sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

NOMES-DO-PAI, DE JACQUES LACAN


[...] Num desses debates confusos durante os quais um grupo, o nosso, mostrou-se verdadeiramente em sua função de grupo, arrastado, daqui, dali, por turbilhões cegos, um de meus alunos - peço-lhe desculpas por ter depreciado seu esforço, que seguramente teria sido capaz de carregar um eco e reconduzir a discussão a um nível analítico – achou por bem dever dizer que o sentido do meu ensino seria que a verdade, sua verdadeira apreensão, é que não a agarraremos jamais. lnacreditável contrassenso! No melhor dos casos, que impaciência infantil! É preciso que eu tenha pessoas consideradas cultas não sei por que entre aqueles que estão mais imediatamente ao alcance de me seguir! Onde já se viu uma ciência, ainda que matemática, em que cada capítulo não remeta ao capítulo seguinte? Seria isso justificar uma função metonímica da verdade? Não vêem que, à medida que eu avançava, continuava a me aproximar de certo ponto de densidade aonde vocês não poderiam chegar sem os passos precedentes? Ouvindo uma réplica dessas, não dá vontade de invocar os atributos da vaidade e da tolice, espécie de espírito em forma de casca, que recolhemos em operação nos comitês de redação? Dessa práxis que é a análise, tentei enunciar como a busco, como a agarro. Sua verdade é movediça, decepcionante, escorregadia. Vocês não conseguem compreender que é porque a práxis da análise deve avançar em direção a uma conquista da verdade pela via do engano? Pois a transferência não é outra coisa, a transferência como o que não tem Nome no lugar do Outro. Há muito tempo, o nome de Freud torna-se cada vez mais inoperante. Então, se minha marcha é progressiva, se é até mesmo prudente, não será porque devo lhes alertar contra o declive onde a análise arrisca-se sempre a escorregar, quer dizer, a via da impostura? Não estou aqui num libelo a meu favor. No entanto, devo dizer que, ao ter confiado a outros há dois anos o manejo, no seio do grupo, de uma política - para preservar o espaço e a pureza do que tenho a lhes dizer -, nunca, em momento algum, dei-lhes pretexto para acreditar que para mim não havia diferença entre o sim e o não.


NOMES-DO-PAI – A obra Nomes-do-pai, de Jacques Lacan, trata na primeira da parte a respeito do símbolo, o imaginário e o real, O Homem dos Lobos e o Homem dos Ratos, a experiência analítica, o simbolismo, a função da linguagem, o neurótico, Freud e o horror do gozo ignorado, a fala e o imaginário, a angústia, a imaginação e a imagem. Na segunda parte, Introdução aos nomes-do-pai, trata sobre Hegel, Marx, Kierkegaard, Agostinho, o Aleph da angústia, Freud e o mito do pai e o sacrifício de Isaac de Caravaggio.

REFERÊNCIA
LACAN, Jacques. Nomes-do-pai. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

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