenas Ayn Rand (1905-1982), desenvolveu o sistema filosófico chamado de Objetivismo por meio das suas obras A Nascente e A Revolta de Atlas, nas quais dramatiza seu homem ideal, o produtor que vive por seu próprio esforço e não dá nem recebe o imerecido, que honra as conquistas e rejeita a inveja. Ela projetou uma escola de arte chamada “Realismo Romântico”, no qual os artistas românticos realistas iriam combinar um compromisso com a apresentação de cenas verossímeis estabelecidos em algo como o mundo real com os ideais de um novo romantismo, que desse forma às cenas, melodias e histórias para apresentar o caráter essencialmente heroico do homem. Em seus próprios romances a autora desenvolveu um estilo de “realismo tendencioso” que envolveu ricos personagens em torno de tramas centradas em princípios-chaves e ideias. Além disso, ela criou o objetivismo que é a filosofia do individualismo racional fundado com base de que não há nenhum objetivo moral maior do que atingir a felicidade. Essa filosofia politicamente defende o capitalismo laissez-faire, entendendo o capitalismo, um governo estritamente limitado a proteger o direito de cada um a vida, liberdade e propriedade proíbe que qualquer um inicie força contra outros. Os heróis do objetivismo são empreendedores que criam negócios, inventam tecnologias, criam arte e ideias, dependendo dos seus próprios talentos e das trocas com outras pessoas independentes para alcançar seus objetivos. É, portanto, otimista, sustenta que o universo é aberto para as conquistas humanas e felicidade e que cada pessoa tem consigo a habilidade de viver uma vida rica, realizada e independente. Para a autora, o Objetivismo é um sistema completo de pensamento que demarca posições em todos os principais campos da filosofia. É uma corrente que é contra todas as formas de relativismo metafísico ou idealismo e sustenta que é simplesmente absurdo falar de qualquer coisa “sobrenatural” – literalmente além ou acima da natureza. A ética objetivista reconstrói a moralidade a partir do zero e, por outro lado, foi feito para a era do capitalismo industrial, ensinando o que ficou claro com o enriquecimento do ocidente: que uma harmonia de interesses existe entre indivíduos racionais, de que o beneficio de um indivíduo não necessita advir por meio do sofrimento de outrem. Assim, sustenta que o propósito da moralidade é definir um código de valores de apoio a vida humana. E os valores do Objetivismo são os meios para a conquista de uma vida feliz. Eles incluem coisas como riqueza, amor, satisfação no trabalho, educação, inspiração artística e muito mais. A ética objetivista é um código que honra a realização e aconselha a celebração, não a inveja, pela grandeza. Ela honra a criatividade não só de artistas ou estudiosos, mas de produtores em cujos ombros a civilização descansa: industrialistas e engenheiros, investidores e inventores. Ela sustenta que qualquer trabalho é espiritual quando pensado e feito, não importa qual a escala de realização, do trabalhador da linha de produção ao chefe executivo da empresa, e do secretário mais desconhecido para a estrela de cinema mais famosa. Em suma, o objetivismo enfatiza as noções de individualismo. autossustentação e capitalismo, preconizando o individualismo filosófico e o liberalismo econômico. Essa filosofia possui uma base aristotélica, advogando que o ser humano é dotado de capacidade racional e deveria observar o mundo através do único meio possível de fazê-lo: a lógica. Este complexo filosófico é sustentando por cinco pilares: a metafísica como realidade objetiva; a epistemologia pela razão; a ética pelo autointeresse; a política pelo liberalismo e capitalismo; e a estética pelo juízo de valor metafísico.

REFERÊNCIAS
RAND, Ayn. A nascente. São Paulo: Arqueiro, 2013.
______. A virtude do egoísmo – a verdadeira ética do homem: o egoísmo racional. São Paulo: Ortiz, 1991.
______. A revolta de Atlas – 3 volumes. São Paulo: Arqueiro, 2010.

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