sábado, 28 de fevereiro de 2015

UM OLHAR SOBRE O HOMEM, DE MAURÍCIO DA SILVA GOMES


MAURÍCIO DA SILVA GOMES – Conheci o graduando em Psicologia e pesquisador, Maurício da Silva Gomes, no Grupo de Pesquisa de Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva. A partir de então, todas as tardes nos encontramos antes das aulas para conversarmos sobre Psicologia, Filosofia, Literatura, Ciência, Artes e, sobretudo Nietzsche. Ontem, no meio dos nossos papos vespertinos, Maurício me chegou com duas laudas redigidas. Li, analisei e gostei. Reproduzo aqui.

UM OLHAR SOBRE O HOMEM

1

Olhe nos meus olhos, olhe fundo! E verás que ter olhos penetrantes pode ser um problema, mas ao mesmo tempo um ponto de ignição, ignição de tudo aquilo que já foi dito, falado, pensado e experimentado. Veja toda esta parafernália que acomete o homem, que acomete o ser, e o que importa se nada mudou? Dia após dia, tudo é igual, tudo se tornou igual, será que tudo isto vale a pena, sair da história para a vida, percorrer um caminho não percorrido?

2

É sábio percorrer um caminho sem saber o seu fim? Imaginemos um peixe em um rio de águas doce, o mesmo nada sem cessar, poderá o peixe imaginar a nascente, e o pior, poderá imaginar a água salgada dos mares? O homem caminha assim como o peixe nada, anda sem cessar, ele perdeu suas águas doces, atualmente caminha em direção ao salgado, ao mar.

3

Outrora pensava um sábio. — Percorri anos de minha vida e só encontrei a dor.  Então, para quê viver? E não se engane eu não sou pessimista, eu sou um realista.

4

Outrora pensava outro sábio. — Viver é uma obra de arte, eu sou uma obra de arte, nós somos obras de arte! E não se equivoque, pois esta arte não possui criador além da potência, da sua vontade de potência, da nossa vontade de potência. E quando dizeis: encontrei a dor, porém, viver na dor é mais vantajoso do que viver no nada. Assim eu te pego niilista, pois mundo é perfeito! Mas saiba que ele pode te maltratar. E o que o homem deve fazer? O homem, como tal e qual, deve se superar. Não mais querer o não querer, querer apenas se superar.

5

Outrora pensava um sábio. — O homem é como um peixe, eles não enxergam o que está além do mar, lá existe um mundo perfeito, onde não existe dor, onde todos são felizes, é o verdadeiro paraíso, pois esta vida nada mais é que um erro, sendo a vida um erro, o homem só pode sonhar com o mundo perfeito, sonhar que com a sua morte irá encontrar.

6

Outrora pensava outro sábio. — E o rebanho, aquele rebanho que pastava na história, que repetia seus erros sem cessar, o mesmo clama, clama pela vida, porém, encontra-se no cercado fechado, o rebanho encontra-se algemado. Mas todo rebanho clama pela vida, quer abandonar a história e abraçar a vida, quer abandonar a repetição, contudo, todo rebanho possui um pastor, qual é a função do pastor? Erigir novos ídolos. E o sábio que se diz realista, nada mais é que um pastor que blasfemas contra terra em nome do seu paraíso. Mais uma vez a vida é escravizada, pobres são os homens escravizados pelos ídolos! Lanço uma escolha ao homem escravizado, que escolha é esta? Digo-te: preferes viver uma vida sendo guiado(a) por uma felicidade medíocre ou, vives-te um momento descomunal onde afirmaste viver uma vida sendo guiado(a) por um sofrimento sublime? Então, reclamaste da escolha e ti jogas-te no abismo? Preferes viver o nada, além da vida? Eis então o homem de rebanho, o que se jogou no abismo, e mesmo vivendo no abismo o mesmo falava de felicidade, falava de amor. Vives do nada e do nada se originaria vossa felicidade? O rebanho pronuncia que o mundo deve ser transformado, os rebanhos clamam por transformação.

7

O que realmente deve nos importar? Uma verdade cristalizada, a ciência, a vida, felicidade, honestidade, igualdade, talvez viver a vida na vida?

8

Felicidade e sofrimento são capacidades humanas que andam lado a lado, a felicidade pressupõe alegria, nós devemos conhecer a felicidade, viver na alegria, porém, a mesma também pode ser possível através do sofrimento, a felicidade só é plena quando descobrimos que uma resistência é superada, que através da dor irá surgir à felicidade. Então, não ti jogas-te no abismo diante da dúvida? Escolheste guiar tua vida através de uma felicidade medíocre e ignoraste o sofrimento sublime? Como então haverá de viver? Eu vos digo: antes viver com a dor que viver no nada!

9

Com ou sem a dor o homem é capaz de alcançar a felicidade. Mas quem nunca sentiu dor? A capacidade de suportar e de superar a dor nos direciona para a felicidade, saber que um obstáculo existencial foi superado, quer algo melhor? Não queira! Afirme seu sofrimento como algo a ser superado, e da superação irá surgir à felicidade, não algo medíocre, e sim, algo sublime, um sofrimento sublime.


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sábado, 14 de fevereiro de 2015

NISE DA SILVEIRA


Querem transformar os doentes em normais, quando a sociedade é que está cheia de loucos.

O que interessa à psicologia é o conteúdo simbólico do trabalho alquímico e não os avanços da física que passou a admirar a profunda intuição dos alquimistas quanto ás possibilidades de transmutação da matéria.

É muito importante enfocar que o adoecer é um conjunto de fatores biológicos, psicológicos, sociais, espirituais e, também, ambientais, que formam um ser humano único, onde corpo, mente e alma é indissolúvel.

A verdade é que não somos nós que temos o complexo, o complexo é que nos tem, que nos possui. Deles depende o mal-estar ou o bem-estar da vida do individuo e está no conflito a sua origem. O complexo pode ser comparado a infecções ou tumores malignos, que se desenvolvem sem qualquer intervenção da consciência.

Necessita que o psiquiatra use vestimenta de escafandrista para mergulhar na mente do psicótico. Remédios sedam, mas não solucionam. Só o escafandrista é capaz de vasculhar o que se passa com o doente mental e após um mergulho profundo retornar à superfície, com algum achado indicativo de mistérios que habita a mente do psicótico.

É nos mitos que se acham condensadas e polidas em narrativas exemplares as imaginações criadas pela psique, quando vivencia situações típicas muito carregadas de afeto.

A alma das pessoas em sua totalidade era uma flor. E o psiquismo também poderia renascer como uma flor no sentido maior de viver, simplesmente viver.

Nem sempre é possível distinguir o médico do doente.

A psiquiatria é tão pobre de casos clínicos, principalmente os cheis de sentimento.

O inconsciente é um oceano. De vez em quando a gente pesca uma imagem.

Arte e afeto curam, muito mais do que os psicotrópicos.

A loucura está profundamente ligada ao desamor e, por isso, é preciso amor para salvar alguém da loucura.

A arte representa a mais alta atividade humana.

Aprendi mais psicologia com Machado de Assis do que em muitos textos técnicos. Ele era um profundo conhecedor da alma humana; que resta ao psicólogo fazer, ainda hoje, em relação á obra de Machado de Assis senão admirar o autor.

Estamos diante de símbolos que exprimem coisas universais.

Nunca se cure demais, gente muito curada é gente muito chata, por isso você é maravilhosa, porque conseguiu viver sua imaginação, que é a nossa realidade.

O Mito de Hórus é a história da luz divina que acaba de nascer... salvação do homem pela cultura, isto é, pela consciência.

O estudo da mitologia não será diletantismo de eruditos. Faz parte indispensável do equipamento de trabalho de todo psicoterapeuta.

O mito? Quem é que sabe? É a expressão do inconsciente, digamos assim. O mito é como uma espécie de trilha. Se você partir do mito, você chega aonde quiser.

O sonho é uma auto-representação espontânea, sob forma simbólica, da situação do inconsciente. Os sonhos revelam muitas vezes um fio dourado que liga pessoas profundamente afins e em outra oportunidade diz sorrindo que os sonhos eram como uma droga, viciavam uma pessoa, no bom sentido, é claro.

O corpo é manobrado como um robô, torturado de todas as maneiras, às vezes martirizados até o esquartajamento.

O olhar do cliente é um tesouro preciosíssimo. Sem a relação de uma pessoa para outra, não há cura possível.

A palavra paciente não deveria existir em nosso vocabulário. Esta palavra diminui a pessoa humana, colocando-a numa situação passiva, submetida ao poder do outro.

Todo mundo é uma personalidade. As pessoas geralmente vivem recobertas pela persona, que é a mascara do ator. As pessoas vivem representando com a roupa de ator.

O que caracteriza meu trabalho em psiquiatria, meu entusiasmo pela psiquiatria, meu apego ao que se chama psiquiatria é a pesquisa do mundo interno do processo psicótico. Do que se passa no mundo interno do psicótico, sem desprezar naturamente o mundo externo, porque nós vivemos simultaneamente em dois mundos, o mundo externo e o mundo interno.

Matéria e energia são a mesma coisa e, mesmo hoje, nas escolas ainda não é ensinado.

O sentido da vida está no inconsciente.

O self é o principio e o arquétipo da orientação e do sentido: nisso reside sua função criativa.

Pode-se representar a psique como um vasto oceano (inconsciente), no qual emerge pequena ilha (consciente). Na área do inconsciente desenvolvem-se as relações entre conteúdos psíquicos e o ego, que é o centro do consciente.

O estar vazio sugere que algo está faltando.

O terapeuta não deve esquecer das suas próprias feridas, da sua condição de um simples mortal, deixando a onipotência para Deus.

Todas as religiões são válidas. Na medida em que recolhem e conservam as imagens simbólicas oriundas das profundezas do inconsciente e as elaboram em seus dogmas, promovendo assim conexões com as estruturas básicas da vida psíquica. A religiosidade é suscetível de ser desenvolvida, cultivada e aprofundada, e poderá ser também negligenciada, deturpada ou reprimida.

Me assusto, porque as pessoas não são sensíveis. Uma pessoa sensível não agride. Não esqueça que todos os seres são sensíveis. Não digo só as pessoas... as plantas, os bichos. Ame as plantas, ame os bichos.

Ganhei algum dinheiro fazendo teses para psiquiatras.... uma imoralidade horrível (risos). Escrevi uma tese muito boa, eu tive uma pena enorme de entregá-la ao médico que a tinha encomendado.

Fofoca é um distúrbio do instinto, juntou duas, três pessoas, logo aparece. Tem muita coisa por baixo da fofoca: desejo de poder, desejo de roubar, desejo de riqueza, etc. O melhor será não dá atenção. Esta seria a forma de parar uma fofoca.

O que educa fundamentalmente a criança é a vida dos pais.

Quando vejo esses corruptos mentindo, com a maior desfaçatez, minha vontade é matar todos eles. Mas eu sei que isso não adiantaria nada.

Na época em que me encontrava na casa de detenção, como presa política, vi uma pequena gata dormindo. Olhava fixamente a gata um preso comum chamado Nestor... Perguntei: Nestor, porque você está olhando tão fixamente para esta gata?  Ele respondeu como um sábio: Essa gata é quem sabe tirar cadeia! Com efeito, refleti, o que importa à gata se está dormindo ao sol, no pátio da casa de detenção ou num terraço de uma bela mansão? Aprovei em várias ocasiões essa magnífica lição de Nestor.

Minha cor predileta é o azul. E para surpresa minha, uma cor de que eu não gostava e passei a gostar, não sei se por causa de Artaud, Van Gogh, Carlos Pertuis, é o amarelo. O Sol.

O bicho gente é pouco confiável. Prefiro os animais, os gatos, principalmente por sua liberdade. Identifico-me com eles.

Os gatos são seres perfeitos, velos, garbosos, sensuais, ensimesmados e capazes de nos ensinar a liberdade.

Quero vadiar como uma borboleta.

Prefiro ser uma loba faminta a ser um cão gordo e encoleirado. A palavra que mais gosto é liberdade. Gosto do som desta palavra.

Meus defeitos são tantos que até as minhas virtudes são defeituosas.

Eu não sou uma pessoa que tenha muita bossa histórica, a minha bossa é para o futuro. Tenho em meus arquivos material relativo ao passado, mas raramente uso. Eu nunca seria uma historiadora... se bem que me parece que não se pode tomar pé de um espaço sem antes conhecer algo da história desse espaço.

A morte não é uma coisa terrível, é dançável e alegre.

A pessoa que resiste à morte, quando chega o tempo de morrer, vai virar neurótica, e proporcionando a si próprio um morrer desesperado.

Não me leve para hospital, porque lá eu morro. Eu vou para outras galáxias.

NISE DA SILVEIRA – O livro Nise: abecedário de uma libertadora, de Dídimo Otto Kummer, traz em forma de verbetes toda a trajetória de vida da médica psiquiatra e psicoterapeuta alagoana, Nise da Silveira (1905-1999). Ela estudou com Carl Jung e desenvolveu uma atividade com doentes mentais que foi reconhecida internacionalmente. Durante a Intentona Comunista, ela foi denunciada por uma enfermeira por posse de livros marxista, ficando no presídio onde se encontravam, entre outros, Graciliano Ramos e Olga Benário. Entre as suas obras estão Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil (Salvador: Imprensa Oficial do Estado, 1926); Jung: vida e obra (José Álvaro, 1968), Terapêutica ocupacional: teoria e prática (Casa das Palmeiras, 1979), Museu de Imagens do Inconsciente (MEC, 1980), Imagens do inconsciente (Alhambra, 1981), Casa das Palmeiras: a emoção de lidar (Alhambra, 1986), Artaud: a nostalgia do mais (Numem, 1989), A farra do boi: do sacrifício do touro na antiguidade à farra do boi catarinense (Nume/Espaço Cultural, 1989), O mundo das imagens (Ática, 1992), Cartas a Spinoza (Francisco Alves, 1995) e Gatos, a emoção de lidar (Leo Cristiano, 1998). Entre os seus feitos, em 1952 ela fundou no Rio de Janeiro o Museu da Imagem do Inconsciente, na condição de centro de estudo e pesquisa destinado à preservação dos trabalhos produzidos nos estúdios de modelagem e pintura, abrindo novas possibilidades para compreensão mais profunda do universo interior do esquizofrênico. Em 1956, ela criou a Casa das Palmeiras, uma clínica voltada à reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas. Nessa instituição tornou-se pioneira com o tratamento de seus pacientes contando com auxílios de animais na condição de co-terapeutas. O cineasta Leon Hirszman realizou o filme Imagens do inconsciente, uma trilogia mostrando as obras realizadas pelos internos a partir de um roteiro de Nise. Por fim, com direção de Roberto Berlinder, foi lançando o filme Nise da Silveira – A senhora das imagens, protagonizado pela atriz Glória Pires. Dos seus relacionamentos pessoas surgiram vários apelidos e entre os seus cognomes estão de amiga dos animais, arquétipa, bandeirante, barulhenta, caralâmpia, cangaceira, desbravadora, Deusa Bastet, especial, feiticeira, Gata Nise, Gatilda, gênio do cotidiano, gênio vivo, gigante de metroemeio, grande alma, grande mãe, guerreira, humanista, leite de onça, luminosa, mãe caralâmpia, mulher do século, psiquiatra mor, Rui Barbosa de saia e Sofia tupiniquim.

REFERÊNCIAS
KUMMER, Dídimo Otto. Nise: abecedário de uma libertadora. Maceió: Catavento, 2004.


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sábado, 7 de fevereiro de 2015

EU E TU, DE MARTN BUBER


[...] O homem aspira possuir Deus; ele aspira por uma continuidade da posse de Deus no espaço e no tempo. Ele não se contenta com a inefável confirmação do sentido, ele quer vê-la difundida como um continuo, sem interrupção espacio-temporal que lhe forneça uma segurança a sua vida, em cada ponto, em cada momento. Tão  intensa e sua sede de continuidade que o homem não se satisfaz com o ritmo vital da relação pura onde se alternam atualidade e latência, onde e nossa forca de relação que diminui, por isso, a presença, e não a presença originaria. Ele aspira a extensão temporal, a duração. Deus se torna um objeto de fé. Originariamente a fé completa, no tempo, os atos de relação e, gradualmente, ela os substitui. [...] Deus se torna deste modo, um objeto de culto. O culto, também completa, originariamente, os atos de relação, na medida em que insere a oração viva, o dizer-Tu imediato em um conjunto espacial de grande poder de ima- a graça, reflete sobre aquele que concede este dom e assim não atinge nem um nem outro. Na experiência da vocação. Deus e para ti a presença. Aquele que, em missão, percorre o caminho, tem Deus diante de si; quanto mais fiel o cumprimento da missão, mais intensa e constante a proximidade. Ele não pode, sem duvida, ocupar-se de Deus, mas pode entreter-se com ele. A reflexão ao contrario, faz de Deus um objeto. O seu movimento, que aparentemente o faz dirigir-se para o fundamento originário, não passa, na verdade, de um aspecto do movimento universal de afastamento. Do mesmo modo o movimento, que aparentemente realiza aquele que cumpre sua missão, ao afastar-se dele, pertence, na realidade, ao movimento universal de aproximação. Pois estes dois movimentos fundamentais, metacosmicos: a expansão para o próprio ser e a conversão para o vinculo, encontram sua mais alta forma humana, a verdadeira forma espiritual de seu confronto e de sua conciliação, de sua composição e separacao1 1 na historia do contato humano com Deus. Na conversão, o Verbo nasce sobre a cerra, na expansão, ele se transforma e se encerra na crisálida da religião, em uma nova conversão, ele renasce com asas renovadas. Aqui não reina o arbitrário; embora o movimento para o Isso vai, as vezes, tão longe a ponto de oprimir e ameaçar, sufocar o movimento de retorno ao Tu. As poderosas, revelações que as religiões invocam, se assemelham fundamentalmente as revelações silenciosas que se passam em todo tempo e lugar. As revelações poderosas que estão na origem das grandes comunidades, nos movimentos de transição das etapas da humanidade, nada mais são do que eterna revelação. A revelação, no entanto, não é derramada sobre o mundo através de seu destinatário, como se o fosse através de um funil; ela chega a ele, ela o toma em sua totalidade, em todo o seu modo de ser e se amalgama a ele. Também  o homem, que e a “boca", e exatamente a boca e não um porta-voz, não e um instrumento, mas um órgão que soa segundo suas próprias leis e soar e transformar. Ha todavia, uma diferença qualitativa entre as etapas da historia. Ha uma maturação do tempo, onde o elemento verdadeiro do espírito humano, oprimido e soterrado, amadurece para a disposição, sob tal pressão e em tal tensão que, ele só espera um toque daquele cujo contato produz o surgimento. A revelação, que ai se produz envolve na totalidade de sua constituição, ela o funde e imprime nele uma forma, uma nova forma de Deus no mundo. E assim pois, que, ao longo do caminho da Historia, através das transformações do elemento humano, são chamados a forma divina sempre novos domínios do mundo e do espírito. Esferas sempre novas tornam-se o lugar da teofania. O que aqui atua não e mais o poder próprio do homem, também não e a pura passagem de Deus, e uma mistura de divino e humano. Aquele a quem na revelação, foi confiada uma missão, leva em seus olhos uma imagem de Deus — por mais supra sensível que seja, ele leva nos olhos de seu espírito, nesta forca visual de seu espírito não e de modo algum, metafórico, mas plenamente real. O espírito, por sua vez, responde também através de uma visão, através de uma visão formadora. Embora nos, terrestres, não percebamos jamais Deus sem o mundo, mas só o mundo em Deus, ao percebermos, criamos eternamente a forma de Deus. A forma também e uma mistura de Tu e Isso; ela pode solidificar-se em um objeto de fé e de culto; porem em virtude da essência da relação que subsiste nela, ela se transforma sempre em presença. Deus e próximo de suas formas, enquanto o homem não se afasta delas. Na verdadeira prece, o culto e a fé se unem e se purificam para a relação viva. O fato de a verdadeira prece permanecer viva nas religiões e o sinal de sua verdadeira vida; enquanto vivem nela, elas permanecem vivas. A degeneração das religiões significa a degeneração da prece nelas. Na medida em que o poder de relação e cada vez mais encoberto pela objetividade, torna-se cada vez mais difícil de nelas pronunciar o Tu com o ser total e indiviso, e o homem, para poder fazê-lo, e finalmente sair de sua falsa segurança para a aventura do infinito, sair da comunidade reunida somente sob a cúpula do templo e não sob o firmamento para projetar-se para a ultima solidão. Atribuir este anseio ao subjetivismo e desconhece-lo profundamente; a vida diante da Face e a vida na atualidade única, o único “objectivum" verdadeiro; e o homem que se projeta para este fim quer, antes que o falso e ilusório objetivo tenha perturbado a sua verdade, refugiar-se naquele que e realmente. Enquanto, o subjetivismo absorve Deus na alma, o objetivismo faz dele um objeto; este e uma falsa segurança aquele uma falsa libertação; ambos são desvios do caminho da atualidade, ambos são tentativas de substituição da atualidade. Deus e próximo de suas formas, enquanto o homem não as afasta d’Ele. Porem, quando o movimento de expansão das religiões dificulta o movimento de conversão e afasta a forma de Deus, apaga a face da forma, seus lábios desfalecem, suas mãos caem, Deus não a conhece mais e a morada universal, construída em volta de seu altar, o cosmos humano cai em ruínas. Que o homem, diante de sua verdade destruída, não veja mais o que ai aconteceu e próprio do acontecimento. Aconteceu a decomposição da Palavra. A Palavra esta presente na revelação, ela age na vida da forma e seu valor esta no reino da forma morta. Tal e a ida e a vinda da Palavra eterna e eternamente presente na historia. As épocas nas quais a palavra esta presente, são aquelas onde se renova o contato do Eu e do mundo. As épocas onde reina a Palavra ativa são aquelas nas quais perdura o acordo entre o Eu e o Mundo. As épocas nas quais a Palavra se torna valida são aquelas nas quais se realizam a desatualização, a alienação entre o Eu e o Mundo, a fatalidade do devir — ate que sobrevenha o grande tremor e a suspensão do alento na obscuridade, e o silencio preparador. A estrada não e, porem, circular. Ela e o caminho. Em cada novo Eon, a fatalidade se torna mais opressora, a conversão mais assoladora. E a teofania se torna cada vez mais próxima, ela se aproxima sempre mais da esfera entre seres, se aproxima do reino que se oculta no meio de nos, no "entre”. A historia e uma aproximação misteriosa. Cada espiral do caminho nos conduz igualmente a uma perdição mais profunda e a uma conversão mais originaria. Porem o evento que do lado do mundo se chama conversão, do lado de Deus, se chama redenção.

EU E TU – O livro Eu e tu, do filósofo e escritor judeu Martin Buber (1878-1965) traz reflexões que expressam seu pensamento religioso e que abrange vários campos, filosofia e sociologia, sionismo e hassidismo, exegese da literatura bíblica, traduções, ensaios, ao lado da influencia do misticismo alemão e de sua passagem pelo socialismo religioso. O autor defende a reconciliação entre atitudes científicas modernas e experiências religiosas e influenciou pensadores de várias corrente filosóficas, com a sua doutrina filosófica explorando a aplicação do método de eu e tu – que denomina princípio dialogal – aos problemas da comunidade e da educação. Utiliza o mesmo método para interpretação da Bíblia, concebendo o relacionamento entre Deus e Israel como o exemplo, em escala nacional, dessa relação dialogal. Para ele, Deus se manifesta ao homem e este se apropria da palavra Deus – o que significa um encontro existencial. A fé religiosa, segundo ele, é um diálogo entre o homem e Deus; essa formula eu-tu influenciou profundamente a teologia cristã contemporânea. Observa-se que a intersubjetividade compreende que o homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante, ou seja, a relação entre sujeito e sujeito, ou ainda, sujeito e objeto, envolvendo diálogo, o encontro e a responsabilidade, entre dois sujeitos e a relação entre sujeito e objeto.

REFERÊNCIA
BUBER, Martin. Eu e tu. São Paulo: Moraes, 1974.


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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

TEORIAS DA PERSONALIDADE


TEORIAS DA PERSONALIDADE – O livro Teorias da personalidade: da teoria clássica à pesquisa moderna, de Howard Friedman e Miriam Schustack, trata de temas como a personalidade e a ciência, apresentação preliminar das perspectivas, uma breve história da psicologia da personalidade, o teatro e auto-representação, religião, biologia evolucionista, avaliação, teoria moderna, inconsciente, self, singularidade, gênero, circunstancias, cultura, personalidade de acordo com o contexto, como a personalidade é estudada e avaliada, medindo a personalidade, tendenciosidade, variedade de medidas da personalidade,o plano de pesquisa, a ética da avaliação da personalidade, a perspectiva psicanalítica, as perspectivas neoanaliticas e a identidade, perspectivas biológicas, behaviorista. Perspectivas cognitivas e sociocognitivas, traço e habilidade, perspectiva humanista e existencial, perspectiva interacionista pessoa-situação, diferenças entre homens e mulheres, estresse, adaptação, diferenças de saúde, diferenças culturais e étnicas, amor e ódio, as oito perspectivas, entre outros assuntos.



TEORIAS DA PERSONALIDADE – O livro Teorias da personalidade, de Jess Feist e Gregory J. Feist, aborda a introdução definindo o que é personalidade e o que é teoria, a psicanálise de Freud, níveis da vida mental, instancias da mente, dinâmica da personalidade, mecanismos de defesa, estágios de desenvolvimento, a psicologia individual de Adler, a psicologia analítica de Jung, a teoria das relações de Klein, a teoria de Horney, a psicanálise de Fromm, a teoria interpessoal de Sullivan, a teoria de Erikson, as teorias humanistas e existenciais, a teoria holística de Maslow, a teoria centrada de Rogers, a psicologia existencial de May, teorias disposicionais, a psicologia do individuo de Allport, a teoria de Eysenc & McCrae & Costa, teorias da aprendizagem, a análise comportamental de Skinner, a teoria sociocognitiva de Bandura, a teoria de Rotter e Mischel, a psicologia dos constructos de Kelly, entre outros assuntos. 


TEORIAS DA PERSONALIDADE – O livro Teorias da personalidade, de James Fadiman e Robert Frager, trata de assuntos como a psicanálise de Freud, a psicologia analítica de Carl Jung, a psicologia individual de Alfred Adler, a psicologia do corpo de Wilhelm Reich, a gestalt-terapia de Perls, a psicologia da consciência de William James, o behaviorismo radical de Skinner, a perspectiva centrada no cliente de Rogers e a psicologia da auto-realização de Maslow, as teorias orientais da personalidade, zen-budismo, ioga e a tradição hindu, sufismo, entre outros assuntos.

REFERÊNCIAS
FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da personalidade.São Paulo: Harbra, 2002.
FEIST, Jess; FEIST, Gregory. Teorias da personalidade. São Paulo: Mcgraw-Hill, 2008.
FRIEDMAN, Howard; SCHUSTACK, Miriam. Teorias da personalidade: da teoria clássica à pesquisa moderna. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

CAPSI MARTIN-BARÓ


CAPSI MARTIN-BARÓ – Realizou-se nesta quarta, dia 04/02, a primeira reunião do ano letivo do Centro Acadêmico de Psicologia CAPSI Martin Baró, ocasião em que foram debatidos diversos assuntos, entre eles, o da realização da Assembleia Geral marcada para o dia 11 de fevereiro, próxima quarta, no auditório de Direto. Além disso, foram debatidos sobre a realização de Cineclube aos sábados, da realização de Grupos de Estudo e da realização de Palestras. Os debates prosseguirão com a realização da assembleia, quando serão definidos diversos dos temas abordados.


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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

RELIGIÃO, PSICOPATOLOGIA & SAÚDE MENTAL


RELIGIÃO, PSICOPATOLOGIA & SAÚDE MENTAL – O livro Religião, Psicopatologia & Saúde Mental, de Paulo Dalgalarrondo, trata de temas como do coletivo ao individual acerca da temática, o fenômeno sociocultural e a experiência psicopatológica, religião em uma certa tradição, a definição do fenômeno religioso, campos semânticos, religião e religiosidade, espiritualidade, fé, mística e magia, formadores do campo teórico sob a observação da sociedade e a cultura, foco no individuo, a psicologia da religião, a psicologia empírica, o curso da vida, os grupos etários, o gênero, a neuropsicologia da religião, o cérebro e a experiência religiosa, religião e personalidade, identidade e noção de pessoa, as matrizes religiosas brasileiras, as várias religiões, a porosidade do campo religioso no Brasil, psicopatologia e religião, loucura e religião, melancolia e loucura religiosa, Kraepelin, De Sanctis, Schneider, Jaspers, o delírio religioso, a distinção entre fenômenos religiosos e psicopatológicos, psicopatologia do religioso na contemporaneidade, saúde física e religião, pesquisa médicas e epidemiológicas, religião e depressão, religião e suicídio, religião e outros transtornos mentais, religião e esquizofrenia, bem estar, qualidade de vida e rede de apoio social, aspectos negativos da religião sobre a saúde mental, avaliação geral da pesquisa sobre saúde mental e religião, estudo sobre religião e saúde mental de relevância histórica e estudos contemporâneos, balanço entre teoria e investigação empírica no campo da saúde mental e religião, limitações de estudos e sinopses dos estudos empíricos, a complexidade dos contextos, a religião como sistema privilegiado de constituição de sentido e ressignificação do sofrimento, a aflição e demanda da religiosidade brasileira, entre outros assuntos.

REFERÊNCIA
DALGALARRONDO, Paulo. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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