MAURÍCIO
DA SILVA GOMES
– Conheci o graduando em Psicologia e pesquisador, Maurício da Silva Gomes, no Grupo de Pesquisa de Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva. A partir de então, todas as tardes nos encontramos
antes das aulas para conversarmos sobre Psicologia, Filosofia, Literatura,
Ciência, Artes e, sobretudo Nietzsche. Ontem, no meio dos nossos papos
vespertinos, Maurício me chegou com duas laudas redigidas. Li, analisei e
gostei. Reproduzo aqui.
UM OLHAR SOBRE O HOMEM
1
Olhe nos meus olhos, olhe fundo! E verás que ter
olhos penetrantes pode ser um problema, mas ao mesmo tempo um ponto de ignição,
ignição de tudo aquilo que já foi dito, falado, pensado e experimentado. Veja
toda esta parafernália que acomete o homem, que acomete o ser, e o que importa
se nada mudou? Dia após dia, tudo é igual, tudo se tornou igual, será que tudo
isto vale a pena, sair da história para a vida, percorrer um caminho não
percorrido?
2
É sábio percorrer um caminho sem saber o seu fim?
Imaginemos um peixe em um rio de águas doce, o mesmo nada sem cessar, poderá o
peixe imaginar a nascente, e o pior, poderá imaginar a água salgada dos mares?
O homem caminha assim como o peixe nada, anda sem cessar, ele perdeu suas águas
doces, atualmente caminha em direção ao salgado, ao mar.
3
Outrora pensava um sábio. — Percorri anos de minha
vida e só encontrei a dor. Então, para
quê viver? E não se engane eu não sou pessimista, eu sou um realista.
4
Outrora pensava outro sábio. — Viver é uma obra de
arte, eu sou uma obra de arte, nós somos obras de arte! E não se equivoque,
pois esta arte não possui criador além da potência, da sua vontade de potência,
da nossa vontade de potência. E quando dizeis: encontrei a dor, porém, viver na
dor é mais vantajoso do que viver no nada. Assim eu te pego niilista, pois
mundo é perfeito! Mas saiba que ele pode te maltratar. E o que o homem deve
fazer? O homem, como tal e qual, deve se superar. Não mais querer o não querer,
querer apenas se superar.
5
Outrora pensava um sábio. — O homem é como um
peixe, eles não enxergam o que está além do mar, lá existe um mundo perfeito,
onde não existe dor, onde todos são felizes, é o verdadeiro paraíso, pois esta
vida nada mais é que um erro, sendo a vida um erro, o homem só pode sonhar com
o mundo perfeito, sonhar que com a sua morte irá encontrar.
6
Outrora pensava outro sábio. — E o rebanho, aquele
rebanho que pastava na história, que repetia seus erros sem cessar, o mesmo
clama, clama pela vida, porém, encontra-se no cercado fechado, o rebanho
encontra-se algemado. Mas todo rebanho clama pela vida, quer abandonar a
história e abraçar a vida, quer abandonar a repetição, contudo, todo rebanho
possui um pastor, qual é a função do pastor? Erigir novos ídolos. E o sábio que
se diz realista, nada mais é que um pastor que blasfemas contra terra em nome
do seu paraíso. Mais uma vez a vida é escravizada, pobres são os homens
escravizados pelos ídolos! Lanço uma escolha ao homem escravizado, que escolha
é esta? Digo-te: preferes viver uma vida sendo guiado(a) por uma felicidade
medíocre ou, vives-te um momento descomunal onde afirmaste viver uma vida sendo
guiado(a) por um sofrimento sublime? Então, reclamaste da escolha e ti jogas-te
no abismo? Preferes viver o nada, além da vida? Eis então o homem de rebanho, o
que se jogou no abismo, e mesmo vivendo no abismo o mesmo falava de felicidade,
falava de amor. Vives do nada e do nada se originaria vossa felicidade? O
rebanho pronuncia que o mundo deve ser transformado, os rebanhos clamam por
transformação.
7
O que realmente deve nos importar? Uma verdade
cristalizada, a ciência, a vida, felicidade, honestidade, igualdade, talvez
viver a vida na vida?
8
Felicidade e sofrimento são capacidades humanas que
andam lado a lado, a felicidade pressupõe alegria, nós devemos conhecer a
felicidade, viver na alegria, porém, a mesma também pode ser possível através
do sofrimento, a felicidade só é plena quando descobrimos que uma resistência é
superada, que através da dor irá surgir à felicidade. Então, não ti jogas-te no
abismo diante da dúvida? Escolheste guiar tua vida através de uma felicidade
medíocre e ignoraste o sofrimento sublime? Como então haverá de viver? Eu vos
digo: antes viver com a dor que viver no nada!
9
Com ou sem a dor o homem é capaz de alcançar a
felicidade. Mas quem nunca sentiu dor? A capacidade de suportar e de superar a
dor nos direciona para a felicidade, saber que um obstáculo existencial foi
superado, quer algo melhor? Não queira! Afirme seu sofrimento como algo a ser
superado, e da superação irá surgir à felicidade, não algo medíocre, e sim,
algo sublime, um sofrimento sublime.