A REVOLTA DE ATLAS – [...] Um ligeiro tremor
na voz dele lhe deu uma súbita revelação de quanto o interesse e o pedido de
Dagny tinham significado para ele e de que a decisão não tinha sido fácil. – Kellogg, há alguma coisa que eu possa
oferecer para você ficar? – Nada, Srta. Taggart. Nada neste mundo. Ele se
voltou para deixar a sala. Pela primeira vez na vida ela sentiu-se perdida e
derrotada. – Por quê? – perguntou ela, sem se dirigir a ninguém. Ele parou. Deu
de ombros e sorriu. Era como se ele voltasse à vida, e aquele era o sorriso mais
estranho que ela jamais vira: continha um contentamento interior e secreto, e
desânimo, e infinita amargura. E ele disse: – Quem é John Galt?
A NASCENTE – [...]
James Taggart
estava sentado à mesa de trabalho. Parecia um cinquentão que tivesse chegado a
tal idade diretamente da adolescência, sem passar pelo estágio intermediário da
juventude. Tinha a boca pequena e petulante e alguns raros fios de cabelo se
elevavam na fronte calva. Seu ar desleixado e sua má postura pareciam desafiar
o corpo alto e esguio, cuja elegância, condizente com a de um aristocrata
confiante, transformava-se na falta de jeito de um palerma. A pele do rosto era
pálida e macia. Os olhos, mortiços e velados, em movimentos lentos e incessantes,
deslizavam pelas coisas como num eterno ressentimento por elas existirem.
Parecia obstinado e gasto. Tinha 39 a nos.
A VIRTUDE DO EGOISMO – Num sentido popular, a palavra “egoísmo” é sinônimo de
maldade: representa a imagem de um insensível e cruel assassino que passa por
cima de pilhas de cadáveres para atingir os seus próprios fins, alguém que não
se importa com qualquer ser humano e que tem como objetivo último a obtenção de
gratificação pessoal com caprichos vãos num qualquer momento imediato. Todavia,
a definição mais exata da palavra “egoísmo” dada pelo o dicionário é:
preocupação com os nossos próprios interesses. Esta definição não encerra uma
avaliação moral: não nos diz se a preocupação com os nossos próprios interesses
é algo bom ou mau; nem nos diz o que de fato constitui os interesses do homem.
Cabe à ética responder a estas questões. Como resposta, a ética do altruísmo
criou a imagem do ser humano insensível, de forma a levar o homem a crer em
dois princípios básicos: a) que, independentemente da sua natureza dos seus
interesses, cuidar deles é algo mau e b) que a atividade do ser humano
insensível é, de fato, o resultado do seu próprio interesse (ao qual o
altruísmo nos impõe renunciar para o bem daqueles com quem convivemos). Dando uma perspectiva da natureza do
altruísmo, das suas consequências e da grandeza da corrupção moral a que dá
origem, dou o exemplo do meu livro Atlas Shrugged – ou de qualquer cabeçalho da
imprensa atual. O nosso foco de análise é as deficiências do altruísmo no
domínio da teoria ética. Há duas questões morais que o altruísmo agrupa num
único “pacote”: 1) O que são valores? 2) Quem deveria ser o beneficiário dos
valores? O altruísmo substitui a segunda questão pela primeira: escapa à tarefa
de definir um código de valores morais, deixando, assim, o homem sem qualquer orientação
moral. O altruísmo defende que qualquer ação feita em benefício dos outros é
boa e que qualquer ação feita em prol de interesses próprios é má. Deste modo,
o beneficiário de uma ação é o único critério de valor moral – e desde que o beneficiário
não seja o próprio agente da ação, tudo é aceitável. Sob todas as variantes da
ética altruísta se pode avaliar a terrível imoralidade, a injustiça crônica, o grotesco
valor dos dois pesos e duas medidas, os conflitos e contradições insolúveis que
caracterizaram as relações e sociedades humanas ao longo da história. [...] A ética
objetivista defende que o agente tem de ser sempre o beneficiário da sua ação e
que o homem deve agir em função dos seus próprios interesses racionais. Porém,
este direito resulta da sua natureza de homem e da função dos valores morais na
vida humana. Por isso, é apenas aplicável num contexto de código de valores
racional e objetivamente demonstrado e validado, o qual define e determina o
verdadeiro interesse próprio do homem. Não é uma autorização para fazer “o que
lhe apetece” nem se aplica à visão altruísta do insensível cruel e “egoísta”
nem a qualquer outro homem motivado por emoções irracionais, sentimentos,
vontades súbitas ou caprichos. Esta ideia é apresentada como um aviso contra o
tipo de “egoístas nietzschianos”, que são efetivamente um produto da moral
altruísta e representam o outro lado da moeda altruísta: aqueles que creem que,
independentemente da sua natureza, qualquer ação é boa se dirigida ao benefício
do próprio agente, tal como a satisfação de desejos irracionais – quer de si
próprio quer de si próprio quer dos outros – não constitui critério de valor
moral. A moralidade não é um concurso de caprichos.
AYN RAND - A
escritora, dramaturga, roteirista e filósofa norte-americana Alisa Zinov'yevna
Rosenbaum, ou apenas Ayn Rand (1905-1982), desenvolveu o sistema filosófico
chamado de Objetivismo por meio das suas obras A Nascente e A Revolta
de Atlas, nas quais dramatiza seu homem ideal, o produtor que vive por seu
próprio esforço e não dá nem recebe o imerecido, que honra as conquistas e
rejeita a inveja. Ela projetou uma escola de arte chamada “Realismo Romântico”,
no qual os artistas românticos realistas iriam combinar um compromisso com a
apresentação de cenas verossímeis estabelecidos em algo como o mundo real com
os ideais de um novo romantismo, que desse forma às cenas, melodias e histórias
para apresentar o caráter essencialmente heroico do homem. Em seus próprios
romances a autora desenvolveu um estilo de “realismo tendencioso” que envolveu
ricos personagens em torno de tramas centradas em princípios-chaves e ideias. Além
disso, ela criou o objetivismo que é a filosofia do
individualismo racional fundado com base de que não há nenhum objetivo moral maior
do que atingir a felicidade. Essa filosofia politicamente defende o capitalismo
laissez-faire, entendendo o
capitalismo, um governo estritamente limitado a proteger o direito de cada um a
vida, liberdade e propriedade proíbe que qualquer um inicie força contra
outros. Os heróis do objetivismo são empreendedores que criam negócios,
inventam tecnologias, criam arte e ideias, dependendo dos seus próprios
talentos e das trocas com outras pessoas independentes para alcançar seus
objetivos. É, portanto, otimista, sustenta que o universo é aberto para as
conquistas humanas e felicidade e que cada pessoa tem consigo a habilidade de
viver uma vida rica, realizada e independente. Para a autora, o Objetivismo é
um sistema completo de pensamento que demarca posições em todos os principais
campos da filosofia. É uma corrente que é contra todas as formas de relativismo
metafísico ou idealismo e sustenta que é simplesmente absurdo falar de qualquer
coisa “sobrenatural” – literalmente além ou acima da natureza. A ética objetivista
reconstrói a moralidade a partir do zero e, por outro lado, foi feito para a
era do capitalismo industrial, ensinando o que ficou claro com o enriquecimento
do ocidente: que uma harmonia de interesses existe entre indivíduos racionais,
de que o beneficio de um indivíduo não necessita advir por meio do sofrimento
de outrem. Assim, sustenta que o propósito da moralidade é definir um código de
valores de apoio a vida humana. E os valores do Objetivismo são os meios para a
conquista de uma vida feliz. Eles incluem coisas como riqueza, amor, satisfação
no trabalho, educação, inspiração artística e muito mais. A ética objetivista é
um código que honra a realização e aconselha a celebração, não a inveja, pela
grandeza. Ela honra a criatividade não só de artistas ou estudiosos, mas de
produtores em cujos ombros a civilização descansa: industrialistas e
engenheiros, investidores e inventores. Ela sustenta que qualquer trabalho é
espiritual quando pensado e feito, não importa qual a escala de realização, do trabalhador
da linha de produção ao chefe executivo da empresa, e do secretário mais
desconhecido para a estrela de cinema mais famosa. Em suma, o objetivismo
enfatiza as noções de individualismo. autossustentação e capitalismo,
preconizando o individualismo filosófico e o liberalismo econômico. Essa
filosofia possui uma base aristotélica, advogando que o ser humano é dotado de
capacidade racional e deveria observar o mundo através do único meio possível
de fazê-lo: a lógica. Este complexo filosófico é sustentando por cinco pilares:
a metafísica como realidade objetiva; a epistemologia pela razão; a ética pelo
autointeresse; a política pelo liberalismo e capitalismo; e a estética pelo
juízo de valor metafísico.
REFERÊNCIAS
RAND,
Ayn. A nascente. São Paulo: Arqueiro, 2013.
______.
A virtude do egoísmo – a verdadeira ética do homem: o egoísmo racional. São
Paulo: Ortiz, 1991.
______.
A revolta de Atlas – 3 volumes. São Paulo: Arqueiro, 2010.
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