quarta-feira, 10 de junho de 2015

PSICOPATOLOGIA & VONTADE, PSICOMOTRICIDADE E SUAS ALTERAÇÕES


VONTADE – Segundo Dalgalarrondo (2008), a vontade é uma dimensão complexa da vida mental, relacionada intimamente com as esferas instintiva, afetiva e intelectiva que envolve aaliar, julgar, analisar, decidir, bem como o conjunto de valores, princípios, hábitos e normas socioculturais do invidiuo. Não é ponto pacífico se a vontade depende mais da esfera instintiva, de forças inconscientes, da esfera afetiva, de valores culturais ou de componentes intelectuais conscientes. Alguns autores identificam a vontade ao desejo consciente ou inconsciente.

O INSTINTO – Para Dalgalarrondo (2008), é definido como um modo relatyivamente organizado, fixo e complexo de resposta comportamental de determinada espécie, que, por meio dela, pode sobreviver melhor em seus ambiente natural.
A pulsão, para a psicanálise, é o conjunto de elementos inatos, inconscientes, de origem parcialmente biológica e parcialmente psicológica, que movem o sujeito em direção à vida ou à morte.

DESEJO - Dalgalarrondo (2008) define que é um querer, um anseio, um apetite, de natureza consciente ou inconsciente, que visa sempre algo, que busca sempre a sua safisfação.
Os desejos diferenciam-se das necessidades, pois estas são fixas e inatas, independentes da cultura e da historia individual, enquanto aqueles são móveis, moldados e transformados social e historicamente.
A inclinação, por sua vez, é a tendência a desejar, buscar, gostar, entre outros, intimamente relacionada à personalidade do individuo, duradoura e estável, que inclui tantos aspectos afetivos como volitivos. Trata-se de algo constitutivo do individuo e é, em certa proporção, de natureza genética.

ATO VOLITIVO OU DE VONTADE – O ato volitivo ou de vontade, segundo Dalgalarrondo (2008). É traduzido pelas expressões típicas do eu quero ou eu não quero, que caracterizam a vontade humana sensu strictu.
Os motivos, ou razões intelectuais que influem no ato volitivo, dos móveis, ou influencias afetivas atrativas ou repulsivas que pressionam a decisão volitiva para um lado ou para outro.
O ato volitivo se dá, de forma geral, como um processo, o chamado processo volitivo, no qual se distinguem quatro etapas ou momentos fundamentais e em geral cronologicamente seguidos.

FASES DO PROCESSO VOLITIVO – A fase de intenção ou proposito, no qual, segundo Dalgalarrondo (2008), se esboçam as tendências básicas do individuo, suas inclinações e interesses.
A fase da deliberação diz respeito à ponderação consciente, levando-se em conta tanto os motivos como os moveis implicados no ato volitivo. É um momento de apreciação, consideração dos vários aspectos e das implicações de determinada decisão.
A fase de decisão propriamente dita é o momento culminante do processo volitivo, instante que demarca o começo da ação, no qual os moveis e os motivos vencidos dão lugar aos vencedores.
A fase de execução constitui a etapa final do processo volitivo, na qual os atos psicomotores simples e complexos decorrentes da decisão são postos em funcionamento, a fim de realizar e consumar aquilo que mentalmente foi decidido e aprovado pelo individuo.
O ato de vontade pautado por essas quatro fases, em que ponderação, analise e reflexão precedem a execução motora, é denominado ação voluntária.

ALTERAÇÕES DA VONTADE – A hiperbulia ou abulia, para Dalgalarrondo (2008), o individuo refere que não tem vontade para nada, sente-se muito desanimado, sem forças, sem pique. A abulia não se confunde com a ataraxia, que é um estado de indiferença volitiva e afetiva desejada e buscada ativamente pelo individuo. Trata-se aqui do estado de imperturbabilidade almejada por místicos, ascetas e filósofos da chamada escola estoica.

ATOS IMPULSIVOS E COMPULSIVOS - O ato impulsivo, segundo Dalgalarrondo (2008), abole abruptamente as fases de intenção, deliberação e decisão, em função tanto da intensidade dos desejos ou temores inconscientes como da fragilidade das instancias psíquicas implicadas na reflexão, na analise, na ponderação e na contenção dos impulsos e dos desejos. O ato impulsivo apresenta as seguintes características: é realizado sem fase previa de intenção, deliberação e decisão; é realizado, de modo geral, de forma egossintomica, quando o individuo não percebe tal ato como inadequado, não tenta evita-lo e considerando ser o ato impulsivo frequentemente não é contrário aos valores morais e desejos de quem o pratica; é geralmente associado a impulsos patológicos ou à incapacidade de tolerância à frustração e necessária adapatação à realidade objetiva sendo que, dessa forma, o individuo dominado pelo ato impulsivo tende a desconsiderar os desejos e as necessidades das outras pessoas.
O ato compulsivo ou compulsão, para Dalgalarrondo (2008), difere do ato impulsivo por se reconhecido pelo individuo como indesejável e inadequado, assim como pela tentativa de refreá-lo ou adiá-lo. A compulsão é geralmente uma ação motora complexa que pode envolver desde atos compulsivos relativamente simples, como coçar-se, picar-se, arranhar-se, até rituais compulsivos complexos, como tomar banho de forma repetida e muito ritualizada, lavar as mãos e secar-se de modo estereotipado, por inúmeras vezes seguidas, entre outros.
Os atos e os rituais compulsivos, segundo Dalgalarrondo (2008), apresentam característica como vivência frequente de desconforto subjetivo por parte do individuo que realiza o ato compulsivo; são egodistônicos e experienciados como indesejáveis, contrários aos valores morais e anseios de quem os sofre; tentativa de resistir ou adiar à realização do ato compulsivo; sensação de alívio ao realizar o ato, alívio de que logo é substituído pelo retorno do desconforto subjetivo e pela urgência em realizar novamente o ato compulsivo; ocorrem frequentemente associados a ideias obsessivas, muito desagradáveis, representando tentativas de neutralizar tais pensamentos.

TIPOS DE IMPULSOS E COMPULSÕES PATOLÓGICAS – Os impulsos e compulsões agressivas auto ou heterodestrutivas, segundo Dalgalarrondo (2008), são automutilação e frangofilia.
A automutilação é o impulso ou compulsão seguido de comportamento de autolesão voluntária. São pacientes que produzir escoriações na pele e nas mucosas, furam braços com pregos e pedaços de vidro, arrancam os cabelos (tricotilomania), entre outras, e são leves e moderadas quando observadas em individuos com transtorno da personalidade bordeline, naqueles com transtorno obsessivo-compulsivo e em alguns deficientes mentais.
A frangofilia é o impulso patológico de destruir os objetos que circundam o individuo. Está associado geralmente a estados de excitação impulsiva intensa e agressiva.
A piromania é o impulso de atear fogo a objetos, prédios, lugares, e ocorre principalmente em indivíduos com transtornos da personalidade.
Os impulsos e compulsões relacionados à ingestão de substancia ou alimentos possui o uso do agente psicotiavo que se caracteriza por grande impulsividade.
A dispsomania ocorre como impulso ou compulsão periódica para ingestão de grandes quantidades de álcool. O individuo bebe seguidamente até ficar inconsciente; a crise é superada, voltando o paciente à situação anterior, havendo geralmente amnesia retrograda para o ocorrido.
A bulimia é o impulso irresistível de ingerir rapidamente grande quantidade de alimentos, muitas vezes doces e chocolates, em geral como ataque à geladeira. Após a ingestão rápida o paciente bulímico sente-se culpado, com medo de engordar e induz vômitos ou toma laxativos.
A potomania é a compulsão de beber água ou outros líquidos sem que haja sede exagerada. Difere da polodipsia em que o individuo sente sede exagerada geralmente devido a alterações metabólicas em seu organismo.
Os atos e compulsões relacionados ao desejo e comportamento sexual foram classificados e descritos como perversões sexuais, preferindo-=se atualmente os termos atos impulsivos e compulsões sexuais.
O fetichismo é o impulso e o desejo sexual concentrado em partes da vestimenta ou do corpo da pessoa desejada.
O exibicionismo é o impulso de mostrar os órgãos genitais, geralmente contra a vontade da pessoa que observa. O ato de mostrar já é suficiente para o individuo obter prazer; ele não busca o contato sexual direto com a pessoa para a qual se exibe.
O voyeurismo é o impulso de obter prazer pela observação visual de uma pessoa que está tendo relação sexual, ou simplesmente está nua ou se despindo.
A pedofilia é o desejo sexual por crianças ou púberes do sexo oposto; a pederastia é o desejo sexual por crianças ou adolescentes do mesmo sexo.
A gerontofilia é o desejo sexual por pessoas consideravelmente mais velhas.
A zoofilia ou bestialismo é o desejo sexual dirigido a animais.
A necrofilia ou vampirismo é o caso de desejo sexual por cadáveres.
A coprofilia é a busca do prazer com uso de excrementos no ato sexual.
A ninfomania é o desejo sexual quantitativamente muito aumentado na mulher e a satiríase, em nível muito aumentado no homem.
Esses aumentos patológicos do desejo sexual ocorrem principalmente em indivíduos em fase maniacal de transtorno bipolar. Não é rara a compulsão à masturbação, vivenciada como intensa necessidade de realizar atividade masturbatória repetitiva, até mesmo praticada com desprazer.
Outros impulsos e compulsões são identificados como Poriomania que é o impulso e o comportamento de andar a esmo, viajar, desaparecer de casa, ganhar o mundo.
A cleptomania ou roubo patológico é o ato impulsivo ou compulsivo de roubar, precedido geralmente de intensa ansiedade e apreensão, que apenas se alivia quando indivíduo realiza o roubo.
A compulsão por comprar é um tipo de compulsão em que o individuo sente necessidade premente de compra objetos de forma compulsiva, sem observar a utilidade e sem ter necessidade ou poder utilizar adequadamente. No momento em que realiza a compra, sente um certo alivio, que geralmente é de curta duração, seguindo-se de sentimentos de culpa e arrependimento.
O negativismo é a oposição do individuo às solicitações do meio ambiente.
A sitiofobia é a recusa sistemática de alimentos, geralmente revelando negativismo profundo. O termo também é utilizado para designar a recusa de alimentos associada a quadros delirantes persecutórios (delírio de envenenamento) ou depressivos graves.
A obediência automática é o oposto do negativismo, quando o individuo obedece automaticamente como um robô teleguiado, às solicitações de pessoas que entrem em contato.
Os fenômenos em eco, ecopraxia, ecolalia, ecomimia e ecografia, o indivíduo repete de forma automática, durante a entrevista, os últimos atos do entrevistador, suas palavras ou silabas, reações mímicas ou escrita. Esses fenômenos revelam acentuada perda do controle da atividade voluntária e sua substituição por atos automáticos, sugeridos pelo ambiente circundante.
O automatismo refer-se aos sintomas psicomotores, como movimentos de lábios, língua e deglutição, abotoar/desabotoar a roupa, deambular a esmo, associados à crise epiléptica do tipo parcial complexa, na qual já alteração do nível de consciência, geralmente acompanhada de automatismos psicomotores. O automatismo psíquico representa o surgimento de pensamentos, representações, lembranças e comportamentos apenas muito precariamente controlados pela atenção voluntária e pelos desejos conscientes. O automatismo mental refere-se a fenômenos psíquicos sentidos pelo paciente, mas não reconhecidos por ele como provindo de sua personalidade por atribui-los a uma ação externa.

AS ALTERAÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE – Para Dalgalarrondo (2008), assim como o ato motor é componente final do ato volitivo, as alterações psicomotoras frequentemente são expressão final de alterações da volição.
A agitação psicomotora é uma das mais comuns, implicando a aceleração e exaltação de toda a atividade motora do individuo, em geral secundária a taquipsiquismo acentuado. Comumente se associa à hostilidade e à heteroagressividade. A agitação psicomotora é um sinal psicopatológico muito frequente e relativamente inespecífico, sendo vista todos os dias nos serviços de emergencia e internação.
A lentificação psicomotora reflete a lentificação de toda a atividade psíquica, bradipsiquismo. Toda a movimentação voluntária torna-se lenta, difícil, pesada, podendo haver período de latência entre uma solicitação ambiental e a resposta motora do paciente.
O estupor é a perda de toda a atividade espontânea que atinge o individuo globalmente, na vigência de um nível de consciência aparentemente preservado e de capacidade sensório-motora para reagir ao ambiente.
A catalepsia é um acentuado exagero do tônus postural, com grande redução da mobilidade passiva dos vários segmentos corporais e com hipertonia muscular global de tipo plástico.
A cataplexia é a perda abrupta do tônus muscular, geralmente acompanha de queda ao chão.
Estereotipias motoras são repetições automáticas e uniformes de determinado ato motor complexo, indicando geralmente marcante perda do controle voluntário sobre a esfera motora. O paciente repete o mesmo gesto com as mãos dezenas ou centenas de vezes em um mesmo dia. Observam-se estereotipias motoras na esquizofrenia, sobretudo nas formas crônicas e catatônicas, assim como na deficiência mental.
Os tiques são atos coordenados, repetitivos, resultantes de contrações súbitas, breves e intermitentes, envolvendo geralmente um grupo de músculos que atua em suas relações sinérgicas normais. Acentuam-se muito com a ansiedade. Os tiques geralmente são reflexos condicionados, os quais surgiram associados a determinados estímulos emocionais ou físicos, mantendo-se forma estereotipada, como um movimento involuntário.
Na conversão há o surgimento abruto de sintomas físicos, como paralisias, anestesias, parestesias, cegueiras, de origem psicogênica. A conversão motora ocorre geralmente em situação estressante, de ameaça ou conflito intrapsíquico ou interpessoal significativos para o individuo. Segundo a teoria psicanalítica, a conversão expressa a representação simbólica de um conflito psíquico em termos de manifestações motoras ou sensoriais. A conversão ocorre sobretudo na histeria e no transtorno da personalidade histriônica.

REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PAIM, Isaías. Curso de psicopatologia. São Paulo: EPU, 1993.


Veja mais aqui